Priorizar. Como funciona, mesmo?

É comum quando ficamos assoberbados de tarefas e questões para tratar, começarmos a pensar na importância de saber gerir o nosso tempo e, consequentemente, priorizar o que temos para fazer. Planos, quadros, ferramentas, são coisas que não faltam para nos ajudar nesse sentido. É então que nos entusiasmamos com as várias armas de que nos munimos, experimentamos, achamos que encontramos a solução, mas infelizmente os resultados têm tendência a durar pouco e, com eles, o nosso entusiasmo.

Por Inês Sottomayor, Coach e membro do Grupo Português de Coaching da APG

 

Nos dias que correm, cada vez oiço mais a queixa, e contra mim falo, de que não há tempo para nada. Os vários contextos misturam-se, profissional, pessoal, social (o pouco que resta dele), criando um emaranhado de acontecimentos ao longo do dia, que nos deixa exaustos, e na maior parte das vezes sem a satisfação de dever cumprido. Ou seja, não há plano que nos valha no meio de tanto caos e incerteza.

Acredito que a questão não está tanto ao nível das tarefas, de saber priorizar os nossos comportamentos, mas sim ao nível do que realmente priorizamos na nossa vida, o que valorizamos efectivamente. Por norma, estamos num estado inconsciente de quais são esses valores, e mesmo que estejam claros será que temos a mesma clareza quanto às acções que nos levam a vivê-los em pleno? Esta nebulosidade e mistura entre um nível e outro leva-nos muitas das vezes a correr incessantemente atrás de algo que nem sabemos muito bem a direcção. Sentimos que fazemos esforços sobre-humanos sem realmente obtermos os resultados que pretendemos.

Não menos comum é descobrirmos aquando da tomada de consciência do que nos move, de uma incongruência entre o que valorizamos e a priorização das nossas tarefas, e é isso que muitas das vezes gera a nossa insatisfação e frustração.

Exemplo comum disso, é uma pessoa valorizar muito a família e no seu dia a dia passar 10 horas a trabalhar, 8 horas a dormir (com sorte), 3 horas nas redes sociais e internet, 3 horas nas tarefas domésticas… E assim o tempo voou.

Vamo-nos dando a desculpa que trabalhamos para o bem-estar da família para poder proporcionar as melhores condições. Num misto de atordoamento e sucessivas desculpas, os dias vão correndo. Até que um dia acordamos um pouco confusos por todo este ramerrame e parece-nos uma vida sem sentido, pouco ou nada gratificante e muito insatisfatória.

Um dos conceitos que aprendi sobre o tempo, é que realmente ele não estica, e isso já todos aprendemos, por vezes da pior maneira. Mas, sim, ele molda-se às nossas prioridades e por isso é tão importante esta clareza sobre o que realmente importa. Para que o possamos usufruir da melhor maneira e obter os melhores resultados possíveis, para que o nosso tempo seja gratificante.

Nós temos a opção de escolher e estabelecer essas prioridades, defini-las alinhado com o que nos faz sentido no momento, ou a própria vida encarrega-se disso e perdemos o controle.

Não pretendo dar-vos uma ferramenta de gestão de tempo e sim despertar um pouco mais para estas questões e para o verdadeiro sentido das vossas acções, o que está por detrás que nos faz acreditar que vale a pena.

Por isso, agora, convido-vos a fazer o exercício de, em vez de priorizarem as vossas tarefas, priorizem o que valorizam e só depois atribuir o tempo que querem despender com cada um. Então aí encaixem o que “têm“ de fazer. Talvez se surpreendam com a reviravolta das vossas prioridades!

 

 

 

 

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