Empresas saudáveis geram mais produtividade

A CMS Portugal, Sociedade de Advogados internacional, promoveu, em final de Março passado, um HR Gathering dedicado à saúde mental no local de trabalho. Durante uma manhã, advogados, especialistas e gestores de empresas discutiram a importância de se falar sobre saúde mental e do impacto da mesma na produtividade das empresas e na economia do país.

 

O “CMS HR Gathering: Mental Health in the workplace” juntou, na sede da CMS, em Lisboa, numa sessão também disponível via streaming, advogados da CMS internacional, gestores e especialistas na área da saúde mental, que apelaram a uma maior sensibilização para este tema e abordaram questões como a necessidade de as empresas investirem na saúde mental dentro da organização, não só como aposta no bem-estar dos colaboradores, mas também como forma de investimento na produtividade da empresa.

A sessão abriu com Susana Afonso, sócia responsável pela área de Direito do Trabalho & Fundos de Pensões na CMS Portugal, que chamou a atenção para a relevância da saúde mental no local de trabalho, especialmente para profissões jurídicas. Para expor o alcance do problema, Susana Afonso apresentou algumas estatísticas: «Aproximadamente uma em cada seis pessoas em idade activa vive com um distúrbio de saúde mental. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), globalmente, cerca de 12 mil milhões de dias de trabalho são perdidos a cada ano devido à depressão, ansiedade e outras condições de saúde mental, o que representa um custo de um bilião de dólares à economia». A mesma sócia sublinhou, ainda, que a saúde mental é cada vez mais um factor crítico que afecta a retenção e o recrutamento de pessoas.

Seguiu-se Rob Stephenson, activista global de saúde mental, fundador e CEO da FormScore e da InsideOut LeaderBoard e orador TEDx, que começou por assumir o seu transtorno de bipolaridade, uma doença mental caracterizada por extremos de humor. «Acho que é importante falarmos dos nossos desafios mentais e reconhecermos que se pudermos aprender a geri-los, podemos experimentar força e aspectos positivos. Mas temos que criar culturas que nos permitam gerir os desafios quando os enfrentamos». Acérrimo defensor da importância de se “começar a falar” destas questões, na esperança de inspirar outros a fazer o mesmo, Rob avançou que é essencial criarem-se recursos nas organizações para que as pessoas possam recorrer a eles. «As lideranças têm de falar sobre isso, devem mostrar-se vulneráveis e partilharem as suas histórias, para que o colaborador se sinta confiante em fazer o mesmo. O papel modelo e a vulnerabilidade da liderança são essenciais para que funcione», adiantou.

 

Embaixadores do bem-estar
Vanessa Whitman, CMS’s Mental Health Champion, Wellbeing ambassador, partner chair of Inclusion Networks’ Mental Health and Wellbeing Committee, falou da sua experiência com questões de saúde mental, quando um transtorno bipolar vitimou a sua mãe aos 34 anos. Nesse sentido, a doença mental faz parte da sua vida a um ponto que não podia ser mais pessoal. Quando se mudou para Londres, há 17 anos, percebeu que muitos comportamentos comprometiam um ambiente saudável no local de trabalho: «Quando não somos felizes ou saudáveis no nosso trabalho, não podemos oferecer o melhor aos nossos clientes, não podemos ser os melhores colegas, não podemos ser os melhores advogados (no meu caso). É óbvio para mim, mas foi surpreendente quando cheguei à cidade e percebi que não era assim tão óbvio para as pessoas.

Aí percebi que queria fazer algo sobre isso». Durante uma conversa com Rob Stephenson, Vanessa referiu que muitas pessoas se sentem ainda desconfortáveis em partilhar a sua história no local de trabalho. Em 2018, percebeu que essa partilha se tornou algo maior, com a campanha “Este sou eu” (This is Me), que levou ao reconhecimento da importância de os líderes partilharem as suas histórias, encorajando a uma cultura na empresa muito mais aberta. Vanessa Whitman tornou-se “mental health champion”, algo que considera uma forma de «estar visível e de dar voz a esta questão, colocando a saúde mental das pessoas no centro do que estamos a fazer». Um papel que pensa ser diferente do de embaixador do bem-estar: «Neste momento, na CMS temos cerca de 120 embaixadores do bem-estar que actuam como um serviço de escuta activa. Se alguém tem uma questão, ou desafio, deve saber que pode falar com o embaixador, e se precisar de algo mais do que ser ouvido, encaminhamo-lo para outros recursos disponíveis».

Do treino para embaixador faz parte não só a habilidade de ouvir sem julgamento, mas também a arte de fazer as perguntas certas e de como ter conversas difíceis. Partner chair of Inclusion Networks’ Mental Health and Wellbeing Committee, Vanessa Whitman falou ainda de algumas iniciativas que tem implementado na sua área na CMS: «No início das reuniões de equipa, temos um formulário anónimo e verificamos a “temperatura de bem-estar”. Em seguida, numa ficha de formato livre, o colaborador pode dizer o que está a funcionar e que desafios enfrenta. Isso ajuda-nos a iniciar a conversa com a nossa equipa de uma forma que esperamos que as pessoas se sintam seguras. Fazemos, também, caminhadas mensais de bem- -estar, junto ao rio, para conversar com cada membro da equipa sobre o que eles quiserem e precisarem».

 

Entrar em acção
Richard Martin, executive officer da Mindful Business Charter, e Raquel Sampaio, co-fundadora da associação “Direito Mental”, conversaram depois sobre acções a tomar. Raquel Sampaio falou da sua experiência familiar com doenças mentais e de como isso a tornou mais consciente e com mais vontade de ajudar os outros. A mesma confessou, ainda, que, apesar de ser advogada, a sua verdadeira paixão é a saúde mental e fundou, com quatro pessoas, a “Direito Mental” precisamente para trazer literacia sobre esta área em diversas plataformas. Mensalmente, promovem iniciativas para falar sobre esta temática, que considera estar ainda numa fase embrionária em Portugal. «Temos um conjunto de terapeutas e psicólogos organizacionais que nos ajudam dentro das organizações. Há também uma linha de trabalho de base científica, assente no estudo “O impacto da cultura organizacional na saúde mental e bem-estar dos/ as profissionais do Direito”, que estamos a desenvolver com a com a Universidade do Minho e que se vai estender até 6 de Junho. Os resultados serão anunciados no Dia da Saúde Mental, a 10 de Outubro, e o objectivo é criar impacto e abrir espaço para esta conversa na comunidade de direito», explica a profissional. «Claro que a organização tem um papel fundamental, especialmente a nível de lideranças, de sensibilizar para o tema, mas o trabalho em si tem de começar pelas próprias pessoas».

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Abril (nº. 148) da Human Resources, nas bancas. 

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