Está numa situação de emprego tóxico, mas é-lhe difícil virar as costas e sair? Veja aqui os motivos (e o que fazer)

Já se viu num emprego mau, mas não conseguiu sair? Seja uma experiência de mau ambiente, um gestor tóxico, políticas desfavoráveis aos colaboradores, ou demissões contínuas que criam stress e ansiedade. Provavelmente permaneceu nesse emprego, durante anos, mesmo sabendo que não era saudável. A Harvard Business Review partilha cinco razões que tornam difícil deixar um mau emprego e o que fazer a esse respeito.

 

Eis cinco motivos que dificultam a saída de um emprego tóxico. Leia atentamente e veja como pode actuar.

Sentimento de lealdade

Trabalhar numa empresa por muito tempo pode criar um sentimento de lealdade à organização e aos membros da equipa. Marlo Lyons, coach de carreira e escritor premiado, conta a história de uma cliente que trabalhou mais de 15 anos num escritório de advogados e esperava tornar-se partner. Até que descobriu que foi rejeitada. Porém, mesmo com uma proposta de outra empresa na qual seria partner, foi difícil tomar a decisão de sair. No final, pesou na balança a sua lealdade à empresa versus a lealdade da empresa para com ela, o que a ajudou a decidir aceitar a oferta da outra empresa.

O que fazer?

O primeiro passo é reconhecer que as empresas contratam um profissional para usar as suas competências e capacidades para fornecer um serviço. Se esse profissional não aportar mais o valor que a empresa espera ou se a empresa mudar os seus objectivos e as suas competências deixarem de ser necessárias, a empresa irá dispensá-lo.

Agora, inverta essa lógica. Analise o seu papel na empresa, considerando o que precisa para se sentir realizado e valorizado no seu trabalho. Determine se a empresa agrega à sua vida o valor que precisa e merece.

Algumas perguntas que deve fazer a si mesmo:

  • A empresa está a proporcionar-me benefícios e oportunidades de desenvolvimento que irão melhorar a minha carreira e a minha vida?
  • As políticas da empresa incluem as minhas necessidades específicas?
  • A empresa reconhece o valor que aporto com um aumento salarial, uma promoção, parceria ou algum outro reconhecimento importante para mim?

Todos os relacionamentos empresa-colaborador envolvem lealdade e comprometimento de ambos os lados, não apenas atingir metas e receber um salário.

 

Uma obrigação forçada

Quando se começa a trabalhar numa empresa, todos trabalham em prol de uma missão ou objectivo comum. Se a empresa tem uma missão justa, como ajudar as pessoas a serem saudáveis, bem-sucedidas, felizes ou a proteger o planeta, os colaboradores sentem que estão a contribuir para o bem maior da humanidade ou do mundo. Decidir sair da empresa pode parecer egoísmo ou até traição, como se tivesse “desistido” da missão colectiva.

Mesmo que a empresa não esteja a causar grandes impactos nas pessoas ou no mundo, a atmosfera interna é de colaboração para atingir um objectivo comum. Aquela sensação de ser peça-chave de uma equipa ou de sentir que se é capaz de aguentar qualquer sofrimento para atingir os objectivos torna-se viciante e minora os aspectos prejudiciais da função, como excesso de horas de trabalho e de stress.

O que fazer?

Se sente uma camaradagem intensa que o impede de deixar o que sabe ser um ambiente de trabalho pouco saudável, tire um tempo para definir o que é importante si e determinar se esses valores estão a ser cumpridos no trabalho, independentemente das necessidades da empresa.

Eis algumas perguntas que deve fazer a si mesmo para tomar essa decisão:

  • O que é importante para mim no trabalho e como defino o que isso significa?
  • Que valores estão a ser consistentemente honrados ou desrespeitados?
  • Há algo que eu possa fazer para garantir que os meus valores são respeitados?

Por exemplo, se valoriza ser respeitado e quer poder partilhar as suas ideias, mas o seu gestor tem o hábito de o interromper ou ignorar, pode concluir-se que o seu valor não está a ser respeitado. Tem liberdade para conversar com o seu gestor sobre o tema?  Se a resposta for negativa, então precisará de decidir se a missão da empresa é mais importante do que os seus valores.

 

Nostalgia do passado

Quando entra numa empresa e tem uma experiência excelente durante meses ou até anos, envolve-se completamente no seu trabalho. Entretanto, dá-se a mudança, seja um novo líder, uma nova estrutura ou direcção estratégica, e pode ter dificuldades em lidar com isso.

Esse tipo de mudanças organizacionais podem resultar em sentimentos de choque, negação, frustração e depressão. Se sente dificuldades em aceitar e ajustar- se às mudanças ao longo do tempo e diz: “Não quero sair porque gosto realmente da empresa”, em vez de “Não quero sair porque adoro o meu trabalho”, então pode ficar preso ao passado, à espera de que a empresa volte a ser o que era antes.

O que fazer?

A mudança é difícil, por isso reserve um tempo para se adaptar e processar o que isso significa para o seu trabalho. Depois de aceitar a mudança, analise objectivamente se a situação actual ainda está alinhada com os seus valores e objectivos de carreira. Se as dificuldades permanecerem, considere as seguintes questões:

  • Como era a empresa quando entrei e qual é a realidade da empresa hoje?
  • O que tornaria o ambiente melhor para mim?
  • Posso fazer alterações ou pedidos adicionais para ir ao encontro dos meus valores?

Empresas, equipas e líderes mudam, especialmente à medida que as empresas crescem. Cabe-lhe a si determinar se deseja viver na realidade presente ou num passado que já não existe.

 

Incentivos de capital

Alguns colaboradores recebem subvenções de capital numa empresa, como acções por exemplo. As concessões de acções vigoram ao longo de um período, geralmente anos. Portanto, depois de passar por um ambiente de trabalho tóxico, é normal sentir que merece uma recompensa pelo que passou. Mas até que ponto está disposto a aguentar? Esperar que os prazos terminem pode ser prejudicial à sua saúde, por isso é fundamental entender se vale a pena.

O que fazer?

Determine exactamente quando e quanto receberá de cada acção da empresa e faça estas perguntas ao seu contabilista se não conseguir descobrir as respostas:

  • Após os impostos e pagamentos do preço de exercício das opções, quanto receberei?
  • Se abdicar desse dinheiro ou esperar para adquirir as acções, isso afectará as minhas perspectivas de reforma?
  • Que salário líquido precisaria de ganhar noutra empresa para compensar o valor das acções não adquiridas?

Incentivos de capital são concedidos para manter o colaborador na empresa, e muitas oferecem subsídios adicionais através de programas de remuneração. Portanto, nunca há uma data “definitiva” para ter as acções. Mas pode quebrar o ciclo interminável se tiver uma data de saída em mente, baseada em quanto deseja investir antes de partir e de quanto está disposto a abdicar.

 

Medo

São vários os receios quando se trata de mudar de emprego: medo de ir para outra situação difícil, de ter de provar seu valor outra vez, de não conseguir ganhar tanto dinheiro e até de nem saber como procurar emprego. Se anda preocupado devido a uma má situação de trabalho, o medo pode deixá-lo com pouca confiança de que uma mudança leve a um ambiente de trabalho melhor.

O que fazer?

Para ajudá-lo a superar os seus medos, em vez de imaginar como seria a sua vida num ambiente de trabalho positivo, concentre-se e visualize-a. Feche os olhos e considere o seguinte para combater pensamentos negativos:

  • Se eu não tivesse medo de partir, o que aconteceria?
  • Que aspecto, cheiro e sensação tem o meu novo ambiente de trabalho?
  • De que tipo de apoio preciso para me sentir mais confiante para fazer uma mudança?

Por último, pense no conselho que daria a um amigo próximo se estivesse numa situação de trabalho semelhante à sua.

 

Deixar um mau emprego nunca é fácil, e o ponto de ruptura de cada pessoa é diferente, por isso, culpar-se por ter ficado tanto tempo numa situação negativa não vai ajudar. Mas aprender com cada experiência irá capacitá-lo a assumir as suas escolhas de carreira e sair mais cedo da próxima vez que se deparar com uma situação semelhante.

 

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