Ser ou não ser curioso: Não é a questão.
O ser humano é, pela sua própria natureza, curioso. E é curioso pensar sobre a curiosidade. Ligada ao instinto de sobrevivência, à saída das cavernas e à procura da “luz”, a inquietude do espírito humano alargou-nos os horizontes, conduziu-nos a outras paragens e a outros relacionamentos. E, de repente, de regresso ao futuro, eis-nos em Fevereiro de 2024.
Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer da ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs
Hoje, ser-se curioso pode ser entendido como uma competência- chave para os colaboradores e uma vantagem para as organizações. A curiosidade permite que os indivíduos questionem o status quo, empatizem com os problemas e explorem novas ideias e soluções, contribuindo assim para um ambiente corporativo dinâmico e inovador. E o intraempreendedor é esse ser curioso, de propósito.
Indo às origens. Podemos distinguir entre curiosidade biológica, aquela que nasce connosco, e curiosidade epistemológica, aquela que resulta da nossa ânsia de querer saber mais sobre temas concretos, que nos provocam “sede de conhecimento”. Ou seja, não é o querer saber frugal, despropositado, mas antes o explorar de assuntos que nos apaixonam, interessam e motivam. E é precisamente aqui que as organizações assumem o papel principal, criando as condições para que os colaboradores possam entrar pela “toca do coelho”, qual Alice no País das Maravilhas, “alimentando-os” com constantes desafios, do ponto de vista cognitivo.
Aliado a este “querer saber”, e com um cunho mais social, surge o conceito de curiosidade empática, aquela que resulta do conjunto de interacções que surgem nas nossas vidas e dos relacionamentos que vamos cultivando – muito ligado ao tema da aprendizagem mais informal, com “os outros”, pela via social – o learning by sharing.
E assim vamos vivendo e aprendendo, admitindo que somos um produto inacabado – a soma de diversas interacções e o resultado da experimentação de várias fontes de aprendizagem; mantermo-nos curiosos é o ponto de partida numa viagem pessoal e intransmissível, conduzida na primeira pessoa.
Curiosamente, enquanto deambulava de “janela em janela” em pesquisas online sobre este tema, o conceito de necessidade de cognição encontrou-me.
Cacioppo e Petty (1982) desenvolveram uma escala de 18 itens para medir esta necessidade de cognição (ENC), definindo- a como a “tendência individual para empreender e apreciar esforços cognitivos”. Surpreendidos?
A ENC pressupõe a existência de três factores-chave: o empenho no esforço cognitivo (exemplo, “pensar sobre as coisas não é a minha ideia de diversão”), a preferência pela complexidade (exemplo, “prefiro os problemas complexos aos problemas simples”) e, finalmente, o desejo pelo entendimento (por exemplo, “gosto de tarefas que envolvam a descoberta de novas soluções para os problemas”).
E o que significa isto, na prática? Pessoas com baixos valores na necessidade de cognição evitam actividades cognitivamente exigentes, enquanto pessoas com valores elevados possuem uma motivação intrínseca para pensar, resolver problemas/ enigmas e ter pensamento abstracto. Agora tudo fica mais claro, verdade? A ciência explica.
Façamos uma pequena avaliação, pensando na sua forma de actuação profissional, diária e regular – naquele que é o seu “padrão”, em três grandes pontos:
1) O meu estilo de pensamento é mais tradicional (sigo procedimentos e regras sem questionar), flexível (adapto-me às situações) ou não convencional (questiono o status quo e a “autoridade”)?;
2) Tenho sede de conhecimento (muita curiosidade intelectual), sou interessado em aprender (quando percebo o objectivo) ou sou pragmático (focado na aprendizagem formal)?;
3) Procuro novas experiência e relações (avidamente), adapto-me a novas situações (embora não as procure) ou gosto de jogar pelo seguro?
Mesmo sabendo que não existem respostas certas ou erradas, estou curiosa em saber as vossas respostas… E espero que possam tornar-se, propositadamente, mais curiosos!
Leia o artigo na íntegra na edição de Fevereiro (nº. 158) da Human Resources, nas bancas.
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