Responsabilidade Social: Relançar a economia através da capacitação de pessoas

A pandemia causada pela COVID-19 levou a Fundação Ageas a lançar três planos de Emergência Social após ter identificado as maiores carências que atingiram a sociedade. Não foi esquecido o desemprego, que apresenta tendência crescente.

 

Por Sandra M. Pinto

 

Instituída em 1998, a Fundação Ageas assumiu, desde o início, o compromisso de apoiar a comunidade, através do voluntariado corporativo e da solidariedade social, desenvolvendo programas com impacto social na sociedade.

Célia Inácio, presidente da Fundação, sublinha: «Nascemos de uma grande vontade de promover o voluntariado, de humanizar o apoio empresarial às comunidades mais desfavorecidas e vulneráveis, procurando estimular o espírito de cidadania activa do universo do Grupo Ageas Portugal, bem como dos nossos mediadores, parceiros, familiares e amigos. Juntos, somos a força viva que faz mover cada projecto em que estamos envolvidos e inspiramos compromisso e orgulho, de forma humana e calorosa, actuando com solidariedade no sector social, especialmente no momento como aquele que hoje vivemos, onde todas as fragilidades que a pandemia realçou, reforçou a importância daquela que é a nossa missão.»

A intervenção da Fundação Ageas divide-se em três áreas estratégicas:

  • Voluntariado Corporativo. Através deste primeiro eixo, mobilizam-se voluntários para dar apoio a diversas instituições de solidariedade social, de Norte a Sul do País e Ilhas. As iniciativas neste âmbito consolidam-se num compromisso de cidadania activa, bem como num estreitar de laços entre as várias equipas do Grupo Ageas Portugal. «Levamos aos colaboradores valores como a entreajuda, a colaboração, a escuta e a solidariedade, valores tão importantes a nível pessoal como profissional, sendo que apoiamos uma diversidade de causas, sempre relacionadas com a inclusão, a educação e a saúde», esclarece a responsável.

 

  • Empreendedorismo e Inovação Social. Este segundo eixo de actuação conta com um programa próprio com a Escola de Impacto. «Neste âmbito, somos ainda investidores sociais de alguns projectos apoiados pelo Portugal 2020, tais como os projectos de empreendedorismo social e de inclusão, “55+”, “Vila com Vida”, ou ainda “abém:”», enuncia Célia Inácio.

 

  • Impacto Social Sustentável. O terceiro eixo apoia «iniciativas que assumem o compromisso de contribuir para um futuro melhor nas áreas da saúde, educação e inclusão, sendo a fundação parceira de projectos como a LINQUE, a Epis e a Fundação do Gil, entre muitos outros».

 

E agora, a pandemia Como parte do Grupo Ageas Portugal, a Fundação Ageas integrou desde o primeiro momento o plano de contingência do Grupo de resposta à pandeia. A presidente explica que a primeira preocupação, relacionada com o risco de contágio e face às medidas comunicadas pelas autoridades de saúde, consistiu em suspender todas as actividades com voluntários, bem como acções de team building solidários agendados para os meses seguintes. Mas «a responsabilidade de intervir neste quadro de pandemia é totalmente inerente à missão da Fundação Ageas que, enquanto organização corporativa de solidariedade social, desenvolve as suas actividades em parceria com dezenas de instituições de apoio às comunidades mais carenciadas e/ou vulneráveis».

Assim, a Fundação procurou adaptar-se, desenvolvendo novas formas de manter a sua missão solidária activa. «Sentimos, de imediato, a necessidade e a relevância de incentivar e salvaguardar o papel específico das instituições nossas parceiras, aquelas que lidam diariamente com as populações mais vulneráveis e de risco, designadamente pessoas idosas ou com doenças crónicas, famílias carenciadas, sem-abrigo, entre outras», destaca Célia Inácio. Essas instituições foram logo contactadas, para identificar rapidamente as necessidades prioritárias. Foram elas: a fome, o isolamento dos mais idosos, a necessidade de equipamentos de protecção individual (EPI) e de equipamento informático para as aulas à distância.

Neste contexto, a Fundação Ageas reforçou a parceria que já tinha com alguns parceiros, como a AMI – Assistência Médica Internacional, no apoio aos mais carenciados e vulneráveis através do projecto “os AMIgos são para as ocasiões”, com voluntários e angariação de fundos; com a Go Parity e o movimento Tech4Covid19 de angariação de fundos para aquisição e distribuição de EPI para os hospitais; e com o Movimento SOSvizinho, que ajuda pessoas com maior vulnerabilidade, vizinhas e isoladas, através da distribuição de bens essenciais.

 

Planos de emergência social
A Fundação Ageas criou três Planos de Emergência Social para responder de forma estruturada e adequada às crescentes necessidades de apoio social: 1.º Plano de Emergência Social contra a Fome e o Isolamento, que veio responder ao aumento exponencial das necessidades em bens alimentares dos mais vulneráveis e ao isolamento dos idosos, por via do fecho dos Centros de Dia, devido à COVID-19. «Este plano específico passou por um apoio financeiro e humano: financeiramente, a Fundação Ageas duplicou o montante recebido da consignação fiscal (IRS de 2018) para apoiar sete instituições, cuja missão é ajudar os mais carenciados na luta contra a fome», esclarece Célia Inácio, concretizando: «Através das instituições Porta Solidária e SAOM, no Porto; CASA, Comunidade Vida e Paz, É um Restaurante e SoUma, em Lisboa; e CASA, no Funchal, chegámos a cerca de 1700 pessoas, tendo sido doadas mais de 11 toneladas de alimentos.»

2.º Plano de Emergência Social de Protecção Individual para Lares e Serviços de Apoio ao Domicílio, que consistiu na compra de EPI, oferecidos a 23 instituições, de Norte a Sul do País, impactando mais de 700 técnicos e mais de dois mil beneficiários. «Sentimos que foi um apoio significativo na imensa falta de meios destas instituições e acreditamos que se todos nos co-responsabilizarmos pelo bem comum, por pouco que seja, faremos a diferença nas comunidades», acredita a responsável.

3.º Plano de Emergência Social para a Educação, que visa minimizar o impacto da educação à distância nas crianças e jovens mais vulneráveis sem acesso a computador nem Internet e, assim, facilitar a continuidade da aprendizagem neste contexto de pandemia. «Desde 15 de Setembro que doámos 50 computadores, com o apoio da Dell, e 50 acessos à Internet, oferecidos pela Altice Portugal», destaca Célia Inácio, revelando que no âmbito desta estratégia de minimização dos impactos da COVID-19 na sociedade foram investidos 275 mil euros.

 

No terreno
Os diferentes planos foram implementados em parceria com organizações sociais parceiras da Fundação Ageas que actuam no terreno e que lidam com as populações mais vulneráveis e de risco. «De destacar também a colaboração de 172 voluntários e 436 doadores», faz questão de sublinhar Célia Inácio, que acrescenta que, em todos estes planos de actuação, a principal preocupação foi incentivar e salvaguardar o papel específico das instituições de solidariedade social.

O apoio financeiro contra a fome beneficiou sete instituições. «Foram cerca de 1700 beneficiários, bem como mais de 26 mil euros doados, um equivalente a 11 toneladas de alimentos», avança, enquanto no programa contra o isolamento, “Chamada Amiga – Adopte um avô”, 60 voluntários “adoptaram” 60 avôs/avós, provenientes de 12 centros de dia e afins, traduzindo-se em mais de 300 horas de conversação via telefone.

No Plano de Emergência Social de Protecção Individual para Lares Serviços ao Domicílio, os voluntários da Fundação Ageas produziram mais de 12 mil máscaras comunitárias, ou de uso social, as quais foram doadas a organizações sociais, a grande maioria lares.

Célia Inácio acredita que «os números falam por si», tal como os testemunhos recebidos das organizações sociais apoiadas, «desde o primeiro instante, todos mostraram a importância e a diferença que os planos de Emergência Social implementados pela Fundação Ageas fizeram naquele preciso momento».

Além dos planos acima referidos, e depois da urgência inicial, foi essencial pensar no futuro e na nova realidade, destacando-se outro grande problema social e económico, o desemprego, que apresenta tendência de crescimento. «O período de confinamento e a consequente paragem da economia fez aumentar drasticamente a percentagem de desempregados em território nacional», constata a responsável.

«A Fundação Ageas quer ser parte da solução, evitando o desemprego de longa duração e ajudando a relançar a economia, através da capacitação de pessoas, mas também da sua motivação, de forma a voltarem a acreditar que é possível recomeçar.» Isto explica o nome da versão online da Escola de Impacto, “Relança-te”, lançada em parceria com o Impact Hub Lisbon, que terá a seu cargo a sua implementação. «Este programa é destinado a pessoas com mais de 21 anos que perderam o emprego durante esta crise pandémica», explica Célia Inácio. «Consiste num percurso de capacitação e motivação de mais de seis meses que inclui um bootcamp, um programa de aceleração e de incubação, acompanhado por formadores e mentores experientes. Todas as fases prevêem um processo de selecção e só os projectos escolhidos seguem para a fase seguinte.»

Para apoiar a mudança para o empreendedorismo, a Fundação Ageas oferece uma bolsa de 1500 euros a cada um dos 10 projectos seleccionados, para os três meses de Incubação, tendo as candidaturas decorrido até 12 de Outubro.

 

Nunca baixar os braços
A missão da Fundação Ageas é investir na comunidade, pelo que vai continuar a agir e a adaptar as suas iniciativas à nova realidade. «Na verdade, este período mais conturbado da nossa história só reforçou a importância da nossa missão e de tudo o que temos vindo a fazer», defende Célia Inácio. «Graças aos nossos voluntários e parceiros da economia social, vamos continuar a agir com o coração e a ter um impacto social positivo na sociedade.»

Relativamente a futuras acções, a presidente refere que vão ficar atentos às prioridades e urgências de solidariedade social dos parceiros. Por outro lado, a Fundação vai aumentar, progressivamente, as actividades de voluntariado no terreno, com todos os cuidados de protecção e prevenção que a situação requer, preservando a saúde de todos. «Existem muitas formas de ser voluntário e solidário e, agora mais do que nunca, todo e qualquer apoio que possamos dar à comunidade é essencial.»

Célia Inácio reitera: «Momentos como o que agora vivemos reforçam a importância que entidades corporativas, como a Fundação Ageas, assumem perante a sociedade, não somente num propósito, mas também pela forma como se co-responsabilizam pelo bem comum. Por pouco que seja, faremos a diferença nas nossas comunidades se formos muitos a agir. Não podemos esquecer que haverá um período pós-COVID-19 que evidenciará muito mais dificuldades do que as que tivemos nestes últimos meses e que ainda vamos ter. Por isso, é importante que, após uma solução para o problema de saúde pública que vivemos, as questões sociais não sejam esquecidas.»

Olhando para os próximos meses, a responsável não esconde que serão tempos de grande incerteza. «Pela segunda vaga, mas não só. Será um período em que muitas medidas de apoio acabam e, por isso, a sociedade vai continuar a viver momentos de grande dificuldade.» Não obstante, encara «o futuro com grande esperança». E confia que «a entreajuda e a co-responsabilização se multipliquem e perdurem no tempo, COVID e pós-COVID»

 

Este artigo foi publicado na edição de Novembro (nº. 119) da Human Resources.

 

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