Luís Fernandes, Staples: As consequências da diabolização dos estágios não remunerados
Luís Fernandes, director de Recursos Humanos da Staples, defende que «a ligação entre as instituições de ensino e o mundo empresarial é cada vez mais fundamental».
«Os resultados deste 54.º barómetro vêm reforçar a necessidade de repensar uma questão que não é nova, mas que tem vindo a acentuar-se e que a pandemia da COVID-19 ainda mais agudizou – a falta de competências sociais, as chamadas soft skills dos jovens que ingressam no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo que temos a geração mais apta em termos académicos/teóricos, temos também uma geração menos preparada para lidar com os colegas, as equipas, as frustrações e para a questão da autoridade/hierarquia nas empresas.
Considero por isso que a ligação entre as instituições de ensino e o mundo empresarial é cada vez mais fundamental. Infelizmente os estágios foram completamente diabolizados nos últimos anos: um estágio não remunerado de três meses? Exploração! A empresa é que ganha! Como se em três meses alguém conseguisse ter produtividade numa empresa. Por outro lado, três meses são suficientes para transmitir regras básicas e fornecer uma primeira abordagem ao mercado de trabalho – o choque entre a teoria e a prática que muitos só conseguem quando ingressam nas empresas e falham na sua integração.
Alguns dirão que o Estado apoia os estágios (e é verdade), mas não o suficiente. Ainda este ano os estágios do IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional tiveram apenas um período de candidaturas, contrariamente ao que tem acontecido nos últimos anos, por se ter atingido a dotação orçamental.
Este ano milhares de jovens não terão oportunidade de ter uma primeira experiência nas empresas – e é pena! Por vezes perguntam-me se acho que é mais enriquecedor a participação num programa de Erasmus ou um estágio numa empresa. Quanto a mim não tenho dúvidas do que me dá mais garantias sobre as soft skills de um candidato… mas acredito que muitos pensem de forma diferente.»
Este testemunho foi publicado na edição de Agosto (nº.164) da Human Resources, no âmbito da LIV edição do seu Barómetro.
A revista está nas bancas. Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.