
Neste país, as baixas por motivos de saúde mental aumentaram 22% em 2024
Apesar da variedade de aplicações de bem-estar e de benefícios para os colaboradores, os profissionais continuam a enfrentar dificuldades, ao ponto de precisarem de tirar uma baixa médica, avança o EBN.
De acordo com a ComPsych, prestadora de serviços de saúde mental, as baixas relacionadas com a saúde mental aumentaram 300% entre 2017 e 2023; em 2024, subiram 22%, sendo que uma em cada dez baixas se deve agora a problemas de saúde mental. Inacreditavelmente, nos EUA, os colaboradores que necessitam desta pausa não têm garantia de pagamento de 100% do vencimento.
De acordo com a legislação norte-americana, os colaboradores têm direito a 12 semanas de licença sem vencimento se estiverem a passar por um problema de saúde grave ou precisarem de cuidar de um ente querido doente. Condições graves de saúde mental podem qualificar os colaboradores para a incapacidade de curta duração, que normalmente cobre pelo menos uma parte dos salários.
Por outras palavras, excluindo aqueles que têm acesso a políticas de licenças que protegem os trabalhadores, um número crescente de profissionais está disposto a abdicar de pelo menos parte do seu salário para tirar uma pausa no trabalho. Jennifer Birdsall, psicóloga e directora clínica da ComPsych, considera que é evidente que os trabalhadores atingiram o seu limite, e por uma série de razões.
«Há cada vez mais factores de stress crónico que enfrentamos globalmente: pandemia, conflitos geopolíticos e uma economia imprevisível. Temos assistido a um aumento dos factores de stress pessoal, como cuidar de terceiros. Tudo isto contribui para estes sentimentos de burnout e opressão.»
Jennifer Birdsall salienta que as mulheres representam 71% de todas as baixas de saúde mental em 2024, um aumento de 2% em relação ao ano passado. Considerando que são as mulheres que assumem a maioria das responsabilidades de cuidar, não surpreende serem as que mais necessitam dessa baixa.
E cuidar não ficou mais fácil, uma vez que os pais que trabalham são muitas vezes responsáveis pelas crianças e pelos pais idosos. Segundo a seguradora Guardian, o tempo médio dedicado aos cuidados triplicou desde 2020, para 26 horas por semana.
«Os trabalhadores norte-americanos que prestam cuidados aos seus entes queridos ainda são predominantemente mulheres e debatem-se com responsabilidades concorrentes, mas não querem pedir ajuda. Temem que os seus gestores possam acreditar que não têm capacidade para assumir mais oportunidades, por isso aguentam até ao limite e aí já é tarde demais.»
O trabalho continua a ser outro grande factor de stress. Segundo a Associação Americana de Psicologia, 88% dos profissionais sentem-se “esgotados ao final do dia”. Seja pelo facto de o trabalho remoto se ter revelado demasiado isolador ou as políticas de regresso ao escritório terem prejudicado o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, os últimos quatro anos não foram fáceis para os trabalhadores, diz Jennifer Birdsall. Já para não falar nos trabalhadores afectados por despedimentos que terão assumido mais responsabilidades para compensar a redução da equipa.
Jennifer Birdsall incentiva os empregadores a, pelo menos, darem o seu melhor para não fazerem parte do problema. E recomenda que as empresas estabeleçam programas de formação para gestores especificamente focados em saúde mental e burnout. Está provado que os managers têm mais impacto na saúde mental dos colaboradores do que os médicos ou terapeutas. Na verdade, estão ao mesmo nível do cônjuge ou companheiro do colaborador.
«Devemos formar os gestores em temas como sinalizar colaboradores que estão a passar por dificuldades, como ter conversas sobre saúde mental e como fazer recomendações a um membro da equipa sobre como os certos benefícios os podem ajudar. O objectivo é termos chefias que possam apoiar uma cultura positiva de saúde mental.»
Jennifer Birdsall aconselha ainda os empregadores a avaliar os seus pacotes de benefícios e a reflectir sobre se os colaboradores têm os recursos para cuidar da sua saúde mental. A psicóloga alerta os líderes para não ignorarem esta tendência e, em vez disso, investirem em benefícios e políticas que possibilitem às pessoas dar o seu melhor no seu trabalho.