Barómetro Human Resources. Também é papel das empresas cuidar dos colaboradores?

Longe irão os tempos em que à entidade patronal só era exigido que garantisse condições de segurança aos seus trabalhadores e pagasse um salário justo pelo trabalho desenvolvido. Agora – ou agora mais do que nunca –, as empresas são chamadas a ter um papel social. E estão a fazê-lo. Mas há temas em que o estigma ainda faz com que os profissionais não aceitem a “mão estendida”.

Neste XLVII Barómetro Human Resources, os especialistas respondem sobre saúde mental, turnover e outros temas da actualidade da Gestão de Pessoas.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Com o actual contexto de inflação e consequente perda de poder de compra de muitas famílias, várias empresas – na impossibilidade de fazer aumentar os salários “à proporção” – deram no início do ano apoios extraordinários, nomeadamente salário extra aos seus colaboradores. Mas os relatos de dificuldades mantiveram-se e, com as políticas adoptadas pelo Governo a não dar resposta suficiente às necessidades das pessoas (de acordo com o Eurobarómetro do Parlamento Europeu, que inquiriu 1002 portugueses entre 26 376 cidadãos da União Europeia, 70% dos portugueses afirmaram estar descontentes com as políticas que o Governo português adoptou para enfrentar o aumento do custo de vida e do preço da energia, mais do que a média de todos os países da UE – 65%), as empresas parecem estar a ser cada vez mais chamadas para assumir um papel social. Quisemos confirmar com os especialistas do Barómetro Human Resources se assim é.

Outro tema que continua na ordem do dia – principalmente desde a pandemia – é o da saúde mental (ansiedade, depressão, burnout…). Estão as empresas a tomar medidas concretas para dar resposta a esta realidade? Que impacto está (ou não) a ter na produtividade? E as pessoas, pedem/reconhecem precisar de ajuda? Ou o estigma ainda se sobrepõe?

E a entrada e saída de pessoas das empresas, está a aumentar? Qual a principal razão que está a levar os profissionais a procurar novos desafios? A mobilidade interna é uma aposta das organizações, para eventualmente minimizar o turnover? E o outsourcing é uma solução a que as empresas recorrem para terem maior flexibilidade na resposta às necessidades de talento? A nova lei, que proíbe que se recorra a esta possibilidade durante um ano, em caso de despedimento colectivo ou extinção de postos de trabalho, pode impactar significativamente as empresas?

Estas são as perguntas para as quais procurámos resposta nesta 47.ª edição do Barómetro Human Resources, junto do painel de especialistas. Apresentamos agora a análise aos resultados.

 

Saúde mental, um estigma que persiste
Se durante a pandemia se “celebrizou” o conceito de nanny employers, actualmente surge reforçada a ideia do papel social das empresas, não só no meio em que se inserem, mas sobretudo em relação aos seus colaboradores. E, segundo os resultados do XLVII Barómetro Human Resources, não se estão a demitir desse papel. À pergunta sobre se, “no actual contexto de inflação e subida de taxas de juro, que acarreta maiores dificuldades para as famílias, a tendência de as empresas assumi-rem também um papel social está a crescer”, a resposta surge peremptória: 89% dos inquiridos afirmam que sim. Mas, destes, a maioria (48%) ressalva que apenas numa minoria de empresas, enquanto 39% acreditam que esse papel é assumido pela maioria das empresas. Apenas 7% são de opinião de que se verificou durante a pandemia, mas agora não.

O papel social das empresas em relação aos seus colaboradores não se esgota – nem será o principal foco – em apoio “material”. O bem-estar dos colaboradores deve ser visto de uma forma holística, e o “cuidar” tem actualmente um dos seus principais focos na saúde mental que, dizem vários estudos, se tem vindo a degradar, na sociedade em geral, e nas empresas em particular. Nos temas da Saúde, nomeadamente transtornos mentais (ansiedade, depressão, burnout, etc.), metade das empresas (50%) garante ter programas neste âmbito disponíveis para os colaboradores, mas só uma minoria adere.

Só dois em cada 10 (19%) dos inquiridos afirmam que na sua empresa existem os programas, e as pessoas aderem. Dos perto de 30% que não têm programas de saúde mental nas suas empresas, 13% reconhecem que é por falta de capacidade, e para 11% há outras prioridades.

Um dado relevante é que – com estudos a comprovar que há cada vez mais pessoas com problemas/transtornos de foro mental – os profissionais não estão a pedir ajuda. Ainda que 83% dos inquiridos constatem que os seus colaboradores pedem ajuda, 70% ressalvam que só se aplica a uma minoria, e só 13% garantem que a maioria pede auxílio, percentagem igual aos inquiridos que afirmam que não, porque ainda existe estigma. Só uma percentagem muito reduzida (2%) afirma que os profissionais não pedem ajuda por não haver abertura por parte das lideranças.

Para tentar perceber a dimensão dos problemas/transtornos de saúde mental nas empresas, questionámos se são em número significativo na empresa e se estão a afectar a produtividade. Uma significativa maioria (72%) afirma que não afecta um número significativo de colaboradores na sua empresa, com 50% a constatarem também que não está a afectar a produtividade/ resultados da empresa, enquanto 19% admitem que sim. Mas só 3% dizem que não têm problemas de saúde mental na empresa. Ninguém afirma que são em número significativo e que estão a afectar a produtividade da empresa, mas 17% reconhecem que sim, que são em número significativo, mas não estão a afectar os resultados do negócio.

 

Fique a conhecer todos os resultados do XLVII Barómetro Human Resources na edição de Junho (nº.154) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).

E tem também o comentário dos especialistas:

– Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal

– Paulo Barreto, director de Recursos Humanos do Crédito Agrícola

– Verónica Soares Franco, Executive Committee Member & Chief Human Resources Officer do Pestana Hotel Group

– Marco Serrão, director de Gestão de Pessoas e Cultura da Galp

– Rita Piçarra, CFO da Microsoft Portugal

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