
Isabel Borgas, directora de Pessoas e Organização da NOS: Entre a tecnologia e a humanidade
Vivemos tempos de mudança acelerada, com a tecnologia a entrar nas nossas vidas a uma velocidade nunca vista, especialmente a inteligência artificial generativa, que não pára de avançar a um ritmo verdadeiramente frenético. Este progresso, embora fascinante, levanta questões que pedem reflexão, sendo que hoje apenas quero abordar o impacto profundo no futuro do trabalho e no papel das estruturas empresariais tradicionais.
Por Isabel Borgas, directora de Pessoas e Organização da NOS
A inteligência artificial, outrora confinada às páginas da ficção científica, é agora uma realidade concreta que está a transformar muitos e diversos sectores. As organizações tentam lidar com doses diárias de novidades, vendo-se pressionadas a encontrar caminhos alternativos para colherem estes avanços da melhor maneira, buscando ganhos de eficiência e procurando continuar a gerar o valor inerente à sua sustentabilidade futura. E, desta vez, muito mais assentes em novos modelos organizativos e na reinvenção das formas de trabalhar.
Não é por isso de estranhar que empresas de grande escala e com enormes responsabilidades, como a Meta e a Citi, que estão na linha da frente destas reflexões, se preparem para implementar soluções disruptivas de reavaliação das suas estruturas hierárquicas, eliminando camadas de gestão intermédia para promover maior agilidade. A Meta, por exemplo, reduziu posições que considerava redundantes, enquanto a Citi, por sua vez, diminuiu as suas camadas de gestão de 13 para oito. Este movimento, já cunhado como “grande achatamento”, procura sobretudo acelerar os processos de tomada de decisões e, deste modo, promover agilidade e potenciar uma capacidade de resposta “aumentada”.
Como todas as mudanças, esta também comporta riscos. Neste caso, corremos o sério risco de acentuar a desumanização dos locais de trabalho em função de tamanhos avanços no processo de automação, tanto mais se, alinhados por puros critérios de eficiência operacional, nos ficarmos por modelos de trabalho híbridos. Já todos sabemos que esta opção, na tentativa de responder a um maior equilíbrio de vida e bem-estar das pessoas, acabou por desertificar os corredores dos escritórios.
Embora todas estas inovações ofereçam oportunidades incríveis, é crucial lembrar que a tecnologia é uma ferramenta, que deve estar ao serviço das pessoas, que não pode ser entendida como um substituto para a conexão humana. A capacidade de quebrar paradigmas, desafiando o status quo, é fundamental, mas deve melhorar o que existe, deve ser equilibrada com a manutenção de um ambiente onde a relação humana e a empatia prevaleçam e sejam realmente valorizadas.
Para os empregadores, o desafio reside em integrar a tecnologia de forma harmoniosa, sem sacrificar os valores humanos que sustentam a cultura organizacional. As equipas prosperam quando confiam, e para isso tem de haver comunicação aberta. A tecnologia pode facilitar estas interacções, mas não pode substituí-las. E na minha opinião, sem querer entrar numa discussão sobre níveis e perfis de inteligência, não há maior catalisador de inovação e crescimento colectivo e individual do que a interacção humana.
Os profissionais de Recursos Humanos desempenham, por isso, um papel vital neste contexto, garantindo que não perdemos de vista a importância das relações humanas, mesmo com a evolução resultante da adopção das novas tecnologias e dos novos modelos organizativos. Têm, em suma, a tremenda responsabilidade de mediar esta transição, procurando que as políticas e práticas da empresa reflictam este equilíbrio delicado: continuar a espremer a laranja, mas a valorizar o único activo que, verdadeiramente, nunca se replica: as pessoas.
Em última análise, o verdadeiro sucesso não reside apenas na implementação de tecnologias avançadas, mas na capacidade de inspirar e liderar pessoas. Quando nos concentramos no “porquê” e valorizamos a conexão humana, criamos organizações resilientes e significativas, com alma, preparadas para enfrentar os desafios do futuro!
Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 170) da Human Resources, nas bancas.
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