Nuno Gonçalo Simões, PwC. 2024: Um ano de alguma contenção, mas com optimismo

Na análise aos resultados da 50.ª edição do Barómetro da Human Resources, Nuno Gonçalo Simões, director de Capital Humano da PwC, acredita que «estratégias de formação e adaptação tornam-se indispensáveis para garantir que os colaboradores estejam aptos a trabalhar em conjunto com as soluções baseadas na tecnologia e IA, maximizando a eficiência operacional».

 

«Os resultados do 50.º Barómetro, de maneira geral, parecem antecipar que o ano de 2024 poderá ser um ano de alguma contenção, ainda que com optimismo para as organizações.

Que a actual situação política de Portugal irá impactar a actividade das empresas é a certeza de 91% dos participantes. Com eleições programadas para Março, e com tudo o que isso implica, existirão certamente impactos/ atrasos em tomadas de decisão políticas com influência directa nas organizações do sector público e privado. Ainda que, com esta conjuntura de maior incerteza, a perspectiva da maioria dos participantes seja de que a evolução do emprego irá crescer (20%) ou pelo menos manter-se (40%), temos já um número considerável (40%) que considera que essa evolução será negativa.

Detalhe positivo é que, quando a análise é feita numa perspectiva mais micro e interna das suas próprias organizações, os valores referentes ao aumento do número de trabalhadores é de 65%, e somente 5% referem uma possível diminuição.

O ano de 2024 será também de um novo salário mínimo em Portugal, e essa situação está reflectida nos 100% de respostas a confirmarem que os salários irão subir nas suas organizações. Mais uma vez se nota maior conservadorismo das respostas na abordagem macro (Portugal) comparativamente à micro (própria organização), existindo maior confiança de que o aumento salarial nas organizações dos inquiridos será superior do que na generalidade do mercado laboral português.

Os aumentos salariais têm sempre um impacto significativo e directo nos custos laborais das empresas. Um salário mínimo mais elevado pode resultar em pressões adicionais sobre as finanças das organizações, especialmente aquelas que dependem de mão-de-obra intensiva. Por outro lado, um salário mínimo mais alto pode contribuir para a melhoria do poder de compra dos trabalhadores, promovendo maior equidade social.

O aumento em questão, para algumas empresas, pode significar a necessidade de reavaliar suas estruturas de custos, ajustar preços, ou até mesmo buscar eficiências operacionais para acomodar o aumento nos custos de mão-de-obra. Possivelmente, é por essa razão que a produtividade emerge como uma das prioridades na Gestão de Pessoas para 2024. A atracção e retenção de talentos, o upskilling, o reskilling e a integração da inteligência artificial (IA) são outras das prioridades escolhidas pelos respondentes que convergem para optimizar o desempenho organizacional e a produtividade.

As empresas competem não só por clientes, mas também por profissionais qualificados, e a sua retenção nas empresas é um factor importante, pois diminui risco e custos directos e indirectos. O upskilling e o reskilling surgem como estratégias essenciais, exigindo investimentos para manter a força de trabalho alinhada com as evoluções tecnológicas e as exigências do mercado. A crescente integração da IA intensifica este cenário.

Gerir equipas eficientemente requer a compreensão das dinâmicas entre colaboradores humanos e sistemas automatizados. Estratégias de formação e adaptação tornam-se indispensáveis para garantir que os colaboradores estejam aptos a trabalhar em conjunto com as soluções baseadas na tecnologia e IA, maximizando a eficiência operacional.

Deixo um último comentário para os resultados à questão relacionada com o nível de preparação das lideranças para os desafios que se avizinham. 40% dos participantes mencionam que somente uma minoria está preparada e 38% mencionam que a maioria está, mas que necessitam de actualizar as competências, ou seja, existe um trabalho grande a fazer por parte das equipas de Recursos Humanos nas organizações, sendo uma excelente oportunidade para reforçar o papel desta área junto das lideranças da empresa e, consequentemente, na participação da definição estratégica das suas organizações.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Dezembro (nº.156) da Human Resources, no âmbito da L edição do seu Barómetro.

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