Teletrabalho. Estará a precipitar o burnout dos melhores?

Nesta fase, o foco da maioria dos CEO está mais na sustentabilidade do negócio do que no modelo de trabalho a adoptar, mas há consciência de que a realidade nas empresas dificilmente será igual ao pré-pandemia, até porque se criou uma aura tal à volta do teletrabalho, que as empresas que não o considerem vão perder competitividade. Mas nem tudo são vantagens.

Por Ana Leonor Martins

 

Com a quarta fase do plano de desconfinamento em curso, Maio marca o regresso dos almoços do Conselho Editorial da Human Resources, depois de vários meses de reuniões virtuais. O tema em destaque foi a preparação do regresso ao local físico de trabalho, regresso esse que as empresas ainda não sabem quando poderá ser, devido ao avanço e recuo das regras.

Apesar das realidades diferentes representadas à volta da mesa – que fazem com que o trabalho remoto não seja viável da mesma forma, nem na mesma abrangência –, todos concordam que já não é possível não permitir esta flexibilidade. Ainda que muitas pessoas nunca tivessem trabalhado neste regime, agora não vão aceitar não ter esse benefício, porque se habituaram. E se as vantagens são inquestionáveis, também não se podem esconder as desvantagens, como o agudizar dos extremos. Explica-se: «Terá havido casos em que a produtividade não baixou porque os melhores profissionais, com a consciência do período crítico que atravessamos, trabalharam o dobro, “mascarando” os que passaram a fazer menos ainda. Isto pode precipitar casos de burnout nos melhores.»

Por outro lado, se há funções que não exigem rigidez de horário, muitas outras exigem rapidez de resposta, e isso tem de ficar claro, independentemente dos hábitos que as pessoas possam ter adquirido. Será importante diferenciar teletrabalho de flexibilidade, porque o “estar em casa” não significa que o horário não tenha de ser cumprido da mesma forma. A gestão, por vezes, também «deixa muito a desejar». Tal como uma «determinada cultura de trabalho» que ainda persiste e que faz com que Portugal apareça sempre mal classificado nos rankings de produtividade versus horas trabalhadas. Resumindo, as mudanças terão de ir muito além do teletrabalho.

No regresso ao Vila Galé Ópera, estiveram presentes os conselheiros: Diogo Alarcão (gestor), Elsa Carvalho (CGD), Felipa Oliveira (Korn Ferry), Gonçalo Rebelo de Almeida (Vila Galé), Isabel Heitor (ANA – Aeroportos de Portugal), Nuno Troni (Randstad), Pedro Fontes Falcão (ISCTE Executive Education), Pedro Ribeiro (Super Bock Group) e Teresa Cópio (Dom Pedro Hotels).

 

Artigo publicado na Revista Human Resources n.º 125, de Maio de 2021

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