Marian Salzman, PMI: Cinco tendências para 2023 – Repensar tudo

À medida que nos concentramos em 2023, vemos razões para temer e razões para ter esperança. As pessoas estão fartas e a questionar pressupostos de longa data. E há uma macrotendência para um reequilíbrio do poder.

 

Por Marian Salzman, senior vice president of Communications da Philip Morris International e global trendsetter

 

Todos nos lembramos de como queríamos deixar 2020 para trás – o “ano do contágio” e do “novo anormal”. As vacinas da COVID-19 estavam a caminho, e a maioria das pessoas esperava que nenhum ano pudesse igualar aquele na sua crueldade e disrupção. E depois vieram 2021 e 2022. Em vez de nos resolverem a situação, os últimos dois anos deram início a uma incessante investida de notícias e ocorrências traumáticas. Inflação e incerteza económica. Problemas na cadeia de abastecimento e uma crise energética global. A contínua ascensão da extrema-direita e a erosão da democracia. Acontecimentos climáticos extremos destrutivos que “acontecem uma vez num século” a acontecerem com frequência alarmante. Montanhas de desinformação e ataques nas redes sociais. E, para além de tudo isto, a guerra na Ucrânia.

À medida que nos concentramos em 2023, vemos razões para temer e razões para ter esperança. Na coluna “medo”, a tendência que é mais abrangente e mais prejudicial (em conjunto com as alterações climáticas – a macrotendência que vence todas as outras) é a natureza cada vez mais efémera da realidade. A linha entre o que é real e o que é falso, ou apenas parcialmente verdadeiro, está a tornar-se cada vez mais confusa, por vezes exacerbada pelo que parece ser uma bifurcação crescente da humanidade. O aprofundamento do fosso entre ricos e pobres, entre os produtos tecnológicos essenciais e não essenciais, e, mais recentemente, entre os informados e desinformados.

Talvez esteja na nossa natureza a procura de pontos positivos, mas – apesar do contínuo aumento da polarização, do extremismo e do ódio – vemos surgir muito mais tendências em 2023 que pertencem à coluna “esperança”. Em grande medida, é porque as pessoas estão fartas. Estão alarmadas com tudo o que está a acontecer nos seus mundos e estão, finalmente, preparadas para ripostar. Uma consequência é uma macrotendência para um reequilíbrio do poder. As pessoas questionam pressupostos de longa data, incluindo o valor de uma educação universitária (especialmente nos EUA), a lealdade devida a um empregador, e os princípios básicos do capitalismo. As instituições e práticas cegamente aceites no século passado estão agora na ribalta, e um número crescente de pessoas reage contra elas pela primeira vez.

Neste artigo partilhamos cinco macrotendências, cada uma das quais deverá ter impacto nas nossas vidas este ano – a maioria, embora não todas, de forma positiva.

 

Tendência 1: Perder a noção de realidade
A Palavra do Ano de 2022 do dicionário Merriam-Webster é “gaslighting”, definido como “o acto ou prática de enganar grosseiramente alguém, especialmente em proveito próprio”. O perigo da tecnologia “deep fake” já não é um medo distante. Existe. A questão que enfrentaremos em 2023 e mais além é simples: em que e quem podemos acreditar? Com as novas tecnologias, já não é nos nossos olhos e ouvidos. O aumento da desinformação e da inverdade é tão grave que as Nações Unidas apelaram aos Estados-membros para adoptarem políticas que apoiem a literacia digital. A DPDR (desordem de despersonalização/ desrealização) é um distúrbio de saúde mental que faz com que as pessoas se sintam distantes ou desligadas de si próprias, mental ou fisicamente, e/ou tenham um sentido reduzido da realidade. Um tratamento normalmente prescrito é a terapia. Tudo isso parece bem, mas o que acontece quando há mais terapeutas a mudar para chatbots artificialmente inteligentes? A mente fica confusa.

 

Tendência 2: Chamar os bois pelos nomes
O mundo está em revolta. Não fisicamente, na sua maioria (embora todos saibamos que existem excepções), mas social e culturalmente. Parte disto pode ser atribuído à disrupção da COVID-19 e à inesperada oportunidade que muitos de nós tiveram de abrandar, contemplar e repensar todos os aspectos das nossas vidas – dos nossos empregos, estilos de vida e prioridades na educação dos filhos até à forma como queremos que o mundo à nossa volta funcione. Os pontos problemáticos que, na sua maioria, fervilhavam à superfície – incluindo injustiças raciais, económicas e de género, e a ameaça potencialmente catastrófica das alterações climáticas – cansaram e levaram muitas pessoas, finalmente, a agir. Um resultado que vimos – e que veremos mais em 2023 – é um empurrão contra os actuais equilíbrios de poder e um repensar das bases da vida moderna.

Estamos a questionar tudo. No mundo do trabalho, os colaboradores (especialmente os mais jovens) recusam-se a fazer os sacrifícios que as gerações anteriores consideravam normais. Muitas horas a trabalhar, emprego mal remunerado, ou que nem é remunerado de todo, condições laborais de grande stress? Não, obrigado. Com ou sem recessão, estamos na era de fazer o essencial, do “quiet quitting”, e dos apelos a “trabalhar de acordo com o salário recebido”. A noção de que os trabalhadores devem dedicar as suas vidas a aumentar os lucros dos executivos e investidores das empresas é cada vez menos aceite, numa altura em que passar décadas a subir a hierarquia da empresa para ganhar um anel (ou relógio) de ouro no final da viagem já não é opção.

Agora que as pessoas já não aceitam cegamente os princípios tradicionais do trabalho, estão também a questionar o sistema que lhes serve de base: o capitalismo. Este sistema económico, que se instalou na Europa no início do século XIX e se espalhou, está agora a ser citado como causa de todo o tipo de males, das alterações climáticas e a destruição ecológica até às desigualdades económicas e ao aumento das perturbações mentais.

E mesmo quando mais zonas do mundo se inclinam para o autoritarismo, pessoas em culturas hiperconservadoras erguem-se contra governantes e sistemas de governo cujo controlo apertado sobre as populações é agora considerado intolerável. Em 2023, veremos mais repúdio por facetas da vida outrora consideradas sacrossantas.

 

Tendência 3: Normalizar a sustentabilidade
A preocupação do público para com as alterações climáticas atingiu um máximo histórico, segundo um inquérito da GlobeScan realizado em 17 países, com 65% dos inquiridos a considerarem a situação “muito grave”. Chegou-se ao ponto de quatro em cada 10 inquiridos, de um inquérito realizado em 2022 em 31 países, citarem as alterações climáticas como um dissuasor para ter filhos. É uma grande mudança em relação a apenas alguns anos atrás, quando muitas pessoas pareciam inclinadas a ignorar as preocupações sobre a nossa iminente catástrofe climática.

Como os acontecimentos climáticos extremos abalaram a complacência de grandes faixas da população global, o que em tempos foi considerado “teórico” ou um “ponto de vista” é agora considerado ciência estabelecida por uma maioria de pessoas. E isso tem impacto na forma como os consumidores comuns tomam decisões de compra, tanto grandes (casas, veículos) como pequenas.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Fevereiro (nº. 146)  da Human Resources, nas bancas.

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