Maria Kol, Microsoft Portugal. Inteligência artificial no trabalho: O próximo passo

A rápida evolução, adopção e impacto de tecnologias como a inteligência artificial (IA) generativa constitui uma janela de oportunidade que Portugal e as suas empresas não podem desperdiçar. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas sem arriscar, não avançamos.

 

Por Maria Kol, Human Resources lead da Microsoft Portugal

 

Estamos num ponto de viragem. A rápida evolução, adopção e impacto de tecnologias como a IA generativa em diversos aspectos da nossa vida em sociedade traz-nos hoje uma janela de oportunidade para catapultar Portugal e as suas empresas para a vanguarda da transformação e inovação do mundo do trabalho.

Se, há bem pouco tempo, a pandemia veio alterar os tradicionais modelos de trabalho – massificando a adopção de modelos híbridos e remotos –, a crescente democratização da IA generativa nos mais variados sectores de actividade vem agora evidenciar todo o potencial que cada trabalhador e empresa pode atingir.

Desde logo no que aos colaboradores diz respeito: de acordo com dados recentes do estudo Work Trend Index da Microsoft em parceria com o LinkedIn, são já três em cada quatro trabalhadores especializados (ou knowledge workers) que utilizam ferramentas de IA generativa no seu dia-a-dia de trabalho como método para poupar tempo, aumentar a criatividade e libertar a agenda para se focarem em tarefas e projectos mais importantes. No caso de utilizadores mais avançados desta tecnologia, o impacto pode mesmo chegar a 30 minutos por dia, o que, num mês, poderá traduzir-se numa poupança de mais de um dia inteiro de trabalho.

Fazendo minhas as palavras de um reconhecido professor de Harvard, «estamos na vanguarda da integração da IA com o objectivo de não só trabalharmos mais depressa, mas também de trabalharmos de forma mais inteligente». No fundo, e contra o cepticismo que possa ainda existir sobre o impacto da IA no mundo do trabalho, a utilização desta tecnologia está a permitir-nos, acima de tudo, assumir um papel dianteiro e mais activo nas nossas organizações, onde a exigência por pensamento crítico, criatividade e driver para a decisão será, num futuro próximo, cada vez mais imperativa.

E é por reconhecerem esta realidade que também os líderes empresariais estão despertos para a disrupção (positiva) que a IA generativa pode trazer para os seus negócios. Recorrendo novamente ao Work Trend Index, vemos que 79% dos líderes reconhecem que a integração da IA nas suas organizações é um passo fundamental para uma maior competitividade. No entanto, a mesma investigação demonstra que 60% destes inquiridos receiam não existir uma visão e plano claros para a adopção desta tecnologia na sua empresa. E é aqui que entra a necessidade de uma maior consciencialização para esta matéria.

Por outro lado, há ainda o tópico da atracção e retenção de talento, que, nos últimos anos, já tem sido particularmente desafiante. Segundo nos diz o Work Trend Index, quase metade das pessoas quer mudar de emprego em 2025, com vista a procurar novas oportunidades relacionadas com IA. Um cenário que terá de incentivar as empresas a apostarem na transformação dos seus modelos de negócio e trabalho, e, ao mesmo tempo, investirem no upskilling e reskilling dos seus colaboradores, colocando-se assim na dianteira desta disrupção.

Portugal tem potencial para se tornar uma referência na transformação digital e ser um mercado atractivo, mas o retrato do tecido empresarial local mostra-nos que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca à aceleração tecnológica do mundo do trabalho. Uma coisa é certa: sem arriscar não avançamos, e somente as empresas que incorporarem verdadeiramente a IA generativa nas suas estruturas vão ser capazes de inovar, escalar o crescimento do seu negócio, acrescentar valor ao mercado e atrair e reter o melhor talento.

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº. 162) da Human Resources, nas bancas.

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