Vaidade: a cultura do parecer
Opinião de Fernando Neves de Almeida
Country President Boyden Portugal
Por vezes interrogo-me se Portugal produz vaidosos acima da média Europeia. Empiricamente sou tentado a dizer que sim, mas confesso que posso partir de uma amostra enviesada ou não representativa.
No entanto, existem algumas manifestações culturais (por exemplo, sermos um País onde se usa e abusa dos títulos, a reverência pela autoridade, entre outras) e individuais, acima da média do que estou habituado a observar em outras nacionalidades (oradores em conferências ou universidades cujo ego é tão grande que pouco espaço deixam para a assistência, pessoas que vivem presas a “triunfos” do seu passado) que me fazem acreditar que sim; somos mais vaidosos do que a média Europeia.
Mas, mais do que entender a razão (embora mais à frente procure fazer um pouco de psicólogo tentando aventar algumas razões) importa analisar as consequências que podem trazer para a cultura empresarial, em sentido lato, incluindo todo o sector público e político que tanta “mossa” pode fazer nos nossos bolsos e bem-estar.
1.ª Menor ambiente de inovação
Quanto maior o formalismo (materializado pelos títulos e outras regras destinadas a proteger e enaltecer os egos) menor a probabilidade de as pessoas se sentirem à vontade para questionarem ou, mesmo, apresentarem ideias novas.
2.ª Menor ambiente de motivação
Penso que é pacífico aceitar que, em geral, líderes vaidosos possuem uma menor capacidade de “agarrar” as suas equipas. Há excepções, claro está, mas normalmente esses líderes vaidosos não o são para a sua equipa directa, o que os faz, aliás, sentirem-se eles próprios, membros das equipas, mais “importantes”. Também, os líderes vaidosos arrebatam todas as oportunidades para brilhar e falar dos seus feitos, deixando pouco ou nenhum palco para os outros que, diga-se em abono da verdade, por certo também têm ego, mesmo que seja equilibrado. E isso desmotiva.
3.ª Menor capacidade de evolução pessoal
Quanto maior o ego (e se associado a uma inteligência acima da média, a mistura é altamente explosiva) menor a probabilidade de o vaidoso se abrir ao exterior; às opiniões dos outros. Chega a um ponto onde, para além de cair no ridículo sem disso se aperceber, fica ultrapassado, mas mantendo a certeza de que está actualizado, com todos os efeitos que isso acarreta.
4.ª Disseminação e manutenção da cultura de show off
Quando se vive numa cultura de vaidades, quem está por baixo sabe que a melhor forma de ir subindo é através da bajulação e da subserviência, sempre na expectativa de com essa bajulação dos vaidosos que podem ter influência na sua ascensão, vir a aumentar a sua própria corte de bajuladores no futuro.
Mas o que é que leva os egos das pessoas a crescerem tanto? Talvez para uns seja insegurança: refugiam-se nos formalismos e numa certa vaidade para não deixarem que as pessoas se aproximem a ponto de se sentirem postos em causa. Para outros falta de atenção em pequenos, que leva a procurarem a desforra sempre que a vida os põe numa situação em que isso é possível. Outros, ainda, por possuírem grande complexos de inferioridade que necessitam permanentemente de esconder, mesmo de si próprios. Também alguns porque não conseguem digerir o sucesso e transformam-se em pessoas verdadeiramente insuportáveis sempre a “borrifar” todos os que os cercam com as suas glórias passadas.
Confesso que conheço alguns altos dirigentes vaidosos (quem não conhece). No entanto, os que mais valor têm demonstrado de uma forma continuada, são os que melhor lidam com o sucesso, logo, que possuem um ego mais equilibrado.
No entanto, por estar a manifestar estas opiniões, não se pense que quando avalio pessoas para alta direcção, que não valorizo um certo orgulho com as realizações. Claro que valorizo, até porque quando eu sou o interlocutor num processo de recrutamento, esse é o palco certo para falar dessas coisas. Mas uma coisa é certa, existe uma linha entre o amor-próprio e uma boa auto-estima e a vaidade e muitas pessoas atravessam-na sem disso dar conta.