
Barómetro: Os gestores de Pessoas já têm, de facto, um papel mais estratégico?
Na 57.ª edição do Barómetro Human Resources, um dos temas em foco foi o do papel dos gestores de Pessoas nas empresas e a sua influência estratégica no negócio, e a resposta dos especialistas surge peremptória. Optimismo também há em relação às competências dos colaboradores para enfrentar os desafios futuros, mas quando o tema é a adequação do ensino básico e secundário na preparação dos jovens, o cenário muda de figura.
Por Ana Leonor Martins
Do papel dos gestores de Pessoas nas empresas e a sua influência na estratégia do negócio, até às competências dos colaboradores para responder aos desafios (será que as têm?), novos perfis necessários e a forma como as empresas vêm a requalificação, passando pela adequação do ensino básico e secundário na preparação dos jovens para a exigência do mercado de trabalho (saem do sistema de ensino com as competências de que as precisam?). São estes alguns dos temas em destaque nesta 57.ª edição do Barómetro Human Resources, juntando-se ainda a necessidade de mão-de-obra no futuro e como vai afectar os modelos de trabalho caso diminua, terminando na importância da imigração no mercado de trabalho em Portugal.
O painel de especialista do Barómetro respondeu e, de seguida, apresentamos os resultados.
Papel estratégico e influência elevada no negócio
Depois de, na edição anterior do Barómetro Human Resources, termos perguntado quais seriam os grandes temas da Gestão de Pessoas em 2025, nesta edição o foco está nos gestores de Pessoas. Sobre qual será o seu papel nas empresas este ano, os especialistas não têm dúvidas, para a maioria (40%), vai ser mais transformacional. Surgem depois as respostas “mais estratégico” (28%) e “mais gestor de proximidade” (19%). Só uma minoria (5%, em ambos os casos) considera que os gestores de Pessoas terão um papel mais operacional e de suporte ou mais analítico.
Curiosamente, apesar de variar um bocadinho a percentagem, a ordem de relevância de cada uma das variáveis mantém-se exactamente a mesma em relação a 2019, período pré-pandemia. Se, por um lado, coloca a tónica na mudança, que se terá tornado ainda mais preponderante, continua a não colocar a prioridade na estratégia.
Por isso, questionámos igualmente o painel sobre “qual a influência que irá assumir o gestor de Pessoas na estratégia do negócio”, e, não obstante a resposta anterior, mais de 80% afirmam que vai ser elevada (62%) ou mesmo muito elevada (21%). Só 17% consideram ser apenas “razoável” e nenhum especialista do Barómetro acredita que seja “reduzida”, “muito reduzida” ou “nula”. Mais uma vez, os resultados são muito semelhantes aos de há seis anos, só ligeiramente menos expressivos: 78% consideraram que seria uma influência “muito elevada” – 18% – ou “elevada” – 60% – ou seja, menos cinco pontos percentuais (p.p.); sendo que para 19% seria “razoável” (mais dois pp) e 4% acreditaram que seria “reduzida” (2%) ou “muito reduzida” (2%).
Ensino desadequado, aposta em desenvolver internamente
De acordo com a edição anterior do Barómetro Human Resources, em 2025, a qualificação e a requalificação estarão no top 5 dos grandes desafios da Gestão de Pessoas. Assim, perguntámos aos especialistas se os colaboradores das suas empresas têm as competências necessárias para responder da forma mais eficiente e eficaz aos desafios do negócio. Mais uma vez, não há grandes dúvidas, com quase metade (45%) a garantir que a maioria (entre 50% e 80%) tem, com 14% a irem mais longe, afirmando que mais de 80% dos colaboradores têm as competências necessárias, o que resulta numa percentagem acumulada de 59%. Não obstante, perto de um quarto dos inquiridos (24%) admite que só cerca de metade as tem, com 17% a reconhecerem mesmo que não, só uma minoria.
Comparando estes resultados com os do Barómetro de Fevereiro de 2024, ainda que a tendência geral não mude – a maioria dos colaboradores tem as competências necessárias –, a expressão dos números é diferente, pois há um ano, foram 74% a dar resposta positiva (mais 15 p.p.).
No que respeita aos novos perfis e competências necessários, a larga maioria (64%) dos especialistas revelou que, na sua empresa, têm apostado em desenvolvê-los nas suas equipas, havendo também (32%) quem os procure externamente, porque é uma necessidade incremental, continuando as funções dos actuais colaboradores relevantes. Nenhum dos inquiridos diz procurar novos perfis externamente porque os colaboradores em funções obsoletas não são reconvertíveis. Outro dado relevante é que não há ninguém que não esteja à procura de novos perfis ou competências.
Com a revolução tecnológica e a cada vez maior presença da inteligência artificial (e não só) nas empresas, muitas funções ou tarefas estão a tornar-se desnecessárias, o que levanta a questão sobre o que fazer a esses colaboradores. Muitos acabam por se ver em situação de desemprego. Há cada vez mais escolas de reconversão profissional. Mas como será vista a contratação de perfis externos “requalificados”? Para 45% dos inquiridos, a opção é vista com bons olhos. São a favor, desde que tenham as competências necessárias, mas 31% afirmam mesmo ser “completamente a favor”, sem nenhuma reserva. Nenhum dos especialistas refere o factor “preço” como justificação para recorrer a esses perfis (“se for mais barato”), enquanto 17% admitem ser uma solução de recurso – “se não houver alternativa de nativos”. De notar que só 2% reconhecem ser contra, mas não por não acreditarem que entregam os resultados tão depressa ou com a mesma qualidade, mas sim por terem tido uma má experiência.
Indo mais atrás no tema das competências – e sabendo que se tornam obsoletas cada vez mais rapidamente –, fomos à base. À pergunta “está o ensino básico e secundário português a preparar os jovens para os desafios do futuro”, quase oito em cada 10 inquiridos afirmam que não. Para 40%, os métodos de ensino estão desadequados, para 21% o problema maior está na desadequação dos conteúdos, e 17% acreditam que ambos, conteúdos e métodos, não estão adequados. Só 17% defendem que sim, no fundamental, o ensino básico e secundário prepara os jovens de forma adequada.
Sobre se os jovens em Portugal saem do sistema de ensino/ académico preparados e com as competências que o mercado de trabalho actualmente exige, as notícias não são boas, mas são melhores do que há seis meses. Nesta edição do Barómetro, 69% dos especialistas garantem que não – sendo que 55% dizem que só “uma minoria” e 28% uma “pequena minoria”. Ainda assim, estes resultados são mais optimistas do que os de Agosto de 2024, quando 80% dos inquiridos responderam de forma negativa (mais 11 p.p.). Por outro lado, 31% acreditam mesmo que a maioria dos jovens saem preparados do sistema de ensino (mais 21 p.p.), sendo que ninguém acredita que a maioria está preparada, muito menos todos.
Fique a conhecer todos os resultados do LVII Barómetro Human Resources na edição de Fevereiro (nº.170) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).
E tem também o comentário dos especialistas (que vamos partilhar individualmente)
– Catarina Paiva, administradora no Turismo de Portugal
– Ana Gama Marques, directora de Pessoas e Organização da MEO
– Susana Silva, directora de Pessoas do El Corte Inglés Portugal
– Catarina Tendeiro, senior director de Recursos Humanos da Hovione
– Nuno Oliveira, Chief People & Culture Officer na Zurich em Portugal