«Medidas de emergência romperam processos que demorariam a ser mudados» afirma Sara Fonseca, DRH do Santander Portugal.

Sara Fonseca, directora de Recursos Humanos no Santander Portugal defende «há lições e saberes de liderança que se perpetuarão» como consequência da pandemia. Leia a sua análise aos resultados do XXX Barómetro Human Resources.

 

«O “hoje” forçou-nos ao distanciamento social e o trabalho remoto deixou de ser uma escolha. Passou, de facto, a ser a norma. Rapidamente, vimo-nos num cenário distópico tendo de mudar modos de trabalhar, interagir, comunicar e liderar. Fomos também simultaneamente expostos às três maiores dimensões da incerteza – percepção da mortalidade; relacionamentos; ameaças ambientais – e a nossa condição humana, assente na segurança e previsibilidade dos acontecimentos, foi muito abalada. Um desafio maior foi colocado aos líderes corporativos: conectar as pessoas e criar uma comunidade virtual que promova confiança junto de todos os actores.

Um desafio enorme por dois motivos conflituantes: a) não sabemos ainda como promover e suportar de forma total as mencionadas comunidades; b) sabemos que a liderança depende da confiança e que esta emerge da qualidade das trocas de opinião, dos argumentos e dos consensos. O que foi feito durante décadas presencialmente passou a ter de ser conseguido remotamente.

Esperamos dos líderes mais coordenação em torno de propósitos comuns, acessibilidade, relevância na informação partilhada, feedback, participação na tomada de decisão e, acima de tudo, mais responsabilidade. A necessidade de trabalho remoto tornou obsoletas, senão mesmo inexequíveis, lideranças assentes no excesso de controlo, negligência das emoções, inflexibilidade, exclusão e gestão deficiente do virtual. Há lições e saberes de liderança que se perpetuarão. Porém, medidas de emergência romperam processos e políticas que demorariam a ser mudados.

Por imposição sanitária, ou porque as organizações perceberam que é do melhor interesse de todos os seus stakeholders, a próxima fase dos dias que vivemos fará história. Exigirá das organizações uma nova liderança para o contexto remoto, com a substituição das estruturas mais hierarquizadas por formatos mais assimétricos, com suporte na identificação e difusão dos propósitos que conectam as distintas partes da organização. Organizações que se questionarão de forma contínua, não esperando que as respostas venham somente de uma das partes, mesmo que sejam as áreas responsáveis pelas mesmas. Organizações que irão mais longe e mais depressa, derrubando mitos com inovação, adaptabilidade e inteligência, humana ou artificial.

O equilíbrio entre controlo e incerteza emergirá da aceitação de não temos todas as respostas, mas que temos as pessoas, os meios e a vontade de encontrar realidades mais prósperas. O novo normal não é uma transformação das nossas vidas, mas a sua elevação.»

Este testemunho foi publicado na edição de Maio da Human Resources, no âmbito da 30.ª edição do seu Barómetro.

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