O papel da inteligência emocional no êxito dos empreendedores

Como o género e a idade influenciam dois aspectos fundamentais para o êxito dos empreendedores: a capacidade de compreender e gerir as emoções (inteligência emocional) e a capacidade de inspirar e motivar na liderança (liderança transformacional).

 

Por Guillermo del Haro, vice-decano e director académico na IE School of Science and Technology (IE University)

 

Actualmente, o mundo conta com cerca de 590 milhões de empreendedores activos, cujo ecossistema diversificado e dinâmico influencia cada vez mais a forma de liderar equipas e gerir empresas. Daqui, surgiu um novo estilo de liderança que, assente no nexo da inteligência emocional e da liderança transformacional, merece um olhar atento, sobretudo ao que o torna transversal a gerações e géneros.

Como é que podem as diferenças entre géneros e gerações moldar o tecido emocional e de liderança no mundo dos empreendedores? O espírito de inovação e a ousadia de arriscar que caracteriza o desenvolvimento empreendedor implicam, inevitavelmente, uma complexa jornada emocional. Assim, a inteligência emocional, ou seja, a capacidade de compreender e gerir as próprias emoções, é fundamental para os empreendedores, que abordam as suas iniciativas com paixão e motivação interna. O consciencioso exercício da inteligência emocional melhora significativamente os processos decisórios.

Este papel essencial da inteligência emocional nas actividades de empreendedorismo conduz a uma investigação mais alargada: poderão o género e a idade contribuir para o êxito do empreendedorismo? Como podem os indivíduos de diferentes géneros e gerações aplicar a inteligência emocional ao ambiente empresarial? De que forma podem esses factores determinar a presença ou ausência da liderança transformacional, um estilo que permite aos empreendedores identificar as oportunidades de mudança e conduzir as suas equipas com a inspiração e a paixão que lhes é tão intrínseca?

Eu e os meus coautores, María Teresa Ballestar, da Universidade Juan Rey Carlos, José Esteves, da Porto Business School, e Jorge Sainz, da Universidade de Bath, estudámos a forma como o género (quer sejam empreendedores do sexo feminino ou masculino) e a idade (a geração a que pertencem, dos baby boomers à geração Z) influenciam dois aspectos fulcrais para o êxito dos empreendedores: a capacidade de compreender e gerir as emoções (inteligência emocional) e a capacidade de inspirar e motivar na liderança (liderança transformacional).

Tal como a definiram os psicólogos John D. Mayer, da Universidade de Nova Hampshire, e Peter Salovey, da Universidade de Yale, em 1997, a inteligência emocional refere-se «à capacidade de percepcionar com precisão; de avaliar e expressar emoção; de gerar e/ou aceder aos sentimentos facilitadores do pensamento; de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e de regular as emoções para promover o crescimento emocional e intelectual ». A inteligência emocional aprofunda a nossa capacidade de percepcionar, processar e utilizar devidamente a informação emocional, proporcionando formas inovadoras de melhor compreender e avaliar o comportamento humano. Isto tem um impacto significativo nas capacidades dos empreendedores para fazer face aos constantes desafios e mudanças dinâmicas com que lidam.

Existem muitas ferramentas de eficácia comprovada para o estudo da inteligência emocional. Por exemplo, Chi-sum Wong e Kenneth S. Law, da CUHK Business School, desenvolveram a Escala Emocional de Wong e Law, que proporciona uma medição abreviada da inteligência emocional para o estudo do local de trabalho.

A medição baseia-se nas quatro dimensões de Mayer Salovey:

Auto-avaliação emocional (SEA), a capacidade dos indivíduos para compreender as suas próprias emoções;

Avaliação emocional dos outros (OEA), a capacidade dos indivíduos para percepcionar e compreender as emoções dos outros;

Utilização das emoções (UOE), a capacidade dos indivíduos para fazer uso das suas emoções com vista a melhorar o desempenho;

Regulação das emoções (ROE) ou, como o próprio nome indica, a capacidade dos indivíduos para regular as emoções.

Além disso, estudos prévios que também analisaram a relação entre a inteligência emocional dos líderes e os estilos de liderança transformacional chegaram a conclusões contraditórias.

Os resultados preliminares da nossa investigação confirmam que, entre os empreendedores, a inteligência emocional antecede a liderança transformacional. Os outros elementos que contribuem significativamente para os estilos de liderança transformacional são a OEA e a ROE, enquanto apenas algumas dimensões da inteligência emocional são influenciadas pelas coortes do género e da geração. O género afecta mais significativamente a OEA e a UOE, e a coorte geracional impacta a SEA, a ROE e a UOE.

Identificámos diferenças substanciais na inteligência emocional e nos estilos de liderança transformacional que atravessam géneros e gerações, mas não encontrámos nenhuma diferença significativa na liderança transformacional entre empreendedores do sexo masculino e feminino. Para além disso, não se observou nenhum efeito de interacção entre as coortes do género e da geração.

Historicamente, os estudos demonstram que as mulheres apresentam mais inteligência emocional do que os homens, tendência observada também nos empreendedores. Contudo, (e, em certa medida, inesperadamente), o nosso estudo constata que as mulheres empreendedoras da geração Z (nascidas entre meados dos anos 1990 e inícios da primeira década de 2000) obtêm pontuações de inteligência emocional inferiores aos pares do sexo masculino.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Julho (nº. 163) da Human Resources.

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

Ler Mais