
Portugal é o quinto país da União Europeia com maior diminuição de horas trabalhadas
A COVID-19 fez com que o horário de trabalho dos portugueses encolhesse 5,2% no terceiro trimestre do ano quando comparado com o período homólogo, o que equivale a meia hora semanal. Foi a quinta maior redução percentual observada na União Europeia, segundo o Jornal de Negócios.
De acordo com a publicação que teve por base dados do Eurostat, 5,2% do número de horas trabalhadas pelos portugueses desapareceu entre Julho e Setembro, face ao período homólogo. Em números absolutos, o Eurostat observa que cada trabalhador português dedicou, em média, 38,1 horas por semana ao emprego, no terceiro trimestre de 2020. No mesmo período do ano passado tinha dedicado 38,6 horas.
O Jornal de Negócios avança que é uma das maiores quebras dos últimos 10 anos e é superior à média da redução de horas na União Europeia no terceiro trimestre (3,7%). Apenas Malta (7,7%), Espanha (6,5%), Eslováquia (6,2%) e Chipre (5,3%) apresentaram reduções superiores no número de horas trabalhadas.
A pandemia COVID-19 explica porque é que o indicador encolheu em quase toda a União Europeia (a República Checa e a Polónia observaram uma realidade diferente). «Há pelo menos uma razão que é nós estarmos com um número elevado daquilo a que o INE nos diz que são as pessoas ausentes do local de trabalho», explica ao Negócios Francisco Madelino, economista e professor no ISCTE. «Isso tem a ver com o lay-off», acrescenta.
Em Portugal, mais de 850 mil trabalhadores foram abrangidos pelo regime de lay-off simplificado (que terminou em Julho, salvo excepções). O programa de apoio do Estado português permitiu que um grande número de pessoas mantivesse o emprego durante um período em que estiveram parcialmente em funções ou em que não exerceram de todo a profissão.
Ou seja, para essa franja da população, o horário de trabalho foi mais reduzido, o que acabou por se refletir na média apurada pelo Eurostat, pese embora muitas pessoas em teletrabalho se queixarem de que têm trabalhado mais horas nos últimos meses.
Segundo a publicação, a redução do horário laboral tem afectado particularmente as mulheres. De acordo com os dados do Eurostat, a chegada do novo coronavírus a Portugal fez desaparecer um terço do número de horas de trabalho das mulheres entre o último trimestre de 2019 e o segundo trimestre deste ano. Foi o maior salto observado na União Europeia e a informação foi destacada na rede social Twitter do gabinete de estatística europeu.
«A explicação para esses dados é que são as mulheres que fazem o trabalho mais intenso, que trabalham mais horas e são menos remuneradas», observa Francisco Madelino. «E são essas profissões, esses sectores, que são mais afetados pela pandemia, o que se traduz nas mulheres. A precariedade do trabalho das mulheres está mais exposta aos efeitos da pandemia e consequentemente as horas trabalhadas pelas mulheres caem mais em Portugal.»
Em Portugal, cada mulher portuguesa trabalhou, em média, 34,3 horas por semana, no segundo trimestre do ano, e cada homem laborou cerca de 36,8 horas. Os dados confirmam os receios de alguns especialistas, que apontavam para que a pandemia cavasse um fosso maior nas desigualdades de género.
O hiato no número de horas de trabalho por género agravou-se no terceiro trimestre. As mulheres recuperaram 2,2 horas e os homens quase três horas.