
Liderança no feminino: Desafios e oportunidades para alcançar a paridade
Por Lurdes Gramaxo, presidente da Investors Portugal e partner da Bynd Venture Capital
A presença de mulheres em cargos de liderança tem vindo a crescer e a ganhar visibilidade, reflectindo uma evolução positiva tanto no mercado laboral como na sociedade. No entanto, este progresso em direcção à verdadeira paridade de género tem sido lento e continua a ser caracterizado por desafios estruturais e culturais que dificultam a igualdade de oportunidades.
As mulheres que alcançam posições de liderança são frequentemente sujeitas a uma pressão acrescida, sentindo uma necessidade de demonstrar constantemente a sua competência. Além disso, a carga mental e a dificuldade de conciliação entre a vida pessoal e profissional continuam a ser realidades incontornáveis para as mulheres no mundo laboral. Apesar dos avanços na partilha de responsabilidades familiares, muitas mulheres ainda suportam um peso desproporcional nas tarefas domésticas e no cuidado dos filhos, o que influencia significativamente as suas trajectórias profissionais.
Durante muito tempo, acreditou-se que a crescente presença feminina no ensino superior e, progressivamente, uma maior escolha das licenciaturas nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, no acrónimo em inglês) por parte de mulheres, seriam factores decisivos para equilibrar as oportunidades. Contudo, a experiência demonstrou que essa evolução não tem sido suficiente para garantir uma progressão equitativa para cargos de liderança, com a evolução a ser demasiado lenta e com desafios persistentes, como dificuldades no acesso a funções de topo e desigualdade salarial.
A implementação de quotas em funções de liderança e a obrigatoriedade da igualdade salarial entre géneros, são as medidas que têm tido mais eficácia para impulsionar a presença feminina em sectores tradicionalmente dominados por homens. Embora sejam alvo de debate, as quotas têm sido, para já, a melhor forma de colocar as mulheres nos centros de decisão, onde acabam por provar que a sua contribuição é positiva e que a sua capacidade enriquece as organizações. Paralelamente, é essencial combater estereótipos desde a infância, promovendo uma educação que incentive raparigas e rapazes a seguir os seus interesses e ambições sem limitações baseadas no género.
Face aos diversos desafios, a liderança feminina tem demonstrado atributos diferenciadores que promovem ambientes mais inclusivos e colaborativos. A vulnerabilidade pode ser uma força quando bem compreendida, pois permite que os líderes reconheçam os seus erros, estejam abertos ao diálogo e tomem decisões mais bem fundamentadas. Nesta lógica, a capacidade de ouvir, integrar diferentes perspectivas e adaptar-se a novas realidades tem-se revelado uma vantagem competitiva das mulheres em posições de chefia. Aumentar a sua representação não deve ser encarado como um desafio isolado, mas sim como um elemento essencial para o progresso económico e social. A persistência, a ambição e a resiliência têm sido fundamentais para a ascensão feminina no mundo do trabalho e devem, por isso, continuar a ser incentivadas.
A promoção de um futuro mais igualitário requer uma abordagem coletiva, onde empresas, governos e sociedade trabalhem em conjunto para criar condições que garantam às mulheres a mesma oportunidade de liderar. Portugal tem potencial para se afirmar como um país de referência no caminho para a igualdade de género, mas isso só será possível com um compromisso duradouro, que sustente um ambiente favorável à progressão profissional das mulheres. A verdadeira transformação acontecerá quando a liderança for determinada exclusivamente pela competência e pelo mérito, independentemente do género.