MIT Sloan Management Review. Não deixe que o “quiet quitting” prejudique a sua carreira

Se não vê nenhuma vantagem em esforçar-se, principalmente se trabalha num ambiente tóxico, enveredar pelo “quiet quitting” pode parecer a única opção. Mas esse caminho deve ser o último recurso. É melhor ser honesto. Pois um emprego ou uma carreira deve ser mais do que apenas um meio de receber um ordenado.

 

Por Josh Bersin, MIT Sloan Management Review

 

O tema do “quiet quitting” dominou as manchetes em 2022, um ano em que se registaram taxas mensais recorde de demissão nos Estados Unidos da América (EUA). A ideia central por detrás do “quiet quitting” – o fenómeno em que os colaboradores fazem apenas aquilo para que são pagos e nada mais – é restaurar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Embora o conceito possa parecer razoável, esta abordagem é mais prejudicial do que se possa pensar. O “quiet quitting” não é apenas desrespeitoso para empregadores e gestores, no sentido em que os trabalhadores não estão realmente a dar aos seus empregadores a oportunidade de tentar resolver os seus problemas – também prejudica os colaboradores.

Em primeiro lugar, devemos reconhecer que a maioria dos colaboradores está, de facto, esgotada: estudos mostram que 81% ou mais dos trabalhadores se sentem sobrecarregados. A rotatividade é elevada – quase 30% dos trabalhadores norte-americanos mudaram de emprego no primeiro ano da pandemia – o que sugere que os trabalhadores procuram melhores condições, tais como um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, um maior apoio ao desenvolvimento pessoal e profissional, e um maior reconhecimento.

Porque é que isto acontece? A economia tem prosperado após a pandemia, obrigando as empresas a exigir mais dos seus trabalhadores do que em quase todos os ciclos económicos anteriores. Consequentemente, sectores como o Retalho, a Distribuição, os Transportes e a Hotelaria têm sido sobrecarregados pela procura dos consumidores, com uma força de trabalho desgastada. Os trabalhadores do sector da Saúde passaram por tantos traumas como os seus pacientes. E a maioria dos trabalhadores de TI continua a ser pressionada para desenvolver novos sistemas mais rapidamente para os seus empregadores, de modo a satisfazer as necessidades de locais de trabalho híbridos e remotos.

Agora que o mercado bolsista caiu e a inflação atingiu máximos, os empregadores estão a pedir ainda mais aos seus colaboradores. A mais recente pesquisa sobre tendências de trabalho efectuada pela Microsoft mostra que 87% dos trabalhadores se sentem produtivos, mas apenas 12% dos líderes concordam que o são – um cenário frequentemente referido como o paradoxo da produtividade. Os executivos e os gestores não apreciam o esforço que os seus colaboradores fazem, e este é um problema de gestão que tem de ser resolvido.

Os líderes têm de fazer a sua parte para resolver o problema do burnout, mas os colaboradores não devem simplesmente desligar-se e desistir silenciosamente em resposta a um ambiente de trabalho menos ideal.

 

Cuidar dos colaboradores é um bom negócio
Em primeiro lugar, os trabalhadores devem compreender que a grande maioria dos empregadores quer que os seus colaboradores sejam felizes. O custo de colaboradores infelizes é extremamente elevado. No meu recente livro, “Irresistible”, revelo que as empresas com as classificações mais elevadas no Glassdoor são as mais bem-sucedidas financeiramente e as mais duradouras.

Cuidar dos colaboradores é um bom negócio, e a maioria dos CEO sabe isso. Se se sentir sobrecarregado, mal tratado ou improdutivo devido a uma má experiência de trabalho, deve falar com a sua chefia. É provável que a sua chefia esteja a ser avaliada com base no seu nível de empenho, bem como na sua produção, pelo que o seu feedback e conselhos são importantes para ela e para a organização em geral.

Dar feedback pode ser um desafio e, nalguns ambientes, pode ter repercussões negativas. Todavia, se abordar o seu superior hierárquico de uma forma que o incentive a ajudar, com afirmações como “Estou demasiado ocupado”, “Qual a melhor forma de dar prioridade ao meu tempo?”, ou “Tenho uma sugestão para facilitar o nosso trabalho”, é provável que ele o ouça activamente. E a maioria das empresas está a trabalhar arduamente para abrir canais de feedback.

A experiência do colaborador, ou EX, é uma das maiores tendências em Recursos Humanos neste momento, com as empresas a gastarem milhares de milhões de euros em ferramentas de inquérito, de escuta passiva e de feedback para darem aos trabalhadores canais para partilharem as suas opiniões, anonimamente. Ao optarem por não se manifestarem e não se envolverem neste tipo de ferramentas e esforços de divulgação, os trabalhadores podem perder a oportunidade de não dar à empresa indicadores de que algo precisa de ser mudado e, consequentemente, não recebem ajuda.

O distanciamento do trabalho também pode afectar negativamente o seu desenvolvimento enquanto trabalhador e a sua capacidade de resiliência. Todos os empregos, todas as empresas e todos os trabalhadores enfrentam dificuldades nalgum momento. O trabalho, pela sua natureza, exige esforço, e os seres humanos cometem erros, naturalmente. Na minha carreira, tive alguns empregos de que não gostei.

Cada um deles era difícil por razões diferentes, mas acabei sempre por aprender alguma coisa ou descobrir formas de me adaptar. Estas experiências de aprendizagem foram valiosas para a minha carreira. Partindo do princípio de que se encontra num ambiente seguro (e que a dificuldade em causa não provém de um ambiente tóxico), pode ser útil para a sua carreira utilizar a dificuldade como uma experiência de aprendizagem.

Se optar pelo “quiet quitting” e se recusar a falar, os outros podem assumir que não está interessado, que não tem qualificações, ou que simplesmente não se adequa, o que pode levar à perda de oportunidades de promoções ou aumentos salariais, ou mesmo à perda do emprego. Dito isto, se não vê nenhuma vantagem em esforçar-se, principalmente se trabalha num ambiente tóxico onde sente que é maltratado por falar, ou é regularmente preterido apesar de fazer horas/trabalho extra, enveredar pelo “quiet quitting” pode parecer literalmente a única opção.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Novembro (nº. 155) da Human Resources, nas bancas. 

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