Recuso-me a aceitar o “novo normal” corporativo! Até porque, de novo, tem muito pouco!

Por Carla Caracol, Directora de Recursos Humanos do Grupo Renascença Multimédia, Professora Universitária, membro da Direcção Nacional da APG e da DCH Portugal

 

Desde há uns largos meses a esta parte, decorrente da crise pandémica vivida e das necessárias adaptações que todos, sem excepção, tivemos que fazer às nossas vidas, a comunicação social tem estado impregnada com a expressão o “novo normal”.

Assume-se que se vivencia um paradigma disruptivo no que concerne ao mundo do trabalho, mas, se no que respeita à utilização massiva de EPI’s e demais exigências de mitigação do risco de contágio por COVID nos locais de trabalho, incluindo o recurso ao teletrabalho, percebo a utilização do “novo”, no que em tudo o mais respeita ao mundo corporativo, permitam-me discordar, de novo tem muito pouco! Até porque o remanescente, para além do referido, é o que os profissionais de Recursos Humanos defendem como crítico há décadas: as competências!

Há um tempo (natural) para resistir… depois, o que resta, é a imperatividade de nos adaptarmos!

Quem continua a resistir à velocidade da transformação do status quo, mantendo a nostalgia do mundo a que estava habituado, em que tinha a falsa sensação de controlar todas as suas variáveis e condições, continua a ter maior dificuldade em aceitar que a mudança é inevitável! E isto acontece porque continua a ter uma visão de dentro para fora quando, já há umas décadas, a abordagem é de fora para dentro, com a consciência que o umbiguismo tem um desempenho de curta duração e que as oportunidades de crescimento, de evolução, se criam e que, quanto maiores são os desafios, melhores profissionais seremos.

As competências que todos tivemos (e temos) que mobilizar, e que são agora consideradas essenciais, sempre foram necessárias. A adaptabilidade/flexibilidade, a capacidade de resolução de problemas complexos, a empatia, a resiliência, entre tantas outras, poderiam apenas não estar nos descritivos funcionais, mas eram, certamente, factores críticos de sucesso e diferenciadores no que respeita ao foco simultâneo em resultados e pessoas.

Inclusive, se analisarmos, honesta e conscientemente, alguns casos de sucesso profissional, até entre a nossa rede de contactos pessoais, percebemos que todos detêm este perfil. E não, não sobressaíram apenas no decurso da crise pandémica. Certamente, estas pessoas souberam interpretar o mercado, ler as tendências e procuraram dar resposta às exigências para se tornarem profissionais mais capazes e, consequentemente, mais valorizados.

Este é o normal! O normal é não nos acomodarmos, não protelarmos, não ficarmos apenas pelos níveis de proficiência necessários para o desempenho da actual função! O normal é desafiarmo-nos, é percebermos que, mesmo estando bem, podemos ser sempre melhores, é desenvolver o nosso potencial, é procurar caminhos alternativos, improváveis, só porque a nossa intuição assim o dita. Até porque a intuição funciona com base em todo o conhecimento e experiência acumuladas, pelo que é mesmo para a ouvir com atenção!

O normal, independentemente da sua temporalidade, traz a responsabilidade da acção, em todos os nossos domínios de actuação e, quanto mais subirmos a fasquia, quanto mais exigentes formos, mais estaremos a contribuir para a normalização do rigor, da qualidade, da excelência!

O tecido empresarial português (e não só) está altamente fragilizado! Certamente poucas eram as empresas preparadas para uma epidemia à escala global, mas acredito seriamente que, apesar de todos os constrangimentos, aquelas que são exímias na gestão das suas pessoas, que têm uma cultura enraizada de gestão do talento, sustentada e promotora na/da excelência, conseguiram estar na pole position.

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