Gestão de Pessoas: Análise e perspectivas

O conceito de Gestão de Pessoas compreende as estratégias que visam atrair, reter, potencializar e administrar os colaboradores. A questão que se coloca é quais os desafios que se avizinham e que estratégias adoptar para os ultrapassar.

 

Por Sandra M. Pinto | Fotos: Cristina Carvalho

 

A Human Resources Portugal organizou um pequeno-almoço dedicado à Gestão de Pessoas, no qual reuniu vários responsáveis de Recursos Humanos de diferentes sectores. Durante uma hora, partilharam-se experiências e visões, focando-se os especialistas na questão de quais são hoje os principais desafios que se colocam à Gestão de Pessoas.

Beatriz Perez, directora de Recursos Humanos da Fox Networks Portugal. Espanha e França; Catarina Fernandes, responsável de Compensação e Benefícios e Relações Laborais da Leroy Merlin; Catarina Horta, directora de Capital Humano do Novo Banco; Inês Veloso, directora de Marketing e Comunicação da Randstad Portugal; Marta Amador directora de Recursos Humanos da Webasto; Nuno Troni, director da Randstad Professionals; Paula Castelão, directora de Recursos Humanos da The Navigator Company; Paula Sequeiros, directora de Recursos Humanos da Novartis; e Pedro Ramos, director de Recursos Humanos da TAP Air Portugal, reuniram-se no hotel Dom Pedro, em Lisboa, no passado mês de Fevereiro, e partilharam a sua análise e perspectivas sobre a Gestão de Pessoas em Portugal.

 

De olhos em 2018 para perceber 2019

Como mote para a discussão, Inês Veloso fez uma apresentação durante a qual levou os presentes a olharem para 2018, de forma a perceberem quais o que esperar ao longo do presente ano.

«Em 2018 a taxa de emprego em Portugal teve o terceiro melhor crescimento a nível europeu. O objectivo para a União Europeia é atingir 75% em termos de taxa de emprego e Portugal já se posiciona em 73,4%. Ao analisarmos o número de empregos líquidos que foram criados o ano passado, constata-se que foram criados 328 mil empregos, maioritariamente no sector do Turismo, onde foram criados 79 mil postos de trabalho». De referir que, desde 2016, a indústria do Turismo cresceu mais de 40%.

Relativamente ao desemprego, «atingimos em Portugal um mínimo histórico de 16 anos, com os dados mais recentes a indicar uma média de 7%, valor abaixo da média europeia». Uma realidade para a qual importa olhar é a dos nem-nem, ou seja, pessoas entre os 15 e os 24 anos, que não estudam nem trabalham. Este é um conceito que tem preocupado muito União Europeia (UE), no sentido de perceber o que é que estas pessoas pretendem, efectivamente, fazer, pois «estão completamente fora do sistema». Relativamente aos “nem nem”, a taxa mais baixa foi alcançada em 2018, com 9,9%, sendo que «vale a pena reflectir que dentro dos que não são “nem nem” e estão nesta faixa etária, a taxa de desemprego de pessoas registadas é três vezes a nossa taxa de desemprego».

Inês Veloso salienta ainda: «Quando falamos em taxa de desemprego ficamos sempre muito felizes, mas se concretizarmos os tais 7% em número de pessoas é muito mais assustador, pois falamos de 365 mil pessoas desempregadas». Por outro lado, ficaram 30 mil vagas por preencher em 2018. «Se fizéssemos um exercício de matemática pura, era mais fácil, mas na equação entra um conjunto de factores relacionados não só com competência, mas também com salários pagos, zonas geográficas, entre outros.»

No que diz respeito aos salários, as noticias não são animadoras. «Apesar de haver muitas subidas do salário mínimo, em termos médios, a subida do salário médio foi abaixo de 1% líquido, o que significa que globalmente o país não aumentou o salário. Mas aumentámos o número de pessoas que recebe o salário mínimo.» Em 2018, 23% da população activa em Portugal estava a receber a nível do salário mínimo, «de acordo com dados governamentais que incluem os sectores público e privado». De salientar ainda que, em 2018, do emprego criado, a média salarial foi de 660 euros.

 

Entre valores e realidades

Os dados do Randstad Employer Branding de 2018 «revelam algo muito interessante, pois Portugal apresenta um comportamento diferente face ao que acontece no resto da Europa». Neste momento os portugueses valorizam mais o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, apresentando-se como o principal driver para aceitação ou mudança de emprego. Segue-se a estabilidade do projecto e a progressão de carreira. Em 2018, 15% da população activa em Portugal tinha mudado para um novo desafio e 27% tinha planeado mudar de emprego. «Estes são dados relevantes quando pensamos em atrair ou reter colaboradores e a importância de termos uma estratégia nestas matérias.»

Os sectores identificados como os mais atractivos para trabalhar foram a Saúde, a Aviação e a Consultoria. «Mais uma vez Portugal comporta-se de forma diferente da Europa, no sentido em que, na Europa, as Tecnologias de Informação e a Consultoria são os sectores mais atractivos para trabalhar.» Se perguntássemos ao Google o que é que mais preocupou os nossos Recursos Humanos durante 2018, em primeiro lugar surgiria o Employer Branding. «Tivemos todos de aprender como é que falamos com os candidatos, com particular grande enfoque na forma como vamos trabalhar o colaborador.»

Perante estas conclusões de 2018, importa questionar o que é que podemos esperar de 2019. De acordo com o estudo da CIP encomendado à Mackenzie, em conjunto com a Universidade Nova, foi feita uma análise das tecnologias existentes e da sua repercussão no mercado de trabalho. «Ao olhar para o mercado português, percebemos que, com a tecnologia implementada nas empresas, desapareceram em Portugal 1,1 milhões de empregos, sendo que o principal sector onde isso aconteceu foi a Indústria, onde existem funções de suporte não especializadas e que, de alguma forma, serão substituídas pela tecnologia que já existe.» De notar que, de forma positiva, esta implementação tecnológica iria, simultaneamente, criar entre 600 mil a um milhão de novos empregos. «Quase que um se substitui ao outro, evitando o drama de o emprego desparecer», faz-se notar.

Outro relatório recentemente apresentado, da OCDE, destaca a importância do bem-estar e do emprego em Portugal, havendo uma recomendação para a necessidade de formar e qualificar as pessoas. «Em Portugal existe muito emprego criado, mas, essencialmente, emprego “low end”, o que não faz mal porque é melhor isso do que o desemprego, mas o tema é mantermo-nos no “low end” é quase um “dead end”». Importa perceber o que se pode fazer relativamente a estas pessoas, sendo que a OCDE destaca os cursos de formação de adultos, que são apresentados como um bom exemplo.

Leia a reportagem na íntegra na edição de Março da Human Resources.

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