Dar lucro já não chega, exige-se mais às empresa. As PME estão preparadas? Há competências de que precisam que não foram ensinadas nas escolas de gestão

Hoje as PME começam a sentir a necessidade de evidenciarem junto dos seus clientes empresariais e financiadores que têm boas práticas ambientais, sociais e de governação. Para isso, precisam de mais competências de gestão e sustentabilidade.

Por Sofia Santos, CEO da Systemic e da Systemic Future Academy

 

Estas práticas permitem às PME afirmar que estão a implementar acções que, por um lado, diminuem os impactes ambientais negativos decorrentes da sua actividade, e por outro tendem a aumentar o seu impacte positivo na sociedade. Mas porquê esta necessidade? Porque o que se considera ser boas práticas de gestão está a mudar, sendo expectável e desejável actualmente que a empresa crie valor para si e para a sociedade em geral.

Ou seja, actualmente não se espera apenas que uma empresa dê lucro, mas também que esse lucro não tenha origem em actividades que estão a contribuir significativamente para aumentar os impactes ambientais ao nível das alterações climáticas, poluição, da água, dos resíduos e da biodiversidade. Não se espera apenas que uma empresa crie trabalho na região, mas sim que este trabalho seja remunerado de forma digna, que exista investimento na formação dos colaboradores ao longo da sua vida, que seja um parceiro activo na comunidade envolvente e que ajude a mitigar os problemas sociais existentes à sua volta.

Ter práticas de gestão sustentável significa a empresa reconhecer o seu papel como agente de transformação da economia e da sociedade. Este papel implica que a organização não deva apenas ambicionar maximizar o lucro, mas sim deve ambicionar criar valor a curto, médio e longo prazo para a sua comunidade, país e mundo. E porquê? Porque se considera que uma abordagem de gestão deste tipo origina uma empresa mais bem gerida, com menores riscos, mais resiliente e com maior capacidade de antecipar e reagir ao impacto que as incertezas podem trazer ao negócio.

Ora nada disto foi ensinado nas escolas de gestão nos últimos 30 anos e, por isso, é muito comum que os gestores reajam de duas formas a este tema: recusam aceitar a sua importância, não acreditando que a gestão sustentável seja a nova forma de gerir empresas; ou ficam nervosos por não compreenderem os motivos desta mudança e por não conseguirem visualizar o impacte que estas novas exigências poderão trazer à forma usual de fazer negócio.

Existem muitas PME que já estão a ser questionadas pelos seus clientes empresariais e financiadores, sobre os seus relatórios de sustentabilidade, estratégia de diminuição da pegada de carbono, políticas de diversidade e de ética, políticas de compras ecológicas entre outros. Existem também financiadores que perguntam se a empresa já identificou quais os potenciais impactos financeiros que as alterações climáticas podem trazer ao negócio, e o que está a empresa a fazer para os mitigar/evitar. As PME são agora chamadas a ter a chamada matriz de dupla materialidade, que vem complementar a abordagem tradicional de materialidade financeira, trazendo agora a componente de riscos associados com os temas ambientais, sociais e éticos.

Tudo isto é novo para muitas PME. Tudo isto ainda é, de certa forma, abstrato para muitos dos gestores de PME que estão habituados a um pensamento mais prático e de decisão imediata. É por isso urgente que estes gestores tenham formação sobre sustentabilidade e sobre as práticas de ESG que podem desenvolver nas suas organizações. Precisam de formação prática onde consigam compreender a teoria subjacente, mas acima de tudo consigam sair da formação com ideias concretas do que podem aplicar na sua empresa.

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