Líderes: firmes como uma barra de ferro… que parte

Queremos líderes fortes! Queremos líderes resistentes! Queremos líderes que não hesitem! Queremos líderes que persistam! Queremos líderes que lutem! Queremos líderes que escutem! Queremos líderes que tomem decisões! Queremos líderes que não se precipitem! Queremos líderes inspiradores! Queremos líderes que nos dêem certezas! Queremos líderes empáticos! Queremos líderes assertivos! Queremos líderes transparentes! Queremos líderes íntegros! Queremos líderes que dominem os assuntos! Queremos líderes com visão!…

 

Por Francisco Miranda Rodrigues, Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

 

Não é fácil ser líder. As exigências são muitas. O escrutínio é permanente. Muitos têm cargas de trabalho muito acima da média, outros exigências cognitivas assinaláveis. Estes riscos e muitos outros expõem o líder e as suas vulnerabilidades tornando-os pessoas de desgaste rápido. Muitos líderes são resilientes e apesar disto persistem. Os seus erros são tendencialmente mais consequentes e a eles é-lhes pedida mais responsabilidade. Muitos destes líderes, organizacionais, políticos, desportivos, são “atletas” de alta competição. Sempre em jogo e em alta rotação. Os seus erros são geralmente mais caros e graves. Os seus erros afectam mais pessoas.

Por outro lado, sabem que podem ter mais influência e causar mais impacto beneficiando muito mais gente com a sua acção. Há poucos anos, poucas destas pessoas assumiriam erros, fragilidades, pontos fracos ou dificuldades. Muito menos qualquer sofrimento ou problema psicológico ou menos ainda uma doença mental. Esse tempo tem vindo a ficar para trás lentamente, mas de forma muito visível. E, nesse movimento, mobilizam e envolvem muitos outros para esse cuidado de si, para a prevenção do burnout, para a promoção da saúde mental e para a humildade da nossa finitude de recursos, cognitivos, emocionais, para além dos físicos. Por vezes apenas… a exaustão que deve ser reconhecida.

Nesse acto de coragem e desassombro, interrompem aquilo que mais lhes dá prazer e os realiza, mas o que simultaneamente os esgota. O contacto com o que somos e o que os outros são, longe da perfeição, dá-nos um sentir e uma percepção mais real, mais concreta e mais adequada à vivência saudável em sociedade. Este mesmo contacto traz medo e ansiedade, mas também a descoberta de que nos encontramos todos em denominadores comuns e que, por isso, estamos mais todos no mesmo barco. Um bocadinho mais, pelo menos, descontando todas as desigualdades.

 

Amanhã, prefiro saber que está no comando aqui e ali quem sabemos que erra e tem limites, mas que também sabe que erra e que tem um fim.

Queremos que os líderes sejam humanos. Então temos de aceitar os seus limites. E reconhecê-los, quando assumem eles próprios a necessidade de parar, fazer uma pausa, cuidarem de si, antes de mais, e assumirem com as suas dificuldades, a sua humanidade, dando um exemplo de enorme valor… da liderança.

Ler Mais