Que prioridades para a Lei Laboral? Ricardo Parreira (PHC Software) responde

Ricardo Parreira, CEO da PHC Software, identificou quais deviam ser as prioridades do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) e que medidas deveriam ser prioridade em termos de trabalho.

 

«O mercado de trabalho é um desafio para qualquer executivo, especialmente quando o País enfrenta constrangimentos significativos relativamente à sua produtividade e desenvolvimento económico. Acredito que seja fundamental que o País dê espaço a políticas que promovam o crescimento natural dos salários, a redução da carga fiscal, simplifiquem a burocracia do Estado, e incentivem a inovação.

É imperativo aumentar a remuneração média em Portugal, mas isso não se faz por decreto. Apenas com o aumento das condições que as empresas têm para oferecer melhores rendimentos aos seus colaboradores. Para que seja possível oferecer salários justos é importante reduzir os custos que as empresas têm com os trabalhadores. Actualmente, um colaborador que recebe 1500 euros líquidos custa à empresa cerca de 2500 euros. Devemos pensar e debater formas de aliviar a carga fiscal das empresas para que os trabalhadores possam ter acessos a melhores salários. A redução da carga fiscal para as empresas também vai permitir que estas aumentem os salários dos trabalhadores sem comprometer a sustentabilidade financeira.

A segurança psicológica é um elemento vital para o desempenho das equipas. Um estudo da Google mostrou isso claramente, e a liderança tem um papel fundamental na criação de um ambiente seguro, evitando críticas em público e promovendo a confiança. Para isso, Portugal precisa de investir na formação dos seus líderes para que estes possam criar ambientes onde as pessoas se sintam bem e motivadas. Criar estímulos à formação das lideranças é fundamental para o bem-estar e a produtividade no local de trabalho.

A conciliação entre trabalho e vida familiar é outro elemento crucial para o bem-estar e a saúde mental dos trabalhadores. Iniciativas como “happy fridays”, em que os colaboradores podem tirar uma sexta-feira por mês para um fim-de-semana prolongado, podem ter um ganho de produtividade na ordem dos 8%, e faz sentido promover um projecto-piloto para integrar esta prática de forma mais alargada nas empresas portuguesas.

Valorizar os exemplos de sucesso e o conhecimento dos mais velhos é também essencial para que não se perca o conhecimento construído dentro das empresas. Programas de mentoring intergeracional podem aumentar a compreensão mútua e fomentar a troca de conhecimento entre diferentes gerações. Porque não criar programas de estímulo para que tal aconteça?

É também importante olhar para a forma como hoje está estruturado o subsídio de desemprego, Por um lado, é fundamental para a segurança financeira e o equilíbrio social, contudo, o foco deve estar na reintegração dos desempregados no mercado de trabalho, com estímulos à criação de boas oportunidades de trabalho, reduzindo o tempo que as pessoas permanecem desempregadas e que tem um custo elevado, directo e indirecto, para o País.

Reduzir as barreiras à inovação é também prioritário para melhorar a vida das pessoas nas empresas. Medidas como as novas empresas terem isenção de impostos sobre registos de patentes, isenção de IRC nos primeiros dois anos de actividade desde que o lucro fosse investido, ou criar incentivos para as universidades desenvolverem projectos de investigação ao alcance das PME seriam muito benéficos. É algo que estimula as empresas, mas também pode fixar jovens no País e trazer dinamismo que atrai o talento para as empresas nacionais.

Estas são algumas ideias, e certamente que haverá muitas mais. Mas acredito que estas podem ser prioridades para criar um país onde existem melhores e mais desafiantes oportunidades de trabalho, em empresas com maiores condições para as oferecer.»

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº. 162) da Human Resources, nas bancas.

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