Sabe o que é a ambidestria organizacional? Vai querer desenvolvê-la na sua empresa

Desenvolvido pelo professor de Stanford, Charles O’reilly, o conceito trabalha áreas opostas e complementares que ajudam na melhoria constante de processos, ao mesmo tempo que cria inovação e antecipa necessidades dentro das empresas.

 

Como sabemos os termos destro e canhoto, referem-se ao lado do corpo que um indivíduo utiliza com mais frequência ou habilidade. Já ambidestria é a capacidade de utilizar ambos os lados com a mesma destreza. O site napratica.org afirma que essa ideia foi levada para as organizações para tentar alinhar estratégias que até então eram divididas e até mesmo opostas: processos de inovação com o aumento da eficiência de uma empresa, o que fez surgir uma nova skill: a ambidestria organizacional.

O conceito foi desenvolvido pelo professor de administração da Universidade de Stanford, Charles O’reilly. Enquanto estudava lideranças disruptivas, percebeu a necessidade de investir na melhoria constante de processos, serviços e produtos já existente nas organizações, ao mesmo tempo que inovava e antecipava as necessidades dos clientes. Até a década de 90, as práticas eram vistas como incompatíveis mas, no novo mercado de trabalho, elas podem ser o segredo para o sucesso.

Desenvolver a ambidestria organizacional nos profissionais

A consultora organizacional, Maria Augusta Orofino afirma que traduzir a ambidestria organizacional nas pessoas consiste em relacionar o lado analítico com o criativo. «Os profissionais precisam de utilizar o lado mais racional, ligado às metas e resultados, e aliá-lo com a abordagem mais criativa. Começámos a perceber essa integração com o design thinking e as empresas perceberam que é possível desenvolver equipas multidisciplinares para trabalhar numa solução, visando o lucro e usando a inovação para agregar valor aos consumidores», explica.

E cada profissional pode ser protagonista de acções inovadoras que também procuram resultados positivos para a empresa. «Um bom exemplo é a pandemia do coronavírus. Em quantos processos tivemos que nos reinventar dentro de casa, usando a criatividade e a inovação para suprir uma necessidade de entrega formal e analítica? Isso já existe dentro de nós, basta considerar os dois lados do cérebro. É preciso estimular essa capacidade de procurar soluções para problemas do dia a dia. Cada vez consigo trazer uma nova solução, trago também inovação e entrego valor», esclarece Maria Augusta Orofino.

O analista de projectos da consultoria estratégica Tiago Paz ressalva que para isso os profissionais precisam de empresas que apoiem esse processo. «Para uma empresa inovar, é preciso que ela tenha uma configuração organizacional com flexibilidade, tolerância ao erro e investimento de riscos. Isso é uma forma de se organizar diferente da voltada para a excelência organizacional, que tem processo mais definidos e menos tolerância ao risco. O grande desafio é equilibrar essas duas abordagens e o profissional não consegue desenvolver a ambidestria organizacional se encontrar empecilhos num dos lados», esclarece.

Se uma empresa pensa só num dos lados, ela acaba por perder competitividade seja por não acompanhar as inovações ou por não entregar resultados constantes e satisfatórios. «A empresa precisa de estar preparada na parte organizacional e inovação. Quando o individuo entra de facto nesse contexto, ele consegue ajudar a organização. Para isso, ele precisa tanto de formação técnica, quanto de soft skills. Procurar constantemente o conhecimento, capacitar-se e estar atento às novas tecnologias vai ajudá-lo a ter esse olhar de 360 graus, a perceber tendências e a enquadrar-se em organizações preparadas para a ambidestria organizacional», indica.

Maria Augusta complementa que empresas que não incentivam a ambidestria organizacional mantêm processos de comando e controle autoritário. «Quando eu não acredito que existem possibilidades para a minha equipa trazer inovações e novas ideias, eu torno-me autoritário. É uma visão muito fabril, que pretende criar pessoas que se limitem a cumprir funções, sem espaço para o surgimento de novas ideias», indica.

Trabalhar a ambidestria organizacional é uma exigência do mercado de actual. «O profissional precisar de dar muitas ideias e trazer soluções porque não sabemos o que vai acontecer daqui a dois meses. Temos de estimular cada vez mais a criatividade, o entendimento de problemas complexos e a capacidade de solucionar essas questões. E isso passa pela inovação. Não podemos deixar isso para depois, precisamos disso agora. Empatia, resiliência e criatividade nunca foram tão necessárias, aliadas à entrega de resultados», ressalta a consultora.

Tiago Paz acredita que a crise do coronavírus veio evidenciar a necessidade de trabalhar a ambidestria organizacional. «É uma capacidade que ajuda as empresas e os profissionais a navegar pela inovação, aproveitar oportunidades e dar continuidade às operações diárias. O profissional torna-se mais competitivo, principalmente devido a esse ambiente complexo. É preciso que ele saiba navegar, que perceba o ambiente externo, que saiba agir e pensar de forma diferente, entregando eficiência e pensando em novos caminhos, sem ficar preso a uma rotina já estabelecida», finaliza.

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