
Estudo alerta que alargamento do ensino superior não combate desigualdades
O EDULOG, iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo, divulgao estudo ‘Estudantes nacionais e internacionais no acesso ao ensino superior’, que tem como um dos seus principais objectivos perceber se a massificação do acesso ao ensino superior tem contribuído ou não para colmatar desigualdades no acesso, sucesso e permanência/abandono dos estudantes.
Os resultados obtidos mostram que a expansão do ensino superior em Portugal não se traduziu na eliminação das desigualdades sentidas pelos estudantes, sendo o contexto socioeconómico o fator que mais promove essas desigualdades.
Este estudo do EDULOG revela que, dos 67.671 candidatos ao Concurso Nacional de Acesso em 2020, perto de 14% (9.300 estudantes) não foram colocados em qualquer instituição de ensino superior público. Deste total, a maioria é proveniente de cursos científico-humanísticos (95,2%), e dos distritos de Lisboa (39,6%) e do Porto (22,6%), que são, também, as regiões com maior proporção de candidatos. Este facto cria um dilema, havendo que escolher entre o aumento do número de vagas em Lisboa e Porto, o que poderá contribuir para o esvaziamento de cursos em outras regiões, nomeadamente no interior, ou conter as vagas em Lisboa e Porto com manifesto prejuízo dos alunos locais.
«Os estudantes que decidem candidatar-se ao ensino superior são influenciados nas suas escolhas pelo contexto socioeconómico de onde provêm». Por um lado, as notas obtidas no ensino secundário e nos exames nacionais estão fortemente correlacionadas com o contexto socioeconómico familiar e alunos com melhores notas de candidatura podem candidatar-se aos cursos mais seletivos que, regra geral, são oferecidos pelas universidades. Por outro lado, os estudantes de contextos mais desfavorecidos terão mais dificuldade em suportar os custos associados à frequência de uma instituição privada, ou de suportar os custos de mobilidade e o nível de vida em algumas cidades.
Em relação à decisão de um estudante permanecer ou abandonar o ensino superior, verifica-se que, quanto menos favorecido é o contexto socioeconómico do estudante, maior é a taxa de abandono. Também se verifica que a satisfação do estudante é um fator favorável à sua decisão de permanência num curso. Ou seja, o abandono é menor nas situações em que os alunos são colocados na sua primeira opção e/ou quando estão satisfeitos com a sua situação de mobilidade. Também os subsistemas, tipos de curso e áreas de formação influenciam a taxa de abandono no ensino superior, sendo, em média, menor no sistema universitário do que no ensino politécnico. A taxa de abandono é, também, mais baixa nos cursos de Mestrado Integrado (3,5%) e de Licenciatura de 1º ciclo (8,8%), e mais elevada nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) e Mestrados de 2º ciclo, com 18% e 15,8%, respetivamente. Já as áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática apresentam taxas de abandono inferiores (5,7%), quando comparadas com as restantes (9,7%).
Também na entrada para o mercado de trabalho são identificadas desigualdades, sendo que os estudantes de contextos desfavorecidos enfrentam maior risco de desemprego, sugerindo que o ensino superior pode nem sempre cumprir o seu papel de promotor da mobilidade social. Em média, os estudantes que terminam a sua formação académica em universidades públicas tendem a ter uma menor propensão ao desemprego do que os dos politécnicos públicos. Esta diferenciação ocorre, segundo o estudo do EDULOG, pelo facto de os institutos politécnicos receberem estudantes de contextos socioeconómicos mais diversos, sendo uma maior propensão ao desemprego um reflexo das desigualdades já existentes no momento do acesso, e não uma falha do ensino politécnico no cumprimento da sua missão. Outros fatores são identificados, nomeadamente: uma menor propensão para o desemprego em cursos com mais vagas ou com uma maior proporção de estudantes provenientes do concurso de acesso para maiores de 23 anos.