Flash Talk: Descubra o que motiva os seus colaboradores a ir trabalhar

Um case study que a kununu fez com a Amazon demonstra que, mesmo uma grande marca como a gigante retalhista, não está imune aos desafios de encontrar talento suficiente. Por isso, é importante saber aquilo que os colaboradores valorizam.

 

Por Ana Leonor Martins

 

A kununu é uma plataforma de classificação de empregadores, foi fundada em 2007 e hoje conta com escritórios em Boston, Viena, Berlim e Porto. Está presente na Invicta desde 2017, tendo, juntamente com a empresa-mãe, Xing, estabelecido cá uma equipa de engenheiros, que está a desenvolver produtos globais. Ainda não lançaram soluções em Portugal, mas até final do primeiro trimestre deste ano, vão lançar o kununu engage que permite, em tempo real, recolher feedback contínuo dos colaboradores. Numa conversa em que nos dá a conhecer a kununo e o por quê da aposta no nosso País, Hélder Martins, VP Engineering da plataforma, revela os factores mais importantes quando se trata da marca de empregador. Uma coisa é certa, um salário competitivo, hoje em dia, é entendido apenas como um pré requisito necessário.

 

Em que consiste exactamente a kununu?
Ajudamos quem procura trabalho ou mudança a perceber melhor como é trabalhar numa determinada empresa, mas também auxiliamos as pessoas no processo de melhoramento da sua vida profissional, dando feedback ao seu empregador. Hoje o kununu é líder de mercado na Europa, com mais de três milhões de avaliações de empregadores na nossa plataforma.

 

E como funciona?
No kununu.com, actuais e antigos colaboradores classificam anonimamente o seu empregador, através de distintas dimensões. A escala vai de 1 (não satisfeito) a 5 (muito satisfeito), sendo que as dimensões incluem a cultura da empresa, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, a satisfação salarial, entre outros. Também temos um produto B2B [business to business] chamado kununu engage, que permite às empresas recolher feedback contínuo e em tempo real. Com base nesses dados, recolhidos semanalmente, as empresas podem obter informações valiosas sobre a presente motivação das suas equipas.

 

Em que é que esta plataforma é diferenciadora e representa uma mais valia para as empresas em relação, por exemplo, a um estudo de clima organizacional?
O kununu oferece um nível de detalhe e profundidade que nenhuma outra plataforma de classificação de empregadores disponibiliza. As classificações são divididas em 18 dimensões principais de satisfação no local de trabalho para fornecer aos candidatos informações que realmente importam sobre a empresa alvo de apreciação. Estes indicadores possibilitam a tomada de decisões correctas e estruturadas, assim como ajudam as equipas de Recursos Humanos a atrair e reter candidatos de elevada performance. No kununu engage, combinamos as nossas aprendizagens e conhecimento de mais de uma década no sector de Recursos Humanos com uma abordagem científica. O objectivo passa por demonstrar como a cultura empresarial é afetacda em várias dimensões-chave no processo de envolvimento dos colaboradores.

 

É precisamente o kununu engage que vão lançar este ano no mercado português? Quais as vantagens que isso vai trazer?
Sim, vai ser lançado em Portugal no primeiro trimestre do ano. A plataforma ajudará a aumentar os níveis de envolvimento e transparência dos colaboradores. Ao oferecer um leque variado de ferramentas inteligentes, incluindo um avaliador, semanal, de clima automatizado os colaboradores podem, anonimamente, submeter feedback ao seu empregador sobre o que está a funcionar bem e o que precisa de ser optimizado dentro na empresa, num determinado momento.

O kununu engage inclui também um fórum de discussão destinado às equipas, onde cada colaborador pode partilhar e discutir tópicos com os seus colegas, e votar os mesmos. O uso destes dados em tempo real possibilita à equipa de gestão uma rápida identificação de tópicos e problemas relevantes, tendo a oportunidade de agir correctivamente sobre os mesmos.

 

Que objectivos pretendem alcançar no nosso país?
O nosso objectivo a longo prazo é solidificar o kununu e a Xing em Portugal. Juntos planeamos alargar as nossas equipas. No total, kununu e Xing têm 80 colaboradores no Porto e estamos a planear contratar mais 40 ainda este ano. O Porto desempenha um papel importante nas estratégias de crescimento das nossas marcas.

 

O que torna o nosso país atractivo para este investimento?
Nos últimos anos, o Porto tornou-se uma geografia muito dinâmica e competitiva no cenário tecnológico. Graças às suas universidades, ao elevado número de jovens e talento internacional, a cidade está em franca expansão. Estamos orgulhosos por termos os nossos produtos globais a serem desenvolvidos pelos colegas portugueses, juntamente com as nossas equipas em Viena, Berlim e Boston.

 

Que tipo/ perfis de colaboradores procuram? Quais as competências que privilegiam?
Aprendemos muito nos últimos dez anos a ouvir o que nossos utilizadores mais e menos valorizam acerca dos seus empregadores. Por isso mesmo, sabemos o que o talento procura no mercado de trabalho actual. Foi esse conhecimento que nos permitiu, a nós próprios, tornarmo-nos num empregador de eleição. O resultado é uma equipa com um elevado grau de compromisso e performance, trabalhando para o mesmo objectivo: capacitar as pessoas no processo de escolha do local certo para trabalhar, criando assim um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Se a isso juntarmos a criação de excelentes produtos, concluímos que são os motivos que nos fazem despertar com orgulho todos os dias, tentando dessa forma tornar o mundo num sítio um pouco melhor.

Procuramos profissionais que tenham uma excelente combinação entre competências técnicas e atitude pessoal. Cultivamos uma cultura de autonomia e pertença, logo, queremos pessoas que trabalhem fantasticamente em equipa, gostem de aceitar desafios e fazê-los acontecer.

 

Têm tido dificuldade em encontrar esses perfis?
Nunca é fácil encontrar pessoas talentosas e contratar talento na área tecnológica é ainda mais difícil nos dias que correm. Dito isto, estamos muito satisfeitos com a nossa taxa de contratação no momento. Acho que o “segredo” reside no nosso método, pois vamos atrás das pessoas certas, em vez de apenas tentar cumprir os rácios de contratação. É algo que compensa a longo prazo.

 

E onde os vão “buscar” esses talentos, até para entretanto aumentar a vossa equipa em Portugal?
Honestamente, atraímos pessoas de todo o mundo. É claro que a grande maioria é portuguesa (de todo o país), mas também temos colaboradores da Venezuela e do Brasil, por exemplo.

 

Quais os vossos argumentos para competir nesta “guerra pelo talento”? Ou seja, o que vos torna um empregador “apetecível”?
Temos uma ampla gama de benefícios e ofertas competitivas. Simultaneamente, as pessoas são diferentes. Assim, há elementos que são considerados interessantes por um profissional, mas que podem não ser valorizados por outro. A fórmula está na capacidade de ser flexível face às necessidades de cada indivíduo. Oferecemos horários de trabalho flexíveis, uma forte cultura empresarial impulsionada por valores comuns, um salário competitivo e um escritório onde apetece trabalhar, não porque é imperativo mas porque há vontade em desenvolver algo com propósito.

 

COMO É TRABALHAR NA AMAZON?

A nível internacional, fizeram um survey à Amazon. O que destacaria na análise aos 1045 trabalhadores do gigante retalhista?
Antes da Amazon abrir um escritório em Portugal, quisemos descobrir como é realmente trabalhar no gigante retalhista – com base no feedback dos colaboradores, a partir da nossa plataforma para a Amazon, em Seattle. Dos 1045 colaboradores que submeteram as avaliações da Amazon nos últimos dois anos, 58% disseram que recomendariam a empresa a um amigo. Nos últimos doze meses esse número subiu para 66% e nos últimos seis a taxa alcançou os 72%. No global, a satisfação dos colaboradores da Amazon está a aumentar.

 

No entanto, e curiosamente, a Amazon é classificada pelos seus colaboradores como um local difícil para trabalhar, com uma cultura “implacável”. Como se explica esta dicotomia?
Isso é verdade. A Amazon ostentava há algum tempo a reputação de ser um local difícil para se trabalhar, com uma cultura empresarial “contundente” e “implacável”. Mas se analisarmos de perto os comentários mais recentes dos colaboradores parece que a Amazon mudou. De acordo com as avaliações da empresa na nossa plataforma, a Amazon tomou o pulso e assumiu a responsabilidade, corrigindo vários problemas internos. Isso reflete os esforços da empresa para melhorar o ambiente de trabalho e confirma que o gigante retalhista se está a posicionar para futuras contratações.

 

Quais as mudanças que já se evidenciam?
Os gestores da Amazon são abertamente autocríticos, ouvem com atenção e assumem o papel de orientar os outros com seriedade. Um colaborador disse que “informou o management da empresa sobre a necessidade de serem feitas mudanças no ambiente de trabalho, tendo essas mudanças sido levadas a cabo na semana seguinte”. Outro opinou que “na Amazon o cuidado e a preocupação com os colaboradores vai muito para além do que se vê noutras empresas”. Como um utilizador do kununu afirmou, “liderar é sobretudo ajudar os outros a darem o seu melhor. Se o nível de produtividade estiver abaixo do que é suposto, a gestão dá o máximo para que o nível desejado seja atingido. A ajuda é rápida sempre que existem problemas pessoais que podem afectar o trabalho”.

 

O que acredita ser fundamental para que a Amazon passe a ser percepcionada pelos seus colaboradores de forma mais positiva?
A Amazon tem o objectivo de ser a empresa global mais centrada no cliente. O que alguns descrevem como um ambiente acelerado, é a forma como o CEO Jeff Bezos e outros gestores da empresa se concentram em definir metas claras e ajudar seus managers a atingi-las. O que se destaca verdadeiramente na Amazon é a sua obsessão com a satisfação do cliente, característica que pode ser testemunhada em todos os níveis da empresa. Embora a Amazon estabeleça elevados padrões de exigência para os seus colaboradores, é importante que a liderança seja aberta e transparente sobre os objectivos globai, para assim obter o compromisso individual de cada um.

 

Das 18 dimensões que a kununu avalia, quais aquelas em que teve melhores e piores resultados?
Das dezoito dimensões no local de trabalho que o kununu mede, a Amazon pontua acima da média dos EUA em treze delas. A empresa classifica-se favoravelmente em dimensões como Igualdade de Género, Diversidade, Imagem e Consciência Social. Além disso, o Desenvolvimento de Carreira, a Remuneração e a Cultura da Empresa na Amazon estão acima da média norte americana.

Por outro lado, o denominado worklife balance, o Apoio da Gestão ou a Comunicação obtiveram piores resultados.

 

Como é que esses resultados se comparam com a realidade europeia?
Não analisámos explicitamente o tema para o caso da Amazon, mas as classificações na Europa, geralmente, tendem a ser um pouco mais baixas do que as verificadas nos Estados Unidos Pensamos que esse facto se deve à existência de uma cultura de classificação/ medição bastante mais madura nos EUA do que na Europa. Por isso mesmo, as pessoas são mais críticas nas suas avaliações online.

 

Têm notado alguma evolução/ mudança naquilo que os colaboradores privilegiam?
Independentemente de ser na Europa ou nos EUA, constatamos, através dos nossos dados, que a atractividade do empregador já não está cingida ao melhor pacote salarial. Um salário competitivo é agora entendido como um pré-requisito necessário. O bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional, uma cultura empresarial forte e única, a flexibilidade de trabalhar a partir de casa, a transparência da empresa sobre o seu desenvolvimento e estratégia corporativa e as oportunidades de crescimento dentro da organização, são aspectos importantes quando se trata da marca de empregador. São este tipo de factores “mais leves” que motivam os colaboradores a comparecer ao trabalho todos os dias, e estão refletidos nos comentários no kununu.

 

Num futuro próximo, o que acredita que vai ser fundamental para as empresas terem argumentos para ganhar a “guerra pelo talento”?
O nosso case study com a Amazon demonstra que mesmo uma grande marca como a Amazon não está imune aos desafios de encontrar talento suficiente. Enquanto o vencimento é parte do pacote, a autenticidade da marca, a cultura única da empresa, a qualidade dos líderes de topo e as oportunidades de carreira são igualmente importantes, tanto para os candidatos como para os colaboradores.

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