Homeoffice e o papel dos RH: muito mais que um novo normal

Em Março passado o mundo do trabalho tal como até aí conhecíamos deixou de existir. A Covid-19 trouxe não só uma nova realidade para as empresas, mas também uma nova perspectiva sobre a forma como trabalhamos.

 

Por Joana Lino, Head of HR na Bosch Termotecnologia

 

De um dia para o outro, sem qualquer tempo de preparação, os colaboradores e os gestores depararam-se com a necessidade de adaptar a forma de trabalho e de adotar algo que até então não fazia parte do dia a dia da grande maioria das empresas – o trabalho remoto. Algo que seria impensável noutra altura acabou por tornar-se no nosso “novo normal”. Passados mais de 8 meses a viver em pandemia, são muitas as empresas a avaliar e a discutir como será o futuro do trabalho, e uma coisa é garantida: a mudança instalou-se e o mais certo é que tenha vindo para ficar.

Perante esta realidade urgente, foi fundamental as empresas se adaptarem e implementarem novos processos, redefinir estratégias e, em alguns casos, reconverter modelos de negócio. Mas não podemos esquecer uma questão importante: no meio de tudo isto, como ficam as pessoas e a relação das pessoas com as empresas? Aos desafios inerentes à gestão do negócio, juntam-se as não menos desafiantes questões relacionadas com a gestão dos recursos humanos. Como manter a cultura organizacional? Como manter vivos os valores da empresa aos que permanecem e transmitir aos que chegam? Como fazer sobreviver a dinâmica de relações entre as pessoas? E a motivação, o envolvimento, a liderança, a atratividade aos novos talentos? Mais do que nunca o departamento de Recursos Humanos tem, nestes tempos de “novo normal”, um papel importante para conseguir que no final, quando passarmos “à nova normalidade”, as perdas sejam mínimas e reparáveis.

É um facto que o trabalho remoto (pelo menos para já) veio para ficar, e muitas empresas perceberam que constitui uma enorme vantagem de negócio, porque oferece inúmeros benefícios quer às organizações quer às próprias pessoas. Mas, se isto é tão vantajoso porque razão não estão todas as empresas a trabalhar desta forma? Na verdade, estes modelos de trabalho totalmente remotos ou sistemas híbridos não são simples de implementar e têm também alguns riscos. Esta mudança não passa simplesmente por fazer teletrabalho com mais frequência. Na verdade, requer uma profunda mudança a vários níveis, seja no mindset, na cultura, nas formas de liderança, na autonomia, na interação de todos os setores, na integração de novos colaboradores, etc. Para que isso aconteça é fundamental um ambiente assente na confiança, sem preconceitos e sem comparações entre pessoas. As nossas pessoas têm de ter uma atitude de autoaprendizagem. Os valores e princípios têm de estar alinhados com o trabalho remoto para poderem ser vividos por todos. Compreender que todos são responsáveis e que demonstramos total respeito pelos outros é essencial neste novo ambiente de trabalho.

Apesar de já terem passado alguns meses, esta é uma situação única e inesperada, e apesar da demonstração de uma enorme capacidade de adaptabilidade, há ainda muito para fazer. É essencial melhorar a forma como documentamos a informação e a tornamos disponível e acessível a todos. Para isso acontecer, poderá ser necessário mudar os processos e a forma como habitualmente trabalhamos. É fundamental ter também uma cultura de transparência, com uma passagem eficiente da informação. Além disso, nestes ambientes de trabalho remoto a promoção da comunicação informal é um elemento essencial. Paralelamente a isso, é muito importante assegurar o equilíbrio entre o cuidar e o exigir das pessoas.

O foco na confiança, comunicação e na definição clara de objetivos torna-se essencial num ambiente de trabalho remoto. Nesta Era tecnológica, a nova realidade do RH passa por conseguir o engagement dos colaboradores de forma natural e orgânica, oferecendo um cenário estável, saudável e próximo. Neste novo normal, de distanciamento e ainda mais tecnológico, aos RH exige-se um olhar ainda mais próximo e humano.

 

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