A cultura do “sempre ligado” e a (séria) repercussão que tem a nível pessoal e também profissional

A dificuldade em estabelecer limites claros entre a vida profissional e pessoal, estando “sempre ligado”, tem sérias repercussões a nível pessoal e profissional. E verifica-se não só nos colaboradores, mas também nas lideranças.

 

Por Maria Duarte Bello, CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem, coach PCC & mentor senior

 

A cultura do “sempre ligado” é uma consequência directa da transformação digital e da conectividade constante proporcionada pelas tecnologias modernas. Se, por um lado, estas ferramentas permitiram maior flexibilidade e rapidez na comunicação, por outro, criaram uma expectativa de disponibilidade permanente que tem impactos profundos na satisfação e no bem-estar dos colaboradores.

Esta cultura caracteriza-se pela ideia de que os colaboradores devem estar sempre acessíveis, mesmo fora do horário de trabalho, para responder a emails, atender chamadas ou resolver problemas inesperados. Muitos trabalhadores sentem-se pressionados a manter esta disponibilidade para demonstrar compromisso com a organização, ou para evitar o risco de serem considerados “menos dedicados”. No entanto, esta prática tem sérias repercussões a nível pessoal e profissional.

Um dos principais impactos da cultura do “sempre ligado” é a dificuldade em estabelecer limites claros entre a vida profissional e pessoal. O acesso constante a dispositivos como smartphones e portáteis cria uma sensação de que o trabalho nunca termina. O que leva a um estado de alerta constante, impedindo os colaboradores de se desconectarem verdadeiramente e de aproveitarem momentos de descanso ou lazer com qualidade.

A longo prazo, esta cultura contribui para níveis elevados de stress e esgotamento. A sensação de estar sempre “em trabalho” pode causar fadiga mental e emocional, dificultando a recuperação física e psicológica. Estudos demonstram que os colaboradores submetidos a esta pressão contínua apresentam maior probabilidade de desenvolver problemas como ansiedade, insónia e burnout.

Outro problema associado é a diminuição da produtividade e da criatividade. A ausência de pausas regulares e a falta de momentos de desconexão prejudicam a capacidade dos colaboradores para se concentrarem e resolverem problemas de forma eficaz. Paradoxalmente, a cultura do “sempre ligado”, que visa aumentar a eficiência, acaba por ter o efeito oposto, reduzindo o desempenho a longo prazo.

Além disso, esta prática pode gerar desigualdades e tensões no local de trabalho. Por exemplo, colaboradores com responsabilidades familiares podem ter maior dificuldade em atender às expectativas de disponibilidade contínua, o que pode levar a sentimentos de culpa ou de inadequação. Por outro lado, aqueles que tentam desconectar-se fora do horário laboral podem ser mal vistos ou excluídos de decisões importantes.

Para combater a cultura do “sempre ligado”, as organizações precisam de adoptar políticas claras e práticas saudáveis que respeitem os limites dos seus colaboradores.

 

As lideranças
E sim, as lideranças também são frequentemente vítimas da cultura do “sempre ligado”, e a pressão sobre os gestores pode ser ainda maior do que sobre os colaboradores. Enquanto os líderes são responsáveis por supervisionar equipas, tomar decisões estratégicas e garantir o bom funcionamento da organização, muitos sentem-se constantemente obrigados a estar disponíveis para resolver problemas, oferecer suporte ou responder às exigências dos seus superiores e equipas.

A expectativa de disponibilidade permanente nas lideranças é frequentemente auto-imposta, mas também reforçada pela cultura da organização. Muitos líderes acreditam que estar “sempre ligados” demonstra dedicação e compromisso com a empresa. Além disso, a responsabilidade por alcançar metas e resultados muitas vezes coloca os gestores numa posição de vigilância constante, onde cada email não respondido ou decisão adiada pode ser visto como uma falha.

Contudo, este comportamento traz consequências significativas. Os líderes que não estabelecem limites claros enfrentam altos níveis de stress e esgotamento, afectando a sua capacidade de tomar decisões eficazes e de liderar as suas equipas. Tal como acontece com os colaboradores, a falta de descanso afecta a criatividade, a produtividade e a saúde mental dos gestores.

Além disso, a pressão sobre as lideranças perpetua a cultura do “sempre ligado” na organização. Quando os líderes estão constantemente online, enviam mensagens ou convocam reuniões fora do horário laboral, passam a mensagem de que esta prática é esperada de todos. Este comportamento acaba por normalizar a falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal em toda a empresa.

Para mitigar este problema, as lideranças precisam de adoptar estratégias que lhes permitam gerir o seu tempo de forma mais saudável e eficiente, ao mesmo tempo que promovem práticas equilibradas na organização. Para garantir o bem-estar das equipas e de si próprios, os gestores precisam de liderar pelo exemplo, estabelecendo limites saudáveis e promovendo uma cultura de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Afinal, uma liderança descansada e focada é essencial para o sucesso e a sustentabilidade de qualquer organização.

A cultura do “sempre ligado” é um reflexo de um mundo altamente conectado e competitivo, mas os seus impactos negativos não devem ser subestimados. Para garantir a satisfação e o bem- -estar dos colaboradores, as empresas precisam de reconhecer a importância de momentos de desconexão e promover uma abordagem mais equilibrada e sustentável.

Afinal, colaboradores descansados e satisfeitos têm maior probabilidade de ser produtivos, criativos e leais à organização. E no que toca às lideranças, estas precisam de adoptar estratégias que lhes permitam gerir o seu tempo de forma mais saudável e eficiente, ao mesmo tempo que promovem práticas equilibradas na organização. Para garantir o bem-estar das equipas e o seu próprio, os gestores precisam de liderar pelo exemplo, estabelecendo limites saudáveis e promovendo uma cultura de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Afinal, uma liderança descansada e focada é essencial para o sucesso e a sustentabilidade de qualquer organização.

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