
Mulheres em cargos de liderança: a (r)evolução só pode acontecer envolvendo todos os intervenientes da sociedade
Por Maria João Baptista, presidente do Conselho de Administração da ULS São João
O Dia Internacional da Mulher, comemorado a 8 de Março, representa a luta que gerações de mulheres por todo o Mundo têm travado para uma sociedade mais justa, igualitária e evoluída. Ao longo da história da Humanidade, prevalece a discriminação e a violência exercida sobre as mulheres. A Revolução Industrial e a II Guerra Mundial trouxeram à tona a relevância do papel da mulher na malha social e no mercado de trabalho. O acesso à educação e o direito ao voto, a protecção dos direitos da mulher, a melhoria dos cuidados de saúde, têm permitido às mulheres o exercício da sua cidadania de forma livre e informada. Mas estamos longe de ter um verdadeiro equilíbrio entre géneros. A mutilação genital feminina, a repressão em regimes extremistas, a exploração sexual, são a crua realidade de milhares de mulheres no mundo.
Em Portugal, estratégias políticas e legislação específica asseguram a protecção social e laboral. É incentivada a educação e formação das mulheres, a sua integração em actividades profissionais diversas, desenvolvendo competências e assumindo carreiras profissionais que exprimam todo o seu potencial. Mas, a par deste contexto, mantém-se uma cultura milenar que posiciona a mulher em posições mais frágeis e a obrigam a ter de superar obstáculos que não se colocam aos seus colegas homens.
É reconhecida a existência de assimetrias salariais, a dificuldade na progressão nas carreiras e a insuficiente representação de mulheres em cargos de lideranças, em todos os sectores. É exigido às mulheres a capacidade de desempenho de múltiplas tarefas em simultâneo, incluindo tarefas domésticas e suporte à família. Para as mulheres é particularmente difícil a conciliação entre vida pessoal e profissional, representando uma pressão esmagadora que muitas vezes as leva a afastarem-se de cargos de liderança, para além do impacto na sua saúde, física e mental.
A presença de mulheres em cargos de liderança é relevante ao assegurar o pleno desempenho de capacidades e efectivamente garantir equidade de oportunidades. Mas é também um sinal de vitalidade das instituições, transpondo visões e estratégias diversas, com claro benefício para os sistemas.
A (r)evolução só pode acontecer envolvendo todos os intervenientes da sociedade. Sendo crítica a existência de legislação actualizada com políticas justas e de segurança, é necessário também promover a discussão nas escolas, nos locais de trabalho, nos media, nas famílias. Homens e mulheres têm de ser chamados à discussão, abandonando estereótipos, que muitas vezes agridem também o homem.
Na área da saúde, a participação activa das mulheres na prestação de cuidados é avassaladora. Na instituição onde trabalho, 76% dos profissionais são mulheres. São quadros muito diferenciados, com um papel crucial na resposta aos utentes e na permanente inovação tecnológica. Actualmente, 57% dos cargos de gestão e liderança são desempenhados por homens, o que mostra que na Saúde estamos a tender para um maior equilíbrio comparativamente a outras áreas.
Para além de medidas governamentais e legislativas, é necessário que as instituições desenvolvam localmente estratégias que favoreçam a representatividade de género em lugares de liderança. É imprescindível fomentar a participação das mulheres na decisão e criar ambientes laborais inclusivos e facilitadores. Necessitamos ferramentas que possibilitem maior flexibilidade aos profissionais, garantindo mais espaço para desenvolvimento e formação, mas também conciliação entre a vida profissional e pessoal.
Cada um de nós tem um papel a desempenhar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em que deixe de ser necessário haver datas comemorativas das lutas das mulheres, para se passar a celebrar as conquistas de homens e mulheres.