Como David pode vencer Golias (no mundo das empresas)

Ao contrário do óbvio, a história não se resume apenas à dimensão das empresas, se é pequena, média ou grande. Uma boa recomendação pode fazer muito pela marca de empregador.

 

Por Elsa Bizarro, directora de Recursos Humanos da Premium Green Mail

 

Hoje, os desafios que um profissional de Recursos Humanos enfrenta são maiores do que nunca. Falo de um sector que se tornou uma prioridade para a maioria das organizações que constituem a nossa sociedade, e se outrora era virado para conceitos como o lucro, actualmente vê nas pessoas o seu maior foco de preocupação e o seu mais valioso activo.

Nos últimos anos, os nossos hábitos mudaram. Refiro-me tanto aos hábitos das empresas, que tiveram de inovar, quanto aos hábitos daqueles que procuram oportunidades no mercado de trabalho, que cada dia estão mais exigentes. Actualmente, os job hunters, ao candidatarem-se a um emprego, ambicionam um cenário que lhes possa dar uma melhoria na sua qualidade de vida. E é por isto que as empresas precisam de se esforçar. Num mundo altamente globalizado, a reputação nunca foi tão crucial, e a word of mouth tem desempenhado um papel chave, sendo que a tendência é para que a sua importância continue a aumentar.

É desta forma que muitas pessoas não só conhecem, como também se interessam pelas empresas. Aqui, novamente verificamos a importância de uma organização manter as pessoas que para ela trabalham felizes e motivadas. Afinal, é assim que a reputação é construída e transmitida, potenciando um maior interesse de quem procura oportunidades para ingressar numa empresa.

A word of mouth é, nos dias de hoje, uma prática extremamente importante na captação de talento humano. Pode parecer exagero dizer-se que quase não precisamos de mais publicidade, pois uma boa recomendação faz mais pela marca do que por vezes um anúncio pago. Na prática, é isto que sucede quando recomendamos um bom restaurante a um amigo, um sítio excelente para disfrutar um final de tarde, um livro, ou um bom vinho.

É exactamente o que sucede no universo empresarial. Se alguém da nossa confiança nos aponta determinada organização como solução ou um bom local para desenvolvermos a nossa carreira profissional, tendemos naturalmente a querer entrar nessa equipa de trabalho.

Quem procura uma oportunidade de trabalho, atribui maior credibilidade a este tipo de informação, seja directamente através de um amigo ou conhecido, ou através das redes sociais. Tentam sempre encontrar um paralelismo, “alguém” que já esteve na mesma situação.

Faz-nos então colocar a questão – com um mundo em permanente evolução, como poderá David vencer Golias?

Diria que, ao contrário do óbvio, a história não se resume apenas às grandes ou pequenas empresas. Quando falamos da importância do word of mouth e do seu simbolismo, vemos um claro paralelismo entre a realidade e a reputação das empresas. Quer a empresa seja grande, como Golias, ou pequena, como David, pouco importa. O colaborador actualmente procura um ambiente de trabalho saudável, que valorize as suas contribuições e o valorize enquanto indivíduo.

 

(Só) “Dinheiro não traz felicidade”.
O desafio está do lado das pequenas e médias empresas. Neste paradigma, acaba sempre por existir uma dificuldade acrescida, uma vez que muitas vezes se vêem preteridas pelas grandes multinacionais na hora de contratar um colaborador. No entanto, creio que o desafio vai além desta variável, porque a par desta situação, continua a ser igualmente difícil manter os colaboradores realizados com a função que desempenham.

É preciso desenvolver, diariamente, um trabalho direccionado às pessoas. E perceber que o mercado de trabalho actual não se rege, exclusivamente, pelo incentivo económico, estando muitas pessoas mais preocupadas com uma melhoria de condições, como a flexibilidade de horários, em detrimento da vertente económica, por exemplo.

Ora, num mundo dominado pelas grandes e mais conhecidas empresas, todos os dias a pergunta que urge no que às pequenas e médias empresas diz respeito é: de que forma podem competir? Se formos mais além e olharmos especificamente para o caso das pequenas, o cenário é ainda mais desafiador. Como é possível estas conseguirem competir com as grandes multinacionais na questão dos salários? Como devem as empresas contornar questões como estas de forma a garantirem o seu futuro?

Diria que a criatividade e a capacidade de inovar ganham um contorno especialmente importante. Muitas são as formas de as organizações conseguirem “driblar” os ordenados oferecidos pelas multinacionais. Falo de descontos com empresas parceiras, políticas de saúde mental ou horários mais flexíveis. Ouvir um pouco o interesse dos colaboradores, o que valorizam para além da componente monetária, e tentar customizar o pacote salarial.

Estas são apenas algumas das mais recentes formas de potenciar a felicidade dos colaboradores no seu ambiente de trabalho que, curiosamente, é o lugar onde, na maioria dos casos, mais tempo do seu dia passam. Não podemos ser hipócritas e achar que o dinheiro não ajuda (até porque ajuda, e muito), mas sejamos corajosos e abracemos a expressão há muito utilizada de que “dinheiro não traz felicidade”.

É através desta inovação nas políticas de Recursos Humanos que reside o eventual sucesso das pequenas empresas face às multinacionais do mercado. O desafio de ter talento reside na capacidade que uma empresa terá na percepção das necessidades dos seus colaboradores, pois só assim será possível sobressair num mundo de tubarões. Só assim será possível a David voltar a vencer Golias. Vamos a isso!

 

Este artigo foi publicado na edição de Julho (nº. 151) da Human Resources, nas bancas. 

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