Quem vão ser os novos dirigentes das “coisas” públicas?
Opinião de Fernando Neves de Almeida
Country President Boyden Portugal
Todos estamos conscientes de que sacrifícios são características de situações que cada vez mais Portugueses vão viver e, alguns, têm esperança de que valham a pena, para que possamos desenhar um futuro Portugal com melhores condições para as gerações vindouras.
Dito isto, é importante a competência dirigente de quem está no governo. Cabe ao Primeiro Ministro e ao seu gabinete Ministerial definir a estratégia para o País (dentro da amplitude que lhes é imposta pelo exterior) e, mais importante, ser capaz de a implementar em tempo útil. Boas ideias e intenções não passam disso mesmo, boas ideias e intenções, até se materializem em algo de útil . Os Portugueses estão um pouco fartos de serem cidadãos de um País cujos dirigentes prometem, prometem e, depois, com toda uma panóplia de razões e motivos mais ou menos bem explicados, nada cumprem.
Mas centrem-nos num ponto: a estrutura da administração pública. Seria uma lufada de ar fresco termos um governo que realmente alterasse (uma vez que já o prometeu fazer) a estrutura do Estado, enquanto estrutura de gestão. Dizem que há serviços a mais, institutos a mais, organismos a mais, municípios a mais, freguesias a mais e outras tantas coisas a mais e garantiram-nos que é desta que o panorama vai ser mudado. Acredito que é uma necessidade, até porque o anterior governo também já o tinha constatado. Que haja agora capacidade de passar da “estratégia” para a implementação.
Essa capacidade a que me refiro, capacidade de gestão, ou existe, ou não existe. Os partidos em que a maioria dos Portugueses votaram, deram origem à escolha do Primeiro Ministro que, por sua vez escolheu os ministros e, porventura em conjunto os Secretários de Estado e restante staff governativo. Portanto, ou estes senhores a têm, ou não a têm. O tempo e os resultados no-lo dirão. No entanto, embora esta macro estrutura seja o fundamental em termos de visão para o País e capacidade de implementação dessa visão, não é a determinante/suficiente para o funcionamento eficaz e eficiente da coisa pública. Se há que desenhar uma nova estrutura de administração, então que seja dirigida por gestores competentes. Qualquer serviço pago pelos cidadãos deve ser “entregue” da forma mais eficiente e eficaz possível.
Daqui decorre que cada dirigente deve ter orientação para o cidadão (nos negócios diríamos orientação para o cliente), capacidade de organização e planeamento por forma a saber diferenciar o urgente do importante e o fundamental do acessório. Por outro lado, muitas das pessoas existentes nestas estruturas estão altamente desmotivadas e pouco crentes em mudança. Assim, os líderes desses serviços têm de ser “feiticeiros da mudança”, ou seja, pessoas com uma enorme capacidade de motivar (sem se deixarem levar pelas desculpas de que na função pública e afins não se consegue motivar pessoas) e de liderar pelo exemplo. É fundamental que estes dirigentes consigam mobilizar a imensa capacidade de entrega que existe, com o duplo objectivo de contribuir para o bem dos cidadãos e para a felicidade de quem presta os serviços. Finalmente, é necessário que estes dirigentes possuam uma boa capacidade de coaching e uma atitude de auto-motivação e espírito de missão permanentes. Coaching porque se irão deparar com colaboradores que precisam de um acompanhamento mais próximo para que as suas atitudes no trabalho mudem; auto-motivação e espírito de missão porque, na generalidade dos casos neste universo, aquilo que faz acordar todos os dias com alegria e energia para trabalhar é constatar os bons resultados que se estão a obter e sentir a felicidade dos colaboradores. No sector privado, poderíamos juntar a isto mais dinheiro ou qualquer outro tipo de recompensa. No entanto, não é do sector privado que falo e acreditem que existem muitos de nós com esse tipo de brio profissional que, embora não desprezem o dinheiro, dão muito valor à realização e à contribuição
para um bem maior.
Há que reparar que competências técnicas foi algo que não referi. Não foi por acaso. Estou a falar de gestores que podem obter o know how técnico nas suas equipas e/ou no exterior.
Em suma, o que o País necessita é de dirigentes com capacidade de planeamento e organização, orientação para o cidadão, capacidade de motivação e de liderança de equipas, competências de coaching, auto-motivação e espírito de missão.
E como escolher estas pessoas? Por favor não façam como os executivos anteriores. Deixem o recrutamento para os profissionais, mas não somente quando não se lembrarem de alguém para os lugares. Muita gente, menos bem escolhida, a estes níveis intermédios da administração pode comprometer enormemente o sucesso do desempenho deste governo.
E cuidado com a pseudo isenção nos concursos. O que interessa são os critérios de escolha e as formas de avaliar os candidatos. Gostava de ver neste executivo um exemplo nos processos de gestão de pessoas, semelhante ao rigor orçamental que pretendem seguir.