Crise no mercado de trabalho da UE: empregadores não conseguem encontrar pessoas com as competências certas. Veja que posição ocupa Portugal no ranking da “falta de talento”

Em 2023, cerca de 75% dos empregadores de 21 países europeus não conseguiram encontrar trabalhadores com as competências adequadas. Este número aumentou 33 pontos percentuais face aos 42% em 2018. E não há sinais de que a procura por profissionais qualificados vá abrandar tão cedo, avança a Euronews.

 

A escassez de competências está a tornar-se um problema cada vez mais grave para os empregadores em toda a Europa, como demonstram vários estudos. De acordo com o Eurostat, 54% das pequenas e médias empresas (PME) na UE relataram que encontrar profissionais com as competências adequadas foi uma das maiores dificuldades em 2023.

A pesquisa do ManpowerGroup, empresa global de soluções para a força de trabalho, publicada em Outubro de 2023, mostrou que a escassez de talentos é um desafio global significativo. Três em cada quatro empregadores em 21 países europeus não conseguiram encontrar as competências de que necessitavam, variando entre 59% na Finlândia e 82% na Alemanha e na Grécia. Portugal registou 81%.

«Na Europa, assistimos a uma queda do desemprego, o que significa que não há trabalhadores qualificados suficientes para preencher empregos existentes ou novos. Para agravar esta situação, a Europa tem uma população envelhecida, com um declínio global nas taxas de natalidade contribuindo ainda mais para as lacunas de competências e talentos que vemos hoje», disse à Euronews Business Mara Stefan, VP de Global Insights do ManpowerGroup.

Em 2018, a média era de apenas 42% nestes países, variando entre 18% na Irlanda e 81% na Roménia, Portugal encontrava-se a meio da tabela com 46%. Com excepção da Roménia, a percentagem de empregadores que não conseguiram encontrar as competências de que necessitavam aumentou substancialmente entre 2018 e 2023. Este aumento foi superior a 50 pontos percentuais na Irlanda, Reino Unido, Espanha e França.

 

 

Empregadores europeus: a escassez de talento é um problema grave

O inquérito Eurobarómetro, realizado no final de 2023, dá informações abrangentes sobre a escassez de talento. Cerca de 54% das PME na UE identificaram a dificuldade em encontrar trabalhadores com as competências adequadas como um dos três problemas mais graves para as suas empresas.

Variou entre 28% na Turquia e 68% na Bélgica. Este valor foi de 50% ou mais em 20 dos 34 países, Portugal incluído (52%), indicando até que ponto a escassez de competências é um problema comum e grave. Este foi, de longe, o problema grave mais identificado para as empresas, seguido de obstáculos regulamentares ou encargos administrativos (34%).

 

 

Principais razões por trás da escassez de competências

Quando questionados sobre as principais razões da escassez de competências, em média, 56% dos empregadores na UE responderam que havia poucos ou nenhum candidato, de acordo com o inquérito Eurobarómetro.

Este foi o factor predominante, variando entre 18% na Suécia e 73% na Bélgica, com uma média na UE de 56% e Portugal ficando abaixo, com 43%.

As principais razões apresentadas pelos empregadores foram o facto de os candidatos não possuírem as qualificações, competências ou experiência adequadas, seguindo-se de perto a falta de candidatos, com 54%. Na UE, variou entre 41% em França e 70% na Estónia, indicando quão generalizada se tornou a questão da escassez de competências. Portugal apresentou valores inferiores à média da UE também neste indicador, com 50%.

Por que está a escassez de profissionais e de competências a aumentar? Desafios interligados

A Comissão Europeia sublinhou que a escassez de mão-de-obra e de competências tem aumentado em todos os Estados-Membros há quase uma década. Esta escassez é causada principalmente por:

  • mudanças demográficas
  • procura de novas competências ligadas à evolução tecnológica
  • desafios relacionados com as condições de trabalho

«O investimento na melhoria de competências, na requalificação e no foco na preparação das pessoas para os empregos de amanhã tornou-se – e continuará a ser – mais importante e deve estar no topo da agenda de todos os líderes empresariais», explicou Mara Stefan, do ManpowerGroup.

A população em idade activa da UE caiu de 269 milhões em 2012 para 264 milhões em 2021. Prevê-se a perda de mais 35 milhões de pessoas até 2050, de acordo com o relatório “Analysis of Labour and Skills Shortages” da Business Europe, com sede em Bruxelas, que sublinha que os desafios estão interligados.

Constatou ainda que a orientação insuficiente do currículo académico relativamente às necessidades do mercado de trabalho é outra componente que conduz à escassez de trabalhadores devidamente qualificados.

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