O futuro dos Recursos Humanos – simbiose entre Inteligência Artificial e habilidade humana?

Por Paulo Sousa, partner da LTPLabs

Na era da Inteligência Artificial (IA), acelerador imprescindível mesmo que replicável, da competitividade das organizações, continuam a ser as pessoas que fazem a diferença. Para além do papel da visão estratégica da liderança de topo, o sucesso de uma organização permanece intrinsecamente ligado à sua capacidade de encontrar as pessoas certas, suster a sua motivação e potenciar o crescimento do seu impacto. O que, num mercado de trabalho cada vez mais volátil, representa desafios diários para os departamentos de Recursos Humanos (RH). Felizmente, a tecnologia, e em particular a IA, pode ser uma poderosa aliada na resposta a tais desafios, quando bem combinada com a perícia dos profissionais de RH.

O papel revolucionário da IA estende-se a todo o pipeline de gestão de talento numa organização, principiando no recrutamento e selecção de candidatos. Tipicamente alicerçado na revisão de candidaturas, trata-se de um processo lento e aborrecido quando realizado em escala, o que o torna propício a erro humano. A boa notícia é que, combinando duas técnicas-chave de IA, esse processo pode ser, simultaneamente, acelerado e robustecido.

A primeira dessas técnicas é a IA Generativa, que permite processar e categorizar grandes volumes de dados não estruturados, tais como currículos, extraindo automaticamente os campos-chave. A segunda técnica é o Machine Learning que, quando aplicado sobre esses mesmos dados já previamente estruturados e anonimizados, tira partido do histórico do processo para encontrar as características dos candidatos que melhor correlacionam com o seu sucesso (quer no processo de recrutamento, quer mesmo na organização). Assim, é possível classificar automaticamente os currículos obtidos por grau de prioridade – não dispensando a sensibilidade do recrutador, mas apoiando-o e orientando-o para os currículos ideais para a vaga em apreço.

Saltando para o cerne do processo de gestão de talento, deparamo-nos com duas questões-chave em qualquer organização: que factores potenciam o desempenho das pessoas? Como identificar pessoas que, apesar do seu elevado desempenho, têm alta probabilidade de sair da organização a curto prazo, para que se actue de forma proactiva?

As técnicas acima referidas podem ajudar novamente, sobretudo em organizações de maior dimensão, em que a informação histórica é rica e diversificada. Primeiramente, deve compilar-se esse histórico para cada pessoa de forma anonimizada, entre dados individuais e de contexto (por ex., departamento, experiência à entrada, tempo na organização, percurso interno, dimensão e características da equipa, horário e formato de trabalho). Uma vez mais, a IA Generativa pode ser muito útil na recolha e processamento destes dados, frequentemente armazenados em documentos e outras fontes não estruturadas.

Em segundo lugar, há que recorrer ao Machine Learning para nos ajudar a estabelecer a conexão com a informação histórica de avaliação de desempenho e de saídas. Conseguimos assim extrair conhecimento valioso sobre a importância relativa de diferentes factores no impacto e na motivação das pessoas, ponto de partida para moldar a realidade das equipas e tornar a gestão de pessoas mais eficaz.

Generalizando, o papel da IA na gestão de RH não se esgota nos casos de uso acima descritos, já que as técnicas em apreço, assim como outras do repertório mais “clássico” de People Analytics, podem beneficiar desde o planeamento estratégico do recrutamento e da mobilidade interna (a médio/longo prazo) até processos operacionais, como a gestão de contratos. Importa, no entanto, entender que esse papel da IA não é geralmente de “pura automatização”: o seu enorme valor potencial será desbloqueado pela simbiose entre o poder da tecnologia e a habilidade de profissionais de RH capacitados para com ela trabalhar.

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