Entrevista Nuno Pinto de Magalhães, chairman da SCC: Meio século, uma empresa, múltiplos desafios

Ainda não é meio século, mas quase. Nuno Pinto de Magalhães completou 47 anos ao serviço da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, assumindo agora o cargo de chairman. Não esconde que foi diversas vezes desafiado para integrar outras empresas, mas os muitos desafios e diversificados projectos têm assegurado uma «vida profissional apaixonante».

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

Porque, em 1974, para entrar na Faculdade de Direito de Lisboa, era preciso frequentar um ano de serviço cívico ou estar a trabalhar, e a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC) estava a recrutar, Nuno Pinto de Magalhães concorreu à empresa da Cerveja Sagres e entrou. Se a ideia inicial podia ser concluir o curso de Direito e concorrer a uma carreira diplomática no Ministério dos Negócios Estrangeiros, o destino encarregou-se de traçar outro percurso – um percurso que conta já com 47 anos na SCC. Curiosamente, foi na área dos Recursos Humanos que começou a sua vida profissional, e onde esteve cerca de 10 anos, numa altura «em que a gestão de RH foi crucial no equilíbrio das relações laborais, pois vivíamos momentos de pós-revolução, numa empresa nacionalizada e muito politizada», partilha. Passaria depois por quase todos as áreas funcionais da empresa, por seis accionistas e 18 CEO. É esta experiência que – confia – faz com que agora tenha capacidade para assumir a responsabilidade de chairman. E se há coisa que aprendeu neste quase meio século, foi a «nunca recusar uma conversa».

 

Entrou na SCC em 1974. O que recorda da empresa dessa época? Lembra-se da primeira impressão que teve?
A minha primeira impressão foi a constatação de que a SCC era parte de um grande Grupo que abrangia quase todo o sector cervejeiro em Portugal, incluindo as regiões insulares e as províncias ultramarinas, que na altura eram parte integrante do território português.

A SCC agregava no seu universo a produção de garrafas via Cive, de grades de plástico, via Sintex, produção própria de lúpulo, via Lupulex, e ainda uma Agência de Publicidade, a Cinevoz… um império!

Outra, foi perceber que se tratava de um Grupo que tinha grandes preocupações no que toca ao bem-estar dos seus colaboradores. Pagava muito acima da média nacional, complementava a segurança social e proporcionava serviços próprios de saúde como estomatologista, fisiatra, medicina clínica, hospitalizações, medicamentos… Existia ainda, para uso exclusivo dos colaboradores e respectivas famílias, na Avenida Almirante Reis, um supermercado próprio, que abrangia toda a categoria de produtos e onde não praticavam margens de comercialização.

 

Como a compara – se é que há comparação possível – com a SCC que existe hoje?
Não existe comparação possível. Tudo mudou, evoluiu, as necessidades dos consumidores, a concorrência, o País e o mundo. Hoje, as empresas já não se organizam de forma vertical, agregando todos os segmentos a montante e a jusante. Por outro lado, o conceito de família, que se encontrava impregnado na comunidade de colaboradores destas organizações, também perdeu sentido.

A passagem, nestes 40 anos, de seis accionistas diferentes – famílias portuguesas até à nacionalização, empresa pública – Centralcer até 1990, Bavaria-Grupo Santo Domingo até 2000, consórcio privado português PARFIL até 2002, Scottish and Newcastle até 2008, e Grupo Heineken desde então –, também deixaram a sua pegada.

 

Qual o “segredo” para o constante aumentar de relevância, nacional e internacionalmente, ao longo deste quase 90 anos? Ou, por outras palavras, o que acredita que faz da SCC o que ela é hoje?
Sem dúvida que todos, e cada um dos colaboradores, que construíram a SCC desde a sua fundação deixaram um legado que nos orgulha e inspira, mas que também nos responsabiliza e desafia, no dia-a-dia, a manter uma atitude contínua na aposta na forma responsável e sustentada do crescimento das nossas marcas e serviços, na adaptação e abertura à mudança, no dinamismo e capacidade de inovação.

 

Recuando ao início, como surgiu a oportunidade de integrar a SCC? O seu legado familiar seria mais “propenso” à vertente diplomática…
Fui “apanhado” pelo 25 de Abril no momento em que concluí o 7.º ano, actual 12.º ano, e para entrar na Faculdade de Direito de Lisboa, onde me inscrevi, tinha de frequentar um ano de serviço cívico ou estar a trabalhar.

Soube, através de um familiar, que a SCC estava a recrutar colaboradores para algumas tarefas específicas e inscrevi- me. Fui a uma entrevista e entrei na empresa em Outubro de 1974. Em Janeiro de 1975, ou seja, cerca de três meses depois, a SCC, no âmbito do PREC – Processo Revolucionário em Curso, é nacionalizada e os patrões saneados.

Uma das revindicações das organizações dos trabalhadores foi a passagem ao quadro efectivo de todos os cerca de 500 contratados a prazo na empresa, entre os quais eu. E assim foi.

Se tal não tivesse acontecido, provavelmente eu teria entrado logo para a Faculdade de Direito, concluído o curso e concorrido a uma carreira diplomática no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mas o destino encarregou-se de me levar para outro lado.

 

Devem fazer-lhe muito esta pergunta, porque, nos dias de hoje, é pouco comum, mas o que explica que esteja há quase meio século na SCC? Nunca se sentiu tentado – ou foi tentado – a mudar e conhecer outra realidade empresarial?
Durante estes cerca de 47 anos fui diversas vezes convidado e desafiado para integrar outras empresas e organizações, mas como as inúmeras rotações que aconteceram na Companhia foram propondo diferentes e cativantes experiências, que equivalem a abraçar novos projectos, nunca senti a vontade de mudar. Posso dizer que tive e tenho uma vida profissional apaixonante!

 

O que mais o fascina e motiva na SCC? Esse sentimento tem evoluído ao longo dos anos?
O que mais me fascina são as pessoas com quem me cruzei ao longo destes anos e a quem agradeço o que me ensinaram, e o que se deve e não se deve fazer.

O que mais me motiva é a oportunidade de poder partilhar com todos os meus colegas a vivência e os ensinamentos pessoais destes 47 anos.

 

Passou por praticamente todas as áreas funcionais da empresa. Sabendo que não é fácil, o que destaca em cada uma dessas experiências?
Sim, passei por diferentes áreas, como Recursos Humanos, Aprovisionamento, Organização Administrativa, Logística, Marketing, Vendas, Exportação, Comunicação e Relações Institucionais, para além de Provedor e Assessor de Administração.

Tenho adoptado um lema na minha vida profissional, que muito me ajuda e que passa por ter feito sempre tudo o que gosto, por ter assumido o propósito de gostar de tudo o que me pediram para fazer.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Outubro (nº.130)  da Human Resources, nas bancas.

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