Semana de quatro dias: já vários países do mundo a adoptaram. Saiba quais e como o estão a fazer

Já vários países adoptaram a semana de trabalho de quatro dias. Da Europa à América do Norte, passando pelo Japão, saiba como o estão a fazer.

 

A ideia de se trabalhar apenas quatro dias, com mais carga horária diária, agradou a muitos que valorizam os três dias de descanso. Ainda que esta sugestão fosse já anterior à pandemia, as restrições a que o coronavírus obrigou fizeram com que fosse repensada.

Além das consequências negativas que a Covid-19 trouxe, também acarretou alterações positivas, tal como uma maior flexibilidade por parte das empresas que reconhecem benefícios nesta medida inovadora.

Não só os dias de trabalho são menos, como o número de reuniões é reduzido e existe mais trabalho independente, o que leva muitos a considerar esta opção como o futuro da produtividade dos trabalhadores e do equilíbrio entre trabalho e vida privada, defendendo que quando este sistema é implementado, a satisfação e a sua produtividade aumenta.

De momento, já vários países adoptaram a semana de trabalho de quatro dias, nomeadamente Espanha, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Suécia, Japão, EUA e o Canadá. Na Europa, esta alteração foi resultado de vários apelos por parte de sindicatos, dado que muitas nações não estavam inclinadas para fazer uma mudança laboral.

 

Espanha

Após o partido Más País ter anunciado que o governo concordou com o pedido, em Dezembro foi lançado um projeto-piloto dedicado a ajudar as pequenas e médias empresas (PMEs) na redução da sua semana de trabalho em pelo menos meio dia, sem alterações nos salários.

As mudanças vão ser implementadas no prazo de um ano, enquanto as empresas têm de permanecer no programa pelo menos dois anos, sendo que durante o primeiro o governo financia parcialmente os custos salariais e contribui para a eficiência das medidas.

Este teste, no qual só participaram trabalhadores com um contrato permanente a tempo inteiro, serviu para compreender se a produtividade pode ser impulsionada, com a possibilidade de as empresas receberem ajuda de um fundo governamental de 10 milhões de euros, segundo o Ministério da Indústria espanhol.

 

Reino Unido

Várias organizações que realizaram um programa piloto de seis meses – o maior deste género – estão agora a planear tornar permanente a semana de trabalho mais curta por considerar que a experiência foi “extremamente bem-sucedida”.

A experiência, que permitiu analisar o impacto da redução do horário de trabalho na produtividade das empresas e no bem-estar dos trabalhadores bem como a influência no ambiente e na igualdade de género, contou com cerca de 61 empresas britânicas e mais de 3.300 funcionários.

A análise permitiu concluir que cerca de 92% das empresas optaram por manter a política de quatro dias, mesmo depois de o período experimental ter terminado, e foi reconhecida como um “grande avanço”. Os funcionários seguiram o modelo ‘100:80:100’, ou seja, 100% do salário durante 80% do tempo, comprometendo-se em manter 100% de produtividade.

 

Alemanha

 Apesar de a Alemanha ser um país com uma das semanas de trabalho médias mais curtas da Europa, 34,2 horas, de acordo com o Fórum Económico Mundial (WEF), os sindicatos estão a exigir uma redução do horário laboral.

O maior sindicato do país, IG Metall, argumentou que uma semana de trabalho mais curta ajuda a manter os empregos e evitar despedimentos, numa altura em que cerca de 71% dos trabalhadores gostariam de poder escolher trabalhar apenas quatro dias semanais, de acordo com um inquérito da Forsa.

Este estudo demonstrou que pouco mais de 75% dos inquiridos apoiam o governo a explorar a ideia, enquanto da parte dos empregadores, dois em cada três concordam com a iniciativa. De momento, ainda não é conhecido se a medida será implementada, sendo sobretudo as pequenas empresas em fase de arranque as únicas a experimentar.

 

Bélgica

A 21 de Novembro de 2022 foi aprovada a lei que dá aos funcionários a possibilidade de trabalhar quatro dias e receber o salário por inteiro, o que já tinha sido posto em prática por algumas organizações em fevereiro do mesmo ano.

Há mais de quatro meses que é dada a possibilidade aos trabalhadores belgas para escolher se preferem trabalhar mais horas em menos dias ou continuar como anteriormente.

O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander de Croo, acredita que esta mudança vai tornar o mercado do país mais flexível e facilitar o equilíbrio entre a vida familiar e profissional, reconhecendo o potencial do modelo para criar uma economia mais dinâmica.

 

Suécia

Esta iniciativa foi testada em 2015, numa experiência que dividiu opiniões. Em vez de oito horas diárias de trabalho, os funcionários fizeram apenas seis sem qualquer perda salarial, mas nem todos ficaram satisfeitos.

Na unidade de ortopedia de um hospital universitário os resultados foram positivos, após 80 enfermeiros e médicos terem trabalhado as seis horas por dia, no entanto foi necessário contratar mais funcionários para compensar o tempo em falta, o que levou o método a ser alvo de críticas.

Mesmo com pareceres contraditórios, algumas empresas, como a construtora de automóveis Toyota, optaram por manter o horário dos trabalhadores reduzido.

 

Japão

São as grandes empresas as que estão mais inclinadas para esta tendência, o que se reflectiu após o anúncio do governo japonês, em 2021, sobre um plano para alcançar equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Neste país, a questão é mais delicada devido às mortes por excesso de trabalho que se registam todos os anos, tanto porque os trabalhadores adoecem como porque se suicidam.

Dada a gravidade da situação, em 2019, a Microsoft decidiu experimentar o modelo e ofereceu aos empregados fins-de-semana de três dias ao longo de um mês, mudança responsável pela subida da produtividade em 40% que resultou num trabalho mais eficiente.

 

EUA e Canadá

Estes são dois locais onde a ideia é fortemente apoiada, com 92% dos trabalhadores americanos a favor, apontando a melhoria da saúde mental e o aumento da produtividade como os principais benefícios, segundo um inquérito realizado pelo vendedor de software Qualtrics.

Cerca de 74% funcionários dizem conseguir completar a mesma quantidade de trabalho em quatro dias, enquanto 72% alega que teria de trabalhar horas extra para o fazer.

Já no Canadá à volta de 41% dos empregadores estão a considerar a adopção do regime híbrido e novos estilos de trabalho, como resultado da Covid-19, segundo a investigação da agência global de emprego.

 

Um inquérito feito a mil trabalhadores de um escritório notou que existe 51% de probabilidade de as grandes empresas, com mais de 500 funcionários, implementarem semanas de trabalho de quatro dias, enquanto nas de média dimensão, com 100 a 500 trabalhadores, a hipótese aumenta para 63%. Na mesma abordagem, a maioria dos trabalhadores a tempo inteiro, 79%, concordou numa semana de trabalho reduzida, de acordo com um novo relatório da Maru Public Opinion.

Ainda que tenha vários benefícios, a semana de trabalho de quatro dias não é bem vista por todos. Há quem defenda que levaria à exaustão dado que os trabalhadores a tempo inteiro exercem as suas funções durante longas horas ou até quem considere injusto para os trabalhadores por turnos que podem não ter esta opção.

 

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