Influencer @ the job

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources

– Bom dia – cumprimentei eu ainda exasperada pela hora e meia desperdiçada no trânsito.

– Bom dia, grato por mais um dia! – exclamou de sorriso rasgado o T.

Novo na portaria, os encontros tornaram-se diários. Sempre a mesma saudação. O meu nível de atenção aumentou. Quem era aquele homem? 

– Não me leve a mal, mas nunca ninguém me saudou da forma como o faz – disse-lho certo dia.

– Ah, todos os dias devemos agradecer. É a minha saudação aos outros e ao dia em si. Eu sou muito grato por ter uma casa, este trabalho, e o que preciso para viver. Faço a minha parte tentando contagiar as pessoas que por mim vão passando. Se conseguir um sorriso, o meu dia já corre melhor.

– Resultou! A mim já me pôs a sorrir! – e a reflectir, respondi.

Mais uns 15 min de conversa e conhecia-o q.b. Nasceu no Brasil há 50 anos. Veio para Portugal com os pais aos 12 anos. Por influência dos progenitores, pratica meditação desde que se lembra de si próprio. Licenciou-se em Lisboa, em Sociologia, e viveu 20 anos em Londres onde tirou o curso de Segurança e trabalhou numa Embaixada. Por motivos pessoais, teve de regressar a casa. Pediu cá equivalência para a certificação de Segurança, a qual conseguiu e perseguiu novo trabalho também numa Embaixada. Infelizmente a família doente precisou de si mais do que havia pensado e teve de deixar o trabalho. Quando o vento acalmou, teve de arranjar uma alternativa ao trabalho perdido e abriu um café que geriu com brio até à pandemia. Depois tudo mudou.

Lembro-me que comentei com o T. que a vida não lhe tinha sido simpática e de me ter respondido: 

– Não diga isso, não é verdade. Temos de ser gratos por aquilo que nos vem pelo caminho. Há sempre um motivo. O trabalho, por exemplo, basta ser honesto. Andamos todos muito preocupados com o que não temos e esquecemo-nos de agradecer pelo que temos.

– Tem toda a razão – anuí.

– Vou voltar ao trabalho, a esta hora entram muitas pessoas para eu cumprimentar – despediu-se o T., como quem abraça uma vocação.

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Este homem, um Influencer @ the job, não tem redes sociais, não aparece nos media, não utiliza títulos antes do nome, nem quer nada disso. Quer o que tem e mede o sucesso pela qualidade dos valores que o definem, os que lhe foram transmitidos desde a infância, que solidificou ao longo da vida e que consigo ficarão até que vá. Para o T., o todo o sucesso, ou o que a maioria das pessoas intitula de sucesso, é temporário. E por isso tem o valor relativo que tem.

O T. diz que a sua missão na vida é inspirar as pessoas a serem gratas e a praticarem essa gratidão, e que o seu ingrediente de maior sucesso é o sorriso. Quando lhe permitem, para além do sorriso, também gosta de cumprimentar com um forte aperto de mão, porque “o sol nasce para toda a gente” e às vezes “só precisamos lembrar os outros desta verdade”

Desconheço se o T. o sabe, mas naquela portaria, influenciava diariamente muitas outras pessoas com a sua atitude positiva, uma fonte de inspiração; o seu optimismo e sorriso, contagiantes; a sua perspectiva, que encorajava à reflexão involuntária de uma já existente.

O T. é, para mim, um Influencer @ the job. Discreto, com a capa do anonimato, ia cumprindo a sua missão, fiel aos seus valores.

Por mais T. nos nossos locais de trabalho. Estejam atentos – estes Influencers @ the job, passam por nós muitas vezes sem que os vejamos. Mas se estivermos atentos, ficaremos gratos por assim ter sido.

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