Digitalização – “Dance while you can”

O livro “Dance while you can”, a autobiografia de Shirley MacLaine, teve, na década de 90, um enorme impacto, pois refletia sobre aquilo a que agora chamamos “propósito”, entendido como determinante para pessoas e organizações.

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

Nesse livro encontramos uma reflexão sobre o envelhecimento, os desafios e recompensas que vêm com ele, sobre a vida, a espiritualidade e a busca constante de autenticidade e propósito. Mas a digitalização chegou e atrevemo-nos a usar as principais mensagens de um livro com mais de 30 anos, para refletir sobre a digitalização e a gestão de pessoas.

  • Um dançarino precisa treinar, crescer e evoluir, e MacLaine explora como a vida requer uma permanente aprendizagem e adaptação, em que cada experiência contribuiu para uma jornada que se quer rica e bem-sucedida. A digitalização requer essa predisposição para rever, (re)aprender e reajustar, sobretudo para quem gere pessoas;
  • MacLaine destaca a importância de ser verdadeiro consigo mesmo, tanto na dança como na vida, pois a autenticidade é fulcral para o futuro. Por vezes, vemos organizações anunciarem “digitalização” como ferramenta de marketing, como campanha para captar recursos ou mesmo como elemento “nice to have”, porque todos se querem “up to date”. Será pouco consciente, responsável e, sobretudo, honesto e terá o seu custo no futuro;
  • A dança é desafiadora, exigindo resiliência e determinação. MacLaine compara isso com os desafios da vida, enfatizando a importância de resistir, mesmo face à adversidade. A digitalização não é um caminho de uma via só – é um desígnio (no sentido de “purpose”), que não se faz sozinho, porque a interação e as sinergias devem ser privilegiadas, e exige muita resiliência. Por vezes o caminho mais fácil é continuar a “fazer como sempre se fez”, “mudar apenas o absolutamente necessário” ou “deixar para os que haverão de vir”, mas esses não ficam registados na história. Como referido no livro de MacLaine, a aceitação da impermanência é importantíssima para qualquer pessoa, mas fundamentalmente para aqueles que trabalham (dançam, no caso), pois tudo pode mudar muito rapidamente. A vida organizacional, atravessada pela digitalização, é sujeita a essa impermanência, e cada vez mais, a vida pessoal também – estejamos de “peito aberto às balas” para as mudanças que se impõem;
  • Uma ideia importante no livro de MacLaine é que não se pode preparar convenientemente o futuro, se não se viver em pleno o presente, sugerindo uma abordagem positiva e proativa perante a vida, aproveitando ao máximo as oportunidades. Se assim é, a preparação para o futuro da gestão de pessoas, requererá assertividade para entender que a digitalização oferece oportunidades para otimizar processos, melhorar a eficiência e capacitar os colaboradores com ferramentas inovadoras;
  • Da mesma forma que Shirley MacLaine destaca a importância de viver plenamente, a digitalização da gestão de pessoas destaca a necessidade de as empresas reconhecerem e investirem no desenvolvimento contínuo das suas pessoas, o que inclui a adaptação às novas tecnologias, o desenvolvimento de competências digitais e a promoção de um ambiente de trabalho que incentive a aprendizagem constante.

Em síntese, o livro “Dance while you can” já nos referia os requisitos para acomodarmos a digitalização nas nossas vidas, empresas e trabalhos, só não lhe chamávamos isso, pois ainda vivíamos na era analógica. Fica a mensagem de que a gestão de pessoas, deve ser abraçada com entusiasmo, aceitando as mudanças como oportunidades para crescimento e sucesso.