O parceiro estratégico

Para a Baxter, companhia farmacêutica e de produtos médicos, o departamento de Recursos Humanos é um parceiro empresarial estratégico. Javier Valera, director-geral da Baxter Portugal, vê no capital humano a peça fundamental para o sucesso da empresa.

Texto de Titiana Amorim Barroso

Fotografia de Pedro Simões

O capital intelectual é o activo mais valioso da Baxter e, por consequência, uma vantagem competitiva. «Não seria possível conseguir ter a equipa certa, com os talentos certos, sem a parceria estratégica do nosso departamento de Recursos Humanos. Temos que ser capazes de atrair os melhores, saber seleccionar os que têm as competências necessárias e, por último, conseguir reter o melhor talento, e sempre motivado! Por isso, para a Baxter, é fundamental cultivar um ambiente saudável, onde as pessoas possam desenvolver-se e progredir», conta Javier Valera, director-geral da Baxter Portugal. Apesar dos desafios que a indústria farmacêutica vive e da difícil conjuntura, «o mercado português é extremamente maduro e muito competitivo.

Apesar de ter uma dimensão reduzida em termos de volume e valor – comparativamente a outros países europeus – é incrível como está fragmentado e o nível de complexidade com que lidamos diariamente. Contudo, posso afirmar que a posição da Baxter em Portugal é sólida e o desempenho nacional encontra-se em concordância com os valores internacionais em todas as nossas áreas de negócio», acrescenta. A Baxter apresentou um volume de negócios recorde de 14 mil milhões de dólares.

Por outro lado, do ponto de vista do desempenho científico, o foco na inovação permitiu avanços em mais de 20 programas de Investigação & Desenvolvimento (I&D), o lançamento de múltiplos produtos inovadores para ajudar a melhorar os cuidados de saúde a nível mundial, além de várias aquisições, como Prism, Baxa, Synovis e parcerias para complementar o negócio, como o acordo mundial com a Momenta.

Em conversa com a Human Resources Portugal, Javier Valera esclarece os desafios que tem em mãos, os projectos, o papel do departamento de Recursos Humanos, entre outros temas.

HR: A Baxter foi fundada nos Estados Unidos, há 80 anos, e, hoje, localiza-se em 100 países, com unidades produtivas em 27. Quais os desafios de uma gestão e liderança global?

Javier Valera: A Baxter é uma companhia global diversificadado sector da saúde. Mas, antes de responder à sua pergunta, deixe–me dar uma perspectiva mais macro: os tempos actuais não são fáceis para o nosso sector. Apesar das necessidades de saúde estarem a crescer a nível mundial, os recursos são mais limitados, o que implica o enorme desafio de termos que estar continuamente a inovar, não só nos produtos e serviços médicos que fornecemos, mas também nos processos internos para conseguirmos ser mais produtivos e eficientes.

Temos de ser capazes de olhar para o futuro de forma sustentável e, simultaneamente, manter este enfoque de inovação e de melhoria contínua como a base da nossa estratégia a longo prazo. Obviamente que, tudo isto, tem de ser aplicado no diaa- dia, em cada local e por cada pessoa que forma parte da grande equipa da Baxter, com uma visão e um propósito partilhado. Somos nós, as pessoas, que fazemos e somos a Baxter.

HR: Como caracteriza os desempenhos globais da empresa no último ano?

JV: Apesar do actual ambiente macroeconómico, a Baxter apresentou um sólido desempenho financeiro e um importante progresso científico. As vendas cresceram 6%, com um volume de negócios recorde de 14 mil milhões de dólares. Do ponto de vista do desempenho científico, o foco na inovação permitiu avanços em mais de 20 programas de I&D, já em fases finais de desenvolvimento, o lançamento de múltiplos produtos inovadores para ajudar a melhorar os cuidados de saúde a nível mundial, além de várias aquisições, como Prism, Baxa, Synovis e parcerias para complementar o negócio, como o acordo mundial com a Momenta. Estes resultados demonstram que estamos a seguir a estratégia certa e dão-nos a confiança para seguirmos este caminho.

HR: A actividade internacional representa 60% do volume de negócios. Quais os principais mercados?

JV: Contrariamente à maioria das companhias americanas, mais de metade do nosso negócio é relativo à actividade fora dos Estados Unidos. A Europa é uma das regiões mais importantes, representando cerca de um terço da facturação total e do número de colaboradores.  Nesta região, a Baxter conta com três centros de I&D e 22 fábricas. Em Portugal estão presentes há mais de 20 anos.

HR: Pode-se dizer que é um mercado maduro?

JV: O mercado português é extremamente maduro e muito competitivo. Apesar de ter uma dimensão reduzida em termos de volume e valor – comparativamente a outros países europeus – é incrível como está fragmentado e o nível de complexidade que lidamos diariamente. Contudo, a posição em Portugal é sólida e o desempenho encontra-se em concordância com os valores internacionais em todas as áreas de negócio.

HR: É rentável para as multinacionais continuarem a ter representação directa no sector da saúde em Portugal?

JV: Não é fácil. As empresas têm uma grande dependência do Sistema Nacional de Saúde (SNS) e o Governo ainda não parece acreditar que nós, as empresas inovadoras, somos um dos principais parceiros e motores económicos de Portugal. Continuamos a ser um dos países da União Europeia onde os medicamentos inovadores demoram mais tempo a estar disponíveis; os fármacos estão a sofrer sucessivas baixas de preços e sem qualquer racionalidade; continuam a existir conflitos de interesses instalados que não parecem querer que sejam resolvidos e que dificultam a actividade das empresas que estão, verdadeiramente, preocupadas e empenhadas em melhorar a qualidade da saúde da população e, simultaneamente, contribuir para a sustentabilidade económica do SNS…

E, tudo isto, num contexto em que os prazos de pagamento dos hospitais ultrapassam 450 dias! Como vê, não faltam razões para as multinacionais “repensarem” manter a representação directa em Portugal. Precisamos de confiança, credibilidade e transparência para poder manter a nossa aposta de parceria com as instituições do SNS.

HR: Como é que os sucessivos cortes no sector da saúde vão afectar a actividade da Baxter?

JV: Não estamos imunes à difícil conjuntura que o mercado Português atravessa. É um momento muito desafiante. Da nossa parte, estamos a tentar responder da forma mais responsável possível e com total enfoque na identificação e promoção de alternativas que possam ajudar a manter sustentável o SNS. Estamos, de facto, a colaborar e a abordar a situação enquanto parceiros do SNS e a oferecer soluções inovadoras e sus-tentáveis que resultem em poupança de recursos para o Estado, nomeadamente, no tratamento de doentes renais, na área da fluidoterapia hospitalar, vacinas, cirurgia, hemofilia e produtos médicos derivados de plasma.

HR: Como preparam a adaptação a esta nova realidade?

JV: Intensificando o nosso enfoque na inovação, produtividade, eficiência e responsabilidade para construir um SNS mais sustentável. Queremos que a Baxter seja identificada, tanto pelos profissionais de saúde como pelo Estado e demais instituições, como o parceiro inovador e mais indicado nas diferentes áreas da saúde em que operamos.

HR: Em Portugal, a empresa está organizada em duas unidades de negócio: Biociência e Produtos Médicos. Quais as perspectivas em termos de lançamentos de produtos e gamas?

JV: Na área de Biociência estamos a trabalhar na melhoria da segurança e da qualidade do tratamento dos doentes que sofrem de Hemofilia, nomeadamente no desenvolvimento de medicamentos recombinantes muito mais seguros e eficazes. Ainda nesta área, disponibilizamos derivados plasmáticos e outros produtos biofarmacêuticos, como vacinas, e contamos fazer importantes lançamentos de produtos este ano, na área da cirurgia plástica e reconstructiva, cirurgia ortopédica e medicina regenerativa.

Na área dos Produtos Médicos, somos a companhia líder nas soluções intravenosas, produtos especializados de fluidoterapia, anestesia inarrável e nutrição parentérica onde, por exemplo, ainda este ano, vamos lançar uma nova solução de nutrição parentérica para crianças. Por último, nas alternativas terapêuticas domiciliárias para doentes de insuficiência renal crónica, Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer e a Baxter está preparada para apoiar, com os seus produtos e serviços, o desenvolvimento sustentável das terapias renais domiciliárias em Portugal nos próximos anos.

HR: Qual a percentagem, em termos de investimento em I&D?

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JV: A Baxter orgulha-se da sua forte aposta em I&D. Acreditamos que, só através do avanço e evolução dos produtos médicos, conseguiremos disponibilizar às pessoas, em todo o mundo, os melhores cuidados de saúde para salvar e manter vidas. Nesta perspectiva, em 2010, os valores aplicados a esta área ascenderam a $915 milhões e, em 2011, atingiram o valor recorde de $946 milhões, o que equivale a cerca de 7% da facturação registada nesse período.

HR: Empregam mais de 49 mil colaboradores — 100 em Portugal. Qual o perfil dos colaboradores?

JV: Em 2011, a Baxter foi considerada uma das melhores empresas para trabalhar em Portugal, pelo Instituto Great Place to Work . Temos uma preocupação vital em promover o bem-estar, a saúde e a segurança dos colaboradores.

Fomos distinguidos, em 2009, por termos atingido um milhão de horas trabalhadas sem qualquer acidente de trabalho e, até ao dia de hoje, continuamos sem ter qualquer acidente de trabalho desde 1999. Além disso, entre outras acções, destacamos a oferta de fruta e programas específicos de exercício físico, em parceria com cadeias de fitness. Por outro lado, estamos completamente comprometidos com a inclusão e a diversidade e, tudo junto, tem como resultado a equipa de colaboradores fantásticos que temos. Na sua maioria têm formação superior, mas mais importante, é a atitude: são uma equipa dinâmica, responsável, curiosa e com grande empenho e criatividade.

HR: No ano passado, registaram-se quantos turnovers?

JV: O turnover da Baxter Portugal é muito baixo, fruto da nossa política interna de RH. As nossas pessoas são apaixonadas pela Baxter e verdadeiramente comprometidas com o projecto. Sem dúvida, a excelência nos processos de selecção tem um papel fundamental nisso. Tentamos recrutar as pessoas certas, com as competências mais indicadas e necessárias, que incluem skills, conhecimento e talento. Provavelmente este último, é o mais dificil de seleccionar, pois não é fácil medir a capacidade de relacionamento, raciocínio e motivação.

HR: “Na Baxter, o departamento de RH é um parceiro empresarial estratégico”, lê-se no site.

O capital intelectual é o nosso activo mais valioso e, sem dúvida, é uma vantagem competitiva. Não seria possível conseguir ter a equipa certa, com os talentos certos, sem a parceria estratégica do nosso departamento de RH. Temos que ser capazes de atrair os melhores, saber seleccionar os que as competências necessárias e, por último, conseguir reter o melhor talento, e sempre motivado! Por isso, para a Baxter, é fundamental cultivar um ambiente saudável, onde as pessoas possam desenvolver-se e progredir.

Face à má situação que o País atravessa e com os desafios que a indústria farmacêutica vive, é premente garantir que os nossos colaboradores são os melhores e estão motivados para conseguir alcançar os objectivos de negócio. Desta forma, o departamento de RH é a peça fundamental para o sucesso da empresa.

HR: Têm uma filosofia muito própria de desenvolvimento de carreira. Quais as ferramentas nesta área?

JV: O desenvolvimento profissional dos colaboradores baseia-se nas expectativas de liderança e na filosofia de desenvolvimento. A nossa filosofia realça a ideia de que a carreira depende, e tem que ser liderada, pelo próprio colaborador, tendo em consideração que o desenvolvimento implica uma responsabilidade partilhada entre o colaborador, a chefia e a Baxter. O desenvolvimento não é um acto único. É um processo contínuo e que precisa de planeamento e tempo. Tem que estar centrado em objectivos importantes, para os colaboradores e para a Baxter, com acções concretas a curto prazo e objectivos profissionais a longo prazo, que têm que ser alcançados através de experiências profissionais, feedback, relações e formação.

HR: Qual a estratégia em termos de gestão de Recursos Humanos?

JV: Para além do desenvolvimento da carreira nas diferentes áreas e posições da companhia, gostaria de destacar a nossa aposta por uma cultura partilhada a nível global, num contexto onde todos os colaboradores partilham e promovem os comportamentos vitais e expectativas de liderança baseadas em competências, atributos pessoais e valores partilhados por toda a equipa Baxter.

HR: Que iniciativas implementam na proximidade entre os colaboradores?

JV: A Baxter procura, ao longo de todo o ano, promover a proximidade entre os colaboradores, quer seja através de ferramentas de comunicação interna, quer através de encontros periódicos e campanhas transversais. Por exemplo, a acção mais recente foi a campanha “Inclusão e Diversidade”, concebida para promover e consciencializar a importância e a riqueza da diversidade.

HR: Quais as tendências globais?

JV: A maior tendência na gestão de RH é, também, o seu maior desafio. Vamos ter que procurar talento, eficiência e desempenho. Deparamo-nos com tempos difíceis e a tendência vai ser atrair e reter os melhores, para maximizar a eficiência operativa. A gestão de RH vai desempenhar um papel rítico para optimizar o capital humano como uma vantagem estratégica, que vai necessitar de um ambiente de trabalho saudável, motivante e recompensador, com budgets mais reduzidos.

HR: De que forma mantém os colaboradores motivados?

JV: Com confiança, transparência, comunicação, compromisso, trabalho em equipa, independência e respeito. Estamos comprometidos com uma estratégia duradoura, que nos permita olhar além dos resultados imediatos, e todos conhecem e identificam-se com a direcção em que queremos avançar. Como não pode ser de outra maneira, tudo tem que ser assente numa cultura, numa forma de fazer as coisas, em comportamentos vitais partilhados e, também, sem esquecer a importância de manter o sentido de humor. Trabalhamos melhor se sentirmos que nos estamos a divertir, sem esquecer, claro, que o que estamos a fazer é muito sério.

HR: Que conselhos gostaria de deixar?

JV: Nunca esquecer que quando falamos de RH estamos a falar de pessoas e que cada uma tem que ser tratada de forma pessoal. Sem dúvida que a equipa certa, com o talento certo, origina a vantagem diferencial.

HR: Como é um dia (a)típico de trabalho?

JV: Quando tenho de viajar, o que acontece com regularidade, opto pelos voos que partem muito cedo. Não gosto de apanhar trânsito, para entrar ou sair de Lisboa, e, por outro lado, aproveito para dormir no avião. Quando vou directo para o escritório, sou dos primeiros a chegar, e, de seguida, gosto de sair para tomar uma meia de leite com as pessoas da equipa. Não lhe chamaria um pequeno-almoço de trabalho, porque é um prazer desfrutar, conhecer e escutar as pessoas e conseguir aprender e perceber de que maneira posso contribuir para facilitar o desempenho da equipa para atingir os nossos objectivos.

O resto do dia passa sempre muito rápido e nunca tenho tempo de executar, nem metade, das excelentes ideias que “apanho” no pequeno-almoço. É por isso que, normalmente, depois da minha família ir dormir, gosto de continuar a trabalhar na tranquilidade da noite. Não costumo deitar-me antes da uma da manhã.

Perfil Javier Valera

Director-geral da Baxter Portugal desde Agosto de 2011. Anteriormente era director Ibérico de Comunicação e Relações Institucionais e director da Divisão Terapias de Transfusão na Baxter, em Espanha, tendo, ainda, sido responsável global por uma operação de integração na mesma empresa.

Tem mais de 20 anos de experiência no sector da Saúde. Antes de ingressar na Baxter foi director de Divisão e director Técnico no Synthes Medical, director de Marketing da Unidade de Cirurgia Ortopédica da Smith & Nephew e director de Formação nos Laboratórios Menarini. Actualmente, é, ainda, professor do programa de Política de Saúde e Relações Institucionais, no IE Business School de Madrid, na área de Tecnologias da Saúde.

É licenciado em Medicina pela Universidade de Barcelona, tem um Executive MBA pelo IE Business School de Madrid e é diplomado em Relações Institucionais e Protocolo pela Universidade de Madrid. É Mestre em Marketing e Direcção Comercial, pelo Clube de Marketing de Barcelona.

Sobre a Baxter

A Baxter é uma multinacional farmacêutica, com mais de 80 anos de história, que se dedica à investigação e desenvolvimento de dispositivos médicos, medicamentos e biotecnologia com o objectivo de proporcionar terapêuticas inovadoras a pessoas que sofrem de hemofilia, insuficiência renal, alterações imunológicas e outras doenças agudas e crónicas.

Em Portugal, está presente há mais de 20 anos, emprega cerca de 100 profissionais e está sedeada em Sintra, onde possui escritórios e um dos maiores armazéns de medicamentos, com uma capacidade de 2.300 paletes e uma área total de 3.101m2.

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