Como lidar com o tecnostress

Por António Jácomo, professor Auxiliar no Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento do Instituto Universitário de Ciências da Saúde-CESPU

Por Bruno Peixoto, director do Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento do Instituto Universitário de Ciências da Saúde-CESPU

 

O termo tecnostress refere-se às dificuldades associadas à adaptação às novas tecnologias informáticas. A sobrecarga de trabalho, as interrupções frequentes, a multitarefa, o prolongamento tempo de trabalho são exemplos de como a invasão tecnológica, apesar de promover a flexibilidade laboral, pode esbater as fronteiras entre o trabalho e outros domínios da vida. Acresce a tecno-insegurança, quando a complexidade técnica de novas ferramentas desafia a qualificação do trabalhador e diminui a sua sensação de controlo, fazendo sobressair o receio de perder o emprego. E ainda outros factores, como os mercados flutuantes ou os contratos baseados na produtividade, podem criar instabilidade financeira, aumentando ainda mais o stress na vida dos trabalhadores.

O stress é um padrão de reacções emocionais, cognitivas, comportamentais e fisiológicas a aspectos adversos e nocivos do conteúdo, da organização e/ou do ambiente de trabalho. Pode levar a sintomas cognitivos, comportamentais e emocionais, a perturbações psicológicas diagnosticáveis e a burnout.

É preciso uma abordagem proactiva para enquadrar a necessidade de optimizar factores de produção com o bem-estar dos trabalhadores. Esta combinação não é utópica, mas necessita de passos concretos que dêem prioridade à saúde mental. Este é um trajecto que deve ser realizado, em conjunto, pelos indivíduos e pelas organizações. Assim, sugerimos:

A criação de programas estruturais de requalificação contínua, que tenham em conta também a dimensão do bem-estar emocional, quer no trabalho, quer nos aspectos familiares e económicos. Assim se preparam os trabalhadores para enfrentarem novas exigências e reduzirem a ansiedade, o que, por sua vez, ajuda a recuperar a confiança.

Entre os princípios norteadores para os empregadores, destacamos:

  • Requalificação e formação;
  • Introdução gradual da tecnologia, dando oportunidade ao trabalhador para dar feedback, aumentando assim o seu sentimento de controlo, envolvimento e de confiança, reduzindo a incerteza;
  • Comunicar de forma clara;
  • Permitir e promover o equilíbrio entre vida profissional e pessoal;
  • Dar oportunidade aos trabalhadores para participarem nas decisões que afectam as suas funções;
  • Estabelecer metas realistas;
  • Reforçar, incentivar e premiar os trabalhadores;
  • Tolerância zero perante o assédio laboral.

Do ponto de vista dos trabalhadores, estes devem:

  • Promover o seu autocuidado, preservando os limites entre vida pessoa e laboral;
  • Criar uma rotina equilibrada;
  • Estabelecer limites, planear e priorizar tarefas;
  • Dividir os projectos em pequenas fases;
  • Manter espírito de abertura perante a mudança e informar sobre as condições específicas que estão a afectar o seu desempenho.

Estas sugestões, que são meramente indicativas, deverão ser doseadas e fundamentadas nas especificidades das actividades laborais, das empresas e empregadores e naturalmente dos trabalhadores. Assim, a mudança de paradigma implica que trabalhadores e empregadores desenhem um futuro do trabalho que tenha em consideração a saúde mental como a chave para o sucesso.

 

No âmbito do ciclo LogicaMente, a CESPU promove amanhã, 13 de Março, a partir das 14h30, um seminário sobre o tema, “O futuro do trabalho e a saúde mental: de SapiensInquietus ?”, transmitido também online.

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