O papel das empresas na formação das competências do futuro

A lacuna entre a procura das empresas por profissionais com competências digitais e a oferta disponível no mercado de trabalho está a aumentar drasticamente.

Por Fernando Braz, Country Leader da Salesforce Portugal

De acordo com um estudo global da McKinsey, quase 90% dos executivos nas empresas dizem que já têm uma escassez de competências digitais nas suas equipas ou esperam que isso venha a acontecer nos próximos anos. Na União Europeia, são quase dois terços das grandes empresas e pouco mais da metade das pequenas e médias empresas que consideram um desafio preencher funções de TI. Esta lacuna tem vindo a ser aprofundada desde o ano passado, à medida que a mudança para o digital em todos os aspectos dos negócios e da sociedade acelerou a uma velocidade acelerada.

Caso não sejam tomadas acções concretas em breve, esta falta de competências digitais tornar-se-á endémica. Mas os governos, organizações sem fins lucrativos e instituições de ensino não devem resolver esta questão sozinhos, e as empresas têm um papel fundamental a desempenhar ao repensarem as iniciativas de formação. Este papel não só irá ajudar a promover a recuperação económica a curto prazo, mas também irá permitir um crescimento sustentável e um futuro mais justo.

Os modelos de formação devem complementar a realidade da inovação

A principal razão desta lacuna de competências digitais é a disparidade crescente entre o ritmo de inovação e os modelos de formação, que permanecem estáticos. As empresas que procuram competir neste cenário de constantes mudanças, procuram afincadamente por profissionais com competências técnicas em áreas como programação, inteligência artificial e computação em cloud. O relatório do Fórum Económico Mundial sobre o Futuro dos Empregos concluiu que as principais competências procuradas até 2025 não irão apenas incluir design e programação, mas também “soft skills”, como influência social, liderança, criatividade, resiliência e aprendizagem ativa.

Os sistemas de educação e formação tradicionais não estão a preparar os profissionais para acompanharem os avanços tecnológicos e as competências mais amplas necessárias para irem ao encontro do que as empresas e a nova economia precisam e procuram. O custo do ensino superior, por exemplo, impediu muitas pessoas de procurarem programas de qualificação em tecnologia. Salvo poucas excepções, o modelo predominante ainda assume que o processo de aprendizagem pára com a licenciatura, mesmo que a inovação ocorra mais rápido do que nunca. Ao requalificar constantemente a força de trabalho, as empresas podem ajudar a criar uma cultura de aprendizagem contínua na nossa sociedade.

As empresas estimulam a economia e promovem a igualdade e inclusão

É necessária uma revolução nos sistemas de educação para tornar os processos de formação e aprendizagem mais disponíveis e acessíveis, tanto do ponto de vista de custo como de requerimentos necessários. Não precisamos de estar sentados numa sala de aula tradicional, mas precisamos de mudar um sistema para que esteja adequado e integrado na nossa experiência profissional, e que seja relevante para o momento onde estamos nas nossas carreiras.

Até agora, as empresas têm deixado a maioria dos governos e instituições de ensino reformarem a educação. Mas são as empresas que sabem quais são as competências que precisam hoje e que irão precisar amanhã, assim como são as empresas as especialistas em inovação. Por outro lado, sabemos ainda que as mulheres, profissionais de baixo rendimento, residentes de meios rurais e pessoas de origens sub-representadas correm o maior risco de ficarem para trás na requalificação por maiores e melhores competências digitais. Aqueles que não conseguem aceder ao conhecimento de que precisam para prosperar na revolução digital serão deixados para trás do ponto de vista económico.

As empresas têm hoje uma oportunidade única de aumentar o valor dos seus negócios, de contribuir para o crescimento económico e de promover a equidade e a inclusão. Essa oportunidade passa pela reinvenção das suas realidades, passando a serem também fornecedores de uma educação para a inovação, as empresas podem desempenhar um papel ativo na abordagem do desafio de aprofundamento das competências digitais. O compromisso que assumem agora para resolverem esta lacuna irá determinar a capacidade de investirem em talentos inexplorados nas suas equipas e garantirem que ninguém seja deixado para trás.

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