Culturas tóxicas e trauma profissional: as consequências de um ambiente de trabalho hostil

Passamos grande parte do nosso tempo útil dedicados ao trabalho. É fundamental que o ambiente não seja sentido como hostil e promotor de stress psicossocial. Há várias razões na base das culturas tóxicas, que podem causar trauma profissional.

 

Por Kátia Almeida, psicóloga & empreendedora social, e fundadora da Beyond Fear

 

Sente as batidas do coração na garganta. Tem o estômago apertado e o corpo tenso. Percorre os últimos metros do caminho que o leva ao escritório, olha para o relógio e abranda o passo. Quer voltar para trás. Ouve o plim de mais uma mensagem no telemóvel a gritar urgência. Identifica o remetente indesejado de entre as centenas de emails que recebe diariamente. O coração explode. Aguarda o início de uma reunião online, com um nó no estômago e deseja até ao limite das suas forças que a internet falhe. Imagina um rol de razões válidas para justificar a sua desejada ausência.

Lê uma mensagem e pensa em cada palavra antes de responder. Ainda assim, corrige 10 vezes antes de enviar. Está numa reunião e pensa vezes sem conta no que quer e como quer dizer. Abre a boca, é interrompido ou ignorado e arrepende-se logo de seguida. Ou acaba por não dizer nada, aumentando o seu esforço para gerir a ansiedade que, entretanto, aumentou. A meio do dia, já está de rastos e sem energia.

Tudo em si aponta para a fuga. Sair desta situação o mais rápido que conseguir. “Só faltam dois dias para o fim-de-semana. Só mais quatro semanas e estou de férias. É só mais um pouco!”

Soa-lhe familiar? Se a resposta é sim, é muito provável que esteja a sofrer de stress psicossocial ou até trauma profissional relacionado com a sua ocupação.

O trauma está associado a mal-estar psicológico acentuado decorrente da exposição a acontecimentos stressantes ou traumáticos. A duração, frequência, intensidade e gravidade dessa exposição são factores determinantes para compreender o seu impacto. É importante saber que não são os acontecimentos em si que determinam potencial trauma, mas sim a forma como cada um percepciona e lida com os mesmos. História passada, experiência de vida e características individuais influenciam a forma como percepcionamos os acontecimentos e, por isso, o impacto que os mesmos exercem em cada um de nós.

Se está a sofrer com acontecimentos stressantes ou traumáticos no trabalho, algumas consequências poderão incluir:

  • Pensamentos involuntários e recorrentes sobre acontecimentos percepcionados como desagradáveis. Por exemplo, a apresentação de um projecto ou relatório, a exposição pública, reuniões de trabalho e/ou interacções com determinadas pessoas;
  • Mal-estar psicológico acentuado quando é exposto a estímulos idênticos ou que façam lembrar os acontecimentos que lhe causam sofrimento. Mesmo que essa exposição seja em contextos que nada têm a ver com o seu trabalho;
  • Vivência persistente de emoções intensas e difíceis de gerir como medo, culpa, raiva ou vergonha;
  • Dificuldade ou incapacidade em sentir emoções satisfatórias como prazer ou alegria;
  • Comportamento facilmente irritável e perda do autocontrolo. Sente com frequência que “esta pessoa não sou eu”, está fora do seu elemento e a ter reacções das quais se arrepende e onde não se reconhece;
  • Estado de alerta ou sobressalto, em que se sente muito mais reactivo do que o habitual.
  • Dificuldade de concentração e capacidades produtiva e criativa afectadas. Duvida das suas capacidades e sente que está muito abaixo do seu nível óptimo de funcionamento;
  • Sono alterado. Acorda várias vezes durante a noite e tem dificuldade em voltar a adormecer. A insónia pode tornar-se frequente;
  • Isolamento e/ou maior dificuldade nas interacções sociais.

 

Porque acontece tudo isto?
Passamos grande parte do nosso tempo útil dedicados ao trabalho. Para muitos, é uma das principais fontes de crescimento e realização, não só profissional, mas também pessoal. O ambiente onde tudo acontece revela-se crucial para que estas realizações possam ter lugar. A violação da segurança – emocional, psicológica, física e social – é a principal razão para que este ambiente seja sentido como hostil e promotor de stress psicossocial.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Setembro (nº. 153) da Human Resources, nas bancas. 

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