José Gonçalves, Accenture: Chegou o amanhã. Como é que ele é?

José Gonçalves, presidente da Accenture Portugal, faz notar que «neste desafio que agora se coloca, é fundamental reconhecer que os colaboradores são tão importantes quanto os clientes, e cada pessoa, de acordo com as suas circunstâncias pessoais, tais como a sua situação familiar e as condições que tem em casa, deve poder personalizar a sua experiência, adequando-a às suas responsabilidades na organização».

 

«Falar do futuro, ou neste caso, do presente, passa obrigatoriamente pela reflexão que todos estamos a fazer sobre o modelo actual de trabalho, sendo que, a meu ver, o interessante será a capacidade de personalizar a experiência de cada colaborador. As empresas terão de conhecer as expectativas e necessidades dos seus colaboradores, naturalmente garantindo o equilíbrio com o modelo e os interesses de negócio da organização.

Neste desafio que agora se coloca, é fundamental reconhecer que os colaboradores são tão importantes quanto os clientes, e cada pessoa, de acordo com as suas circunstâncias pessoais, tais como a sua situação familiar e as condições que tem em casa, deve poder personalizar a sua experiência, adequando-a às suas responsabilidades na organização.

Acredito que cada vez mais vamos trabalhar por objectivos e menos por área de trabalho ou por horários pré-estabelecidos. É verdade que alguns trabalhos requerem muita interdependência, seja de clientes, parceiros ou das próprias equipas, e nós, na Accenture, temos essa realidade, que levanta algumas restrições a uma visão ideal. Será preciso, cada vez mais, aprender a balancear todas as necessidades, tanto das nossas pessoas como dos clientes.

Tudo isto vai ser muito mais exigente em termos éticos, e todos nós enquanto colaboradores temos de sentir que, diariamente, actuamos com ética, cumprindo os objectivos propostos e os deadlines que existem.

E não podemos esquecer o que a pandemia nos revelou sobre o teletrabalho, que à primeira vista parecia algo muito agradável e conveniente, mas acaba por levantar novas questões, como a fronteira entre o trabalho e a vida pessoal, por não haver esse “desligar” obrigatório quando saímos do local de trabalho, e também alguns desafios ao nível da cultura da organização, e da própria partilha de conhecimento e experiências entre gerações.

Saliento ainda uma grande questão baseada na velocidade da automação e do aumento de “superpoderes” para os humanos. A automação está a ser implementada mais rapidamente do que a capacidade de repensar novos modelos, novas formas de trabalhar e, logicamente, novos trabalhos. Tudo isto vai levantar tensão a vários níveis, mas o que temos de analisar é que, tendo em conta as revoluções passadas, sempre se criam postos de trabalho, novas funções que antes não existiam.

No futuro, podemos tornar-nos numa sociedade mais humana em que nos conseguimos focar naquilo que verdadeiramente nos diferencia, como a empatia, a inteligência emocional e a criatividade, deixando para as máquinas a automatização de tarefas que fazem melhor do que nós. A fórmula do sucesso será baseada na colaboração efectiva e produtiva entre homens e máquinas, sendo claro que existem funções tipicamente humanas e outras tipicamente automatizáveis.

Neste contexto, é essencial preparar o actual talento para esta nova realidade, e procurar superar os grandes desafios ao nível das qualificações das pessoas. A forma como o trabalho vai ser organizado está a mudar de modo muito acelerado, e não vai ser possível esperar pelo novo talento, vai ser necessário requalificar o talento existente.

Para concluir, gostaria de referir o tema da globalização, isto é, o facto de o talento, também neste contexto digital, poder existir em qualquer lado do mundo, deixando de estar controlado por fronteiras, e passando a ser enquadrado pelos negócios. E a pandemia mostrou que muito do que antes achávamos impossível fazer à distância é de facto possível.

Até agora, as instituições portuguesas têm atraído talento por razões como o sol, clima, cultura e estilo de vida nacional. Neste mundo digital em que vamos viver, terá de haver algo mais. Ter empresas com propósitos, ter desafios interessantes, projectos inovadores, pessoas que queiram trabalhar e fazer parte disso.

Levantam-se igualmente novas oportunidades para as pessoas que trabalham em Portugal, e isso terá um impacto muito positivo em termos de melhores salários, e melhores condições de vida.

Para as empresas coloca-se um desafio que é o facto de o mundo ser muito mais global, e é preciso que haja mais negócios globais, pois não nos podemos dar ao luxo de perder o talento que temos.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Outubro (nº. 130) da Human Resources, no âmbito do tema de capa.

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