
Mentalidade global, impacto local: a vantagem do right-shoring
por Fernando Henrique Silva, SVP Digital Solutions, EMEA da CI&T
A volatilidade económica e as recentes perturbações na cadeia de abastecimento obrigaram as empresas a repensar a sua estratégia quanto à resiliência e à rentabilidade. Actualmente, quase três quartos das empresas do FTSE 100 consideram as ameaças à cadeia de abastecimento como o seu principal risco, o que realça a necessidade de fazer uma mudança nos modelos de negócios tradicionais.
Para muitos, a resposta é o ‘right-shoring’ – um conceito relativamente novo que envolve a deslocalização de processos e elementos do negócio para a localização mais adequada, de forma a maximizar os lucros e reduzir os custos. Isto inclui a deslocação e contratação de pessoas para que contribuam para a empresa da melhor forma possível, e oferece diversas vantagens, incluindo mais poupanças de custos, mais inovação e mais competitividade.
Contar com equipas em várias regiões permite-nos tirar partido de um leque mais vasto de competências, perspectivas e experiências, que elevam a criatividade e a resolução de problemas. Porém, estes benefícios só são possíveis se abordarmos o ‘right-shoring’ de uma forma que salvaguarde a cultura e os objectivos da empresa.
Então, a questão que se coloca é a seguinte: como é que podemos fazer ‘right-shoring’ com sucesso para criar uma força de trabalho global e próspera, mas sem perder a identidade cultural?
Aceitar que há uma força de trabalho global em mudança
Em primeiro lugar, temos de reconhecer as transformações no seio da própria força de trabalho. A pandemia redefiniu o que pensávamos ser possível quanto ao teletrabalho, e os avanços nas ferramentas digitais tornaram a colaboração global mais viável do que nunca. Uma pool de talentos em expansão em países como a Índia e as Filipinas significa que as empresas têm agora maior acesso a competências a nível mundial – e tudo isto faz com que o ‘right-shoring’ esteja a ganhar popularidade.
Contudo, muitas indústrias enfrentam uma grave escassez de competências a nível interno, estando a lutar para preencher vagas. O ‘right-shoring’ proporciona um caminho para escolher profissionais qualificados mais além dos mercados nacionais, fazendo com que a flexibilidade quanto ao local de trabalho se torne numa vantagem competitiva e essencial para as estratégias de talento.
O ‘right-shoring’ também permite às empresas posicionar o talento estrategicamente – onde seja acessível e económico. Por exemplo, uma start-up sediada no Reino Unido que precise de especialistas em IA pode ter dificuldade em competir localmente por especialistas cuja procura e salário são elevados, especialmente contra empresas maiores. No entanto, se criar uma equipa remota numa cidade focada em tecnologia, como Berlim ou Dublin, poderá aceder a talentos qualificados a um custo mais sustentável, reforçando simultaneamente a sua presença nesses mercados.
Uma das principais vantagens do ‘right-shoring’ é também a capacidade de reunir diversas perspectivas. Ao misturar equipas de várias origens, é possível criar um ambiente onde a inovação pode florescer. Esta abordagem permite às empresas ter uma força de trabalho global que equilibra qualidade e eficiência, sem comprometer os objectivos operacionais.
A colaboração e uma gestão sólida são fundamentais
Embora o ‘right-shoring’ ofereça muitas vantagens, a concretização destas requer uma gestão sólida, disciplina e uma mentalidade colaborativa para manter um propósito partilhado além-fronteiras.
De facto, o principal desafio desta abordagem é manter uma cultura empresarial unificada em todos os fusos horários – algo que é fundamental, não apenas para incutir em todos os colaboradores os mesmos valores, mas também para atrair os melhores tantentos. Estabelecer normas culturais, valores e directrizes de comunicação – tanto a nível nacional como nas várias outras localizações – promove a coesão e reforça os objectivos.
Algumas empresas adoptaram programas “passaporte” para colmatar lacunas regionais, permitindo aos colaboradores viajar até escritórios internacionais e conhecer em primeira mão as culturas locais. Estas iniciativas promovem ligações interpessoais sólidas e reforçam uma identidade partilhada, beneficiando tanto os colaboradores como a organização em geral.
Não existem benefícios sem desafios
Apesar dos muitos benefícios do ‘right-shoring’, esta prática apresenta outros desafios, como a manutenção da segurança dos dados – uma prioridade máxima, especialmente quando se trabalha com IA. É fundamental empregar medidas como a ocultação de informações de identificação pessoal (PII) para garantir uma colaboração internacional segura.
As diferenças de fuso horário também podem apresentar desafios logísticos. No entanto, com um planeamento cuidadoso, é possível transformar isto em oportunidades para melhorar a capacidade de resposta e a continuidade do negócio – chamo a isto uma “handover”, o que significa que o negócio funciona quase 24 horas por dia.
Não há dúvida de que o ‘right-shoring’ é uma solução poderosa para as empresas que pretendem criar resiliência e crescer num mundo em mudança – e vai além da poupança de custos, pois permite que fiquemos a ganhar uma vantagem estratégica sobre os nossos concorrentes, enquanto construímos uma força de trabalho inovadora e culturalmente coesa.