Não querem mesmo falar de saúde mental?
Por Ricardo Florêncio
Pelos motivos que infelizmente todos bem conhecemos, muito se tem falado de saúde nos últimos meses. Contudo, esse tema tem sido reduzido em larga escala à saúde física e, mesmo nessa área, à COVID-19, como se todas as outras patologias quase não existissem. Como se nas outras patologias não haja doenças graves e muito graves, que não podem ser esquecidas (mas isso é assunto para outro fórum).
Agora, há outro tipo de saúde, que de vez em quando aparece, quase em fogachos, como se tenha de ser abordado só para se ser politicamente correcto, mas à qual tem sido dada pouca, ou mesmo nenhuma, importância. Refiro-me à saúde mental. E aqui, não se resuma o problema apenas às pessoas com doenças de foro psíquico grave, nem mesmo apenas às situações de burnout, depressões e stress grave, as quais também começam a aumentar a ritmo acelerado, mas cujos números têm sido um pouco escondidos.
Os problemas de saúde mental estão muito mais disseminados e, conforme estudos recentes, encontram-se já muito espalhados por várias áreas, por muitos segmentos etários, pelas mais diversas tipologias de pessoas que se possa imaginar. Vários têm sido os alertas lançados, a partir de diversos quadrantes, desde especialistas a pessoas comuns, mas sem grande eco, aos quais não tem sido dada nenhuma relevância.
Este vai ser um problema que se vai agravar rapidamente na nossa sociedade em geral, e que vai ser um dos problemas com que as empresas se vão deparar no curtíssimo prazo. A saúde mental dos seus colaboradores, a todos os níveis de hierarquia, deverá ser claramente uma das grandes prioridades das organizações e dos seus responsáveis.
Bem sei que, actualmente, a prioridade absoluta das empresas é mesmo a luta pela sua sobrevivência. Mas a saúde mental dos seus colaboradores vai ser também um dos instrumentos críticos dessa mesma sobrevivência.
Editorial publicado na revista Human Resources nº 121 de Janeiro de 2021