
O que podemos aprender com Jorge Bergoglio
Por Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders
Jorge Mario Bergoglio, nascido na bela cidade de Buenos Aires em 1936, deixou-nos no passado mês de Abril. A sua história de vida, rica e diversa, foi coroada em 2013 com a improvável eleição como Papa. Papa Francisco, como ficará para a história. Rezam as suas memórias que teve uma infância e juventude ditas “normais”. Como qualquer jovem argentino, foi um torcedor empenhado do seu clube, o San Lorenzo. Teve, ao que consta, uma namorada. Antes de entrar para o seminário, trabalhou como técnico químico depois de estudar numa escola secundária. Trabalhou num laboratório durante algum tempo e, igualmente, como segurança num bar, para se sustentar financeiramente. Além disso, deu aulas de literatura e psicologia. Estas primeiras experiências de trabalho e seu contacto com as classes operárias, são frequentemente vistas como formativas na consolidação do seu estilo de liderança humilde, realista e empático, mais tarde como padre, bispo e, finalmente, como Papa.
Nestes seus anos como chefe máximo da Igreja Católica, num tempo de grande mudança social, cultural e tecnológica, Jorge Bergoglio demonstrou vários traços importantes de liderança – que lhe permitiram afirmar o papel dessa mesma Igreja no espaço global. Destaco os mais relevantes.
Primeiro, a Humildade. Francisco foi conhecido pela sua humildade e estilo de vida simples. Escolheu viver em alojamentos modestos, preferiu invariavelmente trajes papais mais simples e enfatizava frequentemente a importância do serviço ao próximo. Além de valorizar a autenticidade, enfatizando uma relação pessoal com Deus em vez da adesão rígida às tradições.
Depois, a Compaixão. A sua ênfase na compaixão, na empatia e no cuidado com os marginalizados e vulneráveis reflete o seu compromisso com a justiça social. Falou frequentemente sobre questões como a pobreza, a desigualdade e a situação dos refugiados, o que lhe proporcionou uma enorme força moral.
Ainda a Inclusão e abertura à Mudança. Jorge Bergoglio dialogou com pessoas de diferentes origens e crenças e tentou chegar a grupos que se possam ter sentido excluídos pela Igreja. E abordou temas desafiantes e incómodos como o papel das mulheres na Igreja – mostrando a todos que não podemos enfrentar os desafios do futuro que as posturas e receitas do passado.
Ainda distintiva, a sua Comunicação, promovendo um estilo directo e acessível, compreensível por todos. A sua conhecida expressão “todos, todos, todos”, dita aqui por Lisboa num tom convicto e emocional, vale mil discursos sobre equidade e inclusão.
Para finalizar, talvez o ensinamento mais relevante, a sua Coragem. Francisco demonstrou uma postura desassombrada e corajosa para enfrentar o status quo, abordando questões controversas no seio da Igreja e da sociedade, não obstante as enormes resistências. Os seus esforços para reformar as finanças do Vaticano ou a forma implacável como enfrentou o flagelo dos abusos sexuais no seio da Igreja mostram de modo indelével esta característica.
Em suma, estas características contribuíram para o estilo único de liderança de Jorge Bergoglio – num contexto de elevada complexidade e competitividade interna pelo poder e numa estrutura milenar, plena de tradições e legados como é a Igreja Católica Apostólica Romana. E são ensinamentos que podemos trazer para organizações empresariais – afirmando assim visões e lideranças com propósito e foco no futuro.