
As novas regras do trabalho e o “work genome”
Ainda não há muito tempo, na nossa própria galáxia, o (conceito de) trabalho seguia um modelo linear e bastante previsível: estudar, conseguir um emprego, cumprir funções bem definidas e subir na hierarquia. No entanto, hoje em dia, parece haver mais vida para além disto. Já se fala em “work genome”.
Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer da ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs
O paradigma de Gary A. Bolles, apelidado “old rules of work”, assenta na estabilidade, no controlo e na especialização. No entanto, num mundo cada vez mais dinâmico, impulsionado por avanços tecnológicos e mudanças constantes, essas regras já não são suficientes. No seu livro “The Next Rules of Work”, Bolles argumenta que a transição para um modelo mais ágil e adaptativo exige um novo conjunto de princípios, as “next rules of work”, onde a flexibilidade, a aprendizagem contínua e a autonomia são fundamentais. Nesse contexto, o intraempreendedorismo torna-se um dos comportamentos mais valiosos dentro das organizações, pois representa uma postura proactiva dos colaboradores, que vão além das suas funções formais para resolver problemas, identificar oportunidades e inovar.
A mudança entre as “old rules” e as “next rules” é evidente na forma como o trabalho é encarado. Se antes este era visto como um conjunto fixo de tarefas (“work as a job”), agora precisa de ser entendido como um conjunto dinâmico de competências aplicáveis a diferentes desafios (“work as a mindset”). No modelo tradicional, esperava-se que os colaboradores seguissem processos estabelecidos dentro de uma estrutura hierárquica rígida. Executar sem pensar.
Hoje, o trabalho tornou-se fluído e colaborativo, colocando o foco na geração de valor em vez do simples e obediente cumprimento de tarefas. Os profissionais precisam de desenvolver autonomia e capacidade de adaptação, deixando de ser apenas executores para se tornarem agentes da mudança.
Bolles apresenta o conceito de “work genome” para ilustrar esta nova abordagem. Tal como o genoma humano define as características únicas de cada indivíduo, o “work genome” representa a combinação singular de competências, experiências, interesses e motivações que cada profissional possui. Nas “old rules”, as funções eram rígidas e os colaboradores encaixavam-se em descrições de cargo fixas. Hoje, o que realmente importa são as competências e os talentos individuais, com os indivíduos a redesenharem as suas funções (“job crafting”). Organizações que reconhecem e potenciam o “work genome” dos seus colaboradores criam um ambiente onde o intraempreendedorismo pode florescer, permitindo que todos possam contribuir de forma única para a inovação e para o crescimento do negócio.
Para que esta transformação aconteça, Bolles defende que os profissionais e as empresas precisam de trabalhar em três dimensões essenciais: “mindset”, “skillset” e “toolset”. O mindset diz respeito à forma como encaramos o trabalho e a mudança; porém, ter apenas o mindset não basta. É necessário desenvolver o “skillset”, ou seja, um conjunto de competências técnicas e comportamentais que permitem transformar essa mentalidade em acção. Finalmente, o “toolset” refere-se às ferramentas e tecnologias disponíveis que facilitam o trabalho e a inovação. Neste “novo mundo do trabalho”, não basta ter uma mentalidade aberta e aprender novas competências, é essencial saber utilizar as ferramentas certas para ampliar o impacto e acelerar a execução das ideias.
Entendamos que o intraempreendedorismo não é uma tendência para 2025, é, sim, uma necessidade vital para as organizações que querem prosperar num mundo incerto e em constante transformação, digital e humana.
A questão já não é se as empresas devem incentivar o intraempreendedorismo, mas como é que o vão fazer, criando as condições para que os colaboradores se sintam capacitados a agir proactivamente, estimulando o seu “work genome” e potenciando o seu “mindset”, “skillset” e “toolset”.
Já tinha pensado no seu “work genome”?
Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 170) da Human Resources, nas bancas.
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