Sete em cada dez mulheres no sector Tecnológico afirma que as suas competências prevaleceram ao género

A multinacional de cibersegurança Kaspersky revelou os dados de mais um estudo realizado no âmbito da iniciativa “Women in Tech”, no qual analisa a jornada da igualdade de género. No webinar que acompanhou a revelação dos dados, a Kaspersky contou com a participação de alguns especialistas para, juntos, discutirem e analisarem as principais conclusões. 

Por Sandra M. Pinto

 

O caminho rumo à igualdade de género tem sido percorrido em alguns casos com “baby steps”. Cimentado em declarações de organismos internacionais, a realidade por vezes mostra algo bem diferente. O sector das tecnologias tem sido desde sempre conotado com os profissionais masculinos, mas a evolução desta área, bastante apetecível enquanto carreira com futuro, tem levado à procura por parte de um número cada vez maior de mulheres. Urge então perceber qual tem sido a evolução da igualdade de género no universo das tecnologias e qual a percepção das profissionais da área relativamente à forma como são olhadas, nomeadamente no que diz respeito às suas competências.

 

Estamos no bom caminho?

De acordo com os resultados da Kaspersky um dos primeiros indícios de que algo de bom está a acontecer rumo ao progresso nesta questão é o facto de «mais de dois terços das mulheres (69%) se sentirem confiantes de que as suas opiniões são respeitadas desde o primeiro dia de trabalho na área tecnológica». Com a pandemia, terá o teletrabalho contribuído para o cimentar dos efeitos positivos ou será que teve o efeito contrário? Se analisarmos os resultados do estudo verificamos que o «aumento do teletrabalho no último ano também surtiu um efeito positivo neste âmbito, com 46% das mulheres a concordar que a igualdade de género melhora entre equipas que trabalham remotamente».

Claire Hatcher, Global Head of Fraud Prevention Solutions da Kaspersky partilhou que desde que está na indústria, há 15 anos, tem vindo a sentir uma grande mudança. «Quando comecei era a única mulher à mesa das reuniões», relembra, «mas ao longo dos anos  tenho vindo a assistir  a um número crescente de mulheres a fazer carreira na área tecnológica». Outra grande diferença assinalada por Claire Hatcher assenta no facto de «cada vez termos mulheres em cargos de liderança no universo da IT, o que revela bem o progresso a que temos assistido no últimos anos». No caso especifico da Kaspersky, a responsável revela que «muitas das nossas colaboradoras começaram na empresa através dos nossos programas de trainees e acabaram por ficar connosco, fazendo aqui carreira».

O estudo adianta que desde 2019 mais de metade das mulheres (56%) que trabalham na área tecnológica assistiram à evolução da igualdade de género dentro da sua organização, sendo que 70% afirmam que as suas competências e experiência foram colocadas à frente do seu género, ao longo do processo de candidatura ao primeiro emprego nesta área. Serão este bons resultados? Certamente que sim, mas de acordo a Kaspersky ainda há muito a melhorar.

 

Baixar os braços? Nunca

Na opinião de Tim Campbell, empreendedor, fundador da Bright Ideas Trust e autor do livro “What’s Your Bright Idea?”, «a situação até pode estar melhor e haver algum progresso mas não podemos ficar por aqui, não podemos baixar os braços». Para este empreendedor social, « ainda há um longo caminho a percorrer, o qual deve começar desde logo na educação das pessoas». E aqui Tim refere-se não apenas às crianças e aos jovens, mas também, e sobretudo, aos adultos. «São eles que têm a obrigação de incentivar os mais novos a ir mais longe e a quebrar barreiras», afirma, «são os adultos que devem afirmar: “quero ver a minha filha crescer e ser o que ela quiser, seja médica, engenheira ou outra coisa qualquer. Não quero que tenha barreiras”, e se esse caminho passar pelo universo das tecnologias deve o mesmo ser incentivado». O fundador da Bright Ideas Trust é apologistas de metas. «As empresas e as organizações que recrutam o talento devem estabelecer metas com o objectivo de colocar mais mulheres nas empresas, em todos os níveis da organização», defende, «mas essas mesmas organizações devem, elas próprias, ter metas para a admissão de mulheres, e isto não se aplica apenas a empresas de tecnologia, mas de todos os sectores de actividade».

De facto, o estudo da Kaspersky revela que, embora se tenha registado uma melhoria global ao nível da perceção da representação de género, «cerca de um terço (38%) das mulheres afirma que a falta de mulheres na indústria tecnológica as faz recear entrar no sector». Apesar destes números sejam baixos, eles enfatizam a lacuna entre as melhorias graduais e a igualdade completa. Esta ideia é suportada pela opinião partilhada por «44% das mulheres sobre o facto de os homens progredirem mais rapidamente do que elas dentro da indústria tecnológica. Um número semelhante (41%) concorda que uma divisão de género mais igualitária conduziria a uma maior igualdade na progressão na carreira».

 

Igualdade: mais do que um desafio, uma missão

Com vista a alicerçar da melhor forma os resultados do estudo, foi realizada uma análise online global que demonstra que «na Europa o equilíbrio de género parece ter piorado nos últimos dois anos, enquanto na América do Norte a passagem para o regime de teletrabalho parece ter acelerado o equilíbrio, na América Latina a educação está a conduzir ao empoderamento das mulheres mais jovens na área tecnológica, e na Ásia-Pacífico a intimidação feminina está agora a ser superada por histórias de sucesso».

Na visão de Patrícia Gestoso, head of scientific customer support na BIOVIA, vencedora do concurso “Women in Software Changemakers 2020”, e membro da rede de mulheres profissionais Ada´s List, apesar dos progressos há ainda muito por fazer. «É preciso chegar às empresas para saber o que estão a fazer no que diz respeito ao tema da igualdade», defende, «é necessário e prioritário implementar as melhores práticas nas organizações, pois só assim conseguimos progredir nesta matéria». Para Patrícia Gestoso, «mais do que desafio esta é uma missão que tem de ser levada cada vez mais a sério tanto pelas organizações, como pelos governos, em suma, pela sociedade em geral».

No seguimento desta visão de Patrícia Gestoso, a Kaspersky «defende que para assegurar experiências positivas devem ser implementadas mais medidas-chave e iniciativas que suportem a carreira das mulheres na área tecnológica, incluindo a oferta de programas ou estágios que proporcionem acesso a oportunidades e experiência». Todos concordam que «de forma a reforçar a crença de que a indústria tecnológica tem lugar para as mulheres trabalharem e serem bem-sucedidas, este caminho precisa de começar a ser trilhado muito mais cedo».

 

 

Ler Mais