Quando o gestor é a marca
Opinião de Catarina Horta
Directora de RH, Randstad Tempo-Team
Há profissionais cujo nome, pelo valor que o mercado lhes atribui, é maior do que a empresa ou do que a equipa que representam. Há outros, que sendo igualmente competentes, são mais associadas à marca ou à empresa que integram.
Por exemplo, no mundo do futebol, José Mourinho é um treinador cujo nome vale como marca independentemente das equipas que treina e é difícil identificar uma forma de jogar “à Mourinho”, que não a orientação para os resultados. Já Guardiola ou Ferguson são treinadores que surgem associados essencialmente a um clube ou a uma forma de jogar. São ambos excelentes e estão associados a grandes resultados do futebol actual. Ou seja, não se distinguem na competência, embora possamos gostar mais do carisma de um, da discrição do outro ou da “alma raivosa” do terceiro. Simplesmente o nome de Mourinho é maior do que qualquer marca que tem representado, ao ponto de o vermos em campanhas publicitárias a vários produtos e serviços, o que quase não acontece com os outros dois nomes.
Noutras carreiras profissionais este fenómeno também acontece. Há pessoas cujo nome se torna uma marca no sector profissional onde actuam, e para além de serem reconhecidas pelos seus pares, dão notoriedade às organizações por onde trabalham. Outras há, que são reconhecidas porque a visibilidade das empresas que representam é de tal forma forte que essa notoriedade é importante por si, independentemente das suas competências profissionais.
Sem a máquina mediática de um mercado que move milhões como o futebol é importante para qualquer gestor perceber em que campeonato profissional joga. E assim perceber se a marca/empresa que representa pode ofuscar o seu valor como profissional e pode não estar a dar visibilidade às suas características pessoais. Também há exemplos de gestores com uma marca pessoal forte numa organização com uma marca forte – Zeinal Bava é um nome conhecido pelas mudanças de gestão que imprimiu na PT e ninguém desconhece a PT em Portugal.
Por outro lado, também é importante que os gestores que se tornaram uma marca não perderem a humildade de perceber que, apesar do valor que trazem à organização, estão em cada momento a contribuir para aquela organização e que o valor que trazem não lhes é intrínseco nem pessoal, mas sim uma competência de especial valor. É de valor para si próprios porque se o mercado os reconhece há que cuidar desse valor, mantê-lo e desenvolvê-lo. Mas também perceber que se a sua marca é importante durante o tempo em que permanecerem nessas organizações é fundamental deixar sementes dessa marca nas equipas que gerem, no desenvolvimento dos talentos dessas organizações e na promoção das competências das pessoas. Se o gestor é a marca há que a tornar viral.